A igreja de Santa Croce, em Firenze

Uma das mais lindas e impressionantes igrejas que conheço é a Basílica franciscana de Santa Croce,  em Firenze. Sua magnífica fachada, em mármore de Carrara, representa um dos maiores expoentes do estilo neogótico italiano. A Santa Croce é famosa não apenas pela sua beleza, mas também porque ali estão os restos mortais de italianos ilustres como Maquiavel, Ghiberti, Michelangelo e Galileo.  Na Basílica, conhecida com o Templo das Glórias Italianas,  estão enterrados  muitos artistas do Renascimento e também  personalidades importantes de áreas como música e literatura.  Atuaram na igreja artistas  extraordinários como Giotto, Benedetto da Maiano, Taddeo Gaddi, Vasari, Donatello e Brunelleschi.

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A fachada neogótica da igreja Santa Croce, na praça homônima

 

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Estátua de Dante Alighieri, pai da língua italiana. Contrariamente como muitos pensam, sua tumba não está na igreja Santa Croce, mas em Ravenna, onde morreu no ano de 1321. No interior da igreja existe um túmulo simbólico dedicado ao poeta

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O monumento a Dante Alighieri foi esculpido por Enrico Pazzi em 1865 e retrata o poeta com uma expressão severa segurando sua obra-prima, a Divina Comédia, em uma das mãos. A obra demorou 14 anos para ficar pronta e a cidade de Ravenna não conseguiu custear a escultura, que foi patrocinada pela cidade de Firenze e por ricos senhores que contribuíram para custear a obra.

A fachada da igreja é obra de Niccolò Matas, inaugurada na segunda metade do século 19

O monumento foi colocado no centro da praça Santa Croce, que foi escolhida pela presença de muitos ilustres italianos sepultados na basílica. A obra foi  oficialmente inaugurada na presença do rei Vittorio Emanuele II, em 1865, por ocasião das comemorações do sexto centenário do nascimento de Dante.  A obra sofreu estragos causados ​​pela inundação de 1966 e a estátua foi restaurada e remontada em 1971  na escadaria da igreja.

 

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Participei de uma visita guiada à igreja  promovida pela Opera de Santa Croce,  com o apoio do jornal The Florentine e do @igers_firenze. O nosso encontro aconteceu neste pátio, de onde pudemos apreciar os arcos da igreja e ver ao fundo a Cappella dei Pazzi. Depois que atravessamos este jardim fomos para o subsolo, numa parte da igreja que geralmente não é  aberta ao público. Passamos por um corredor onde estão diversas sepulturas de italianos que lutaram na II Guerra Mundial.

 

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Em uma das capelas no subsolo com a nossa guia Donatta diante da Pietà, obra de Baccio Bardinelli, que representa Jesus morto (de 1552)

 

Depois que passamos por um corredor secreto e subimos por uma íngrime escada estreita tivemos uma excelente surpresa: fomos agraciados pelas espetaculares obras que adornam  a Cappella Maggiore. Os maravilhosos afrescos são de Agnolo Gaddi do ano de 1380.
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Na Santa Croce existem quase 4 mil obras que vão do século XIII ao século XX. Algumas se encontram em seu contexto original e mantém a função para a qual foi criada

Agnolo Gaddi, Leggenda della Vera Croce ( 1380-1390), na Cappella Maggiore

 

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Riqueza de detalhes nas pinturas e nos vitrais

Construção da igreja –  a construção da igreja começou em 1294 e o projeto foi  atribuído à Arnolfo Di Cambio, mas foi concluída quase um século depois e contou com a ajuda das ricas famílias florentinas que contribuíram com doações em troca de sepulturas na igreja.  Por este motivo é conhecida como  “a igreja de todos os cidadãos florentinos”.

A construção da Basílica de Santa Croce começou em 1294, provavelmente com projeto do grande arquiteto Arnolfo di Cambio. As obras foram concluídas em 1385 e a igreja foi consagrada em 1443

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Existem 16 capelas familiares na igreja, que é considerada a maior igreja franciscana do mundo.  A igreja é repleta de obras que encantam! Em seu interior uma infinidade de afrescos de pintores consagrados como Giotto e Taddeo Gaddi.

As capelas familiares da igreja de Santa Croce. Aqui, à direita  do altar, as duas capelas dos Bardi e Peruzzi, ricos banqueiros e comerciantes florentinos. Os afrescos nas paredes são o testemunho pictórico do maior renovador da arte do século 14: Giotto.

 

A Basílica de Santa Croce foi consagrada em 1443 pelo cardeal Bessarione, na presença do papa Eugênio IV.
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Entre as obras existentes na Basílica, uma das mais importantes é Crucificação de Donatello, datada de 1425

Apesar de ser uma igreja católica, existem túmulos de ateístas.   A primeira personalidade que foi enterrada lá foi Leonardo Bruni, enquanto o último foi Giovanni Gentile, em 1944. Estão sepultados na basílica celebridades como Gioachino  Rossini, compositor , e Leon Battista Alberti, arquiteto que desenhou a fachada da igreja de Santa Maria Novella.

 

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Pulpito de Benedetto da Maiano

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Um dos momentos mais emocionantes do passeio foi poder visitar a Capela Niccolini, que normalmente não é aberta à visitação, e saber que naquele local, exatamente diante daquelas obras surgiu a Síndrome de Stendhal – esta é uma síndrome rara e é causada pela overdose da beleza de determinadas obras de arte, especialmente em espaços fechados. O nome da síndrome deve-se ao francês Stendhal que descreveu da seguinte forma a sua emoção: “absorto na contemplação de tão sublime beleza, atingi o ponto no qual me deparei com sensações celestiais”. Impressionante as pinturas e esculturas que enfeitam o local!
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Pintura do teto da capela Niccolini

Em seus sete séculos de história, a igreja foi enriquecida por doações de famílias ricas da cidade, que em troca obtiveram o privilégio de enterrar os parentes em suas muitas capelas. Hoje, sua herança artística é realmente extraordinária! Incrível imaginar como aquele ambiente abriga tanta arte e história,  além de segredos, mistérios e acontecimentos importantes para a humanidade também foram enterrados junto às numerosas sepulturas de artistas, cientistas e escritores. Em Santa Croce estão sepultados Maquiavel, Michelangelo, Rossini e Galileu Galilei. A Basílica  reúne o maior número de túmulos de  artistas renascentistas do que qualquer outra igreja na Itália.

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As lindas sepulturas da igreja. A presença de monumentos fúnebres de pessoas famosas, incluindo alguns cientistas, faz de Santa Croce o “panteão dos italianos”

 

Túmulo de Michelangelo Buonarroti, que morreu em Roma no ano de 1564 e foi trazido escondido pelo seu sobrinho Lionardo para Firenze

 

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Era comum construir túmulos decorados. Aqui o monumento em homenagem à Galileo Galilei

 

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Tumba do fiorentino Dante Alighieri (1265- 1321) , pai da língua italiana. A igreja também foi concebida para acomodar um imponente monumento à Dante, mas o seu corpo foi enterrado em Ravenna

 

Tumba monumental de Nicolau Maquiavel, que morreu em Florença em 21 de junho de 1527. A sepultura foi realizada na segunda metade do século 18

 

Obra de Donatello Annunciazione Cavalcanti  (1433-1435). Esta é uma das raras obras do artista colocada em sua posição original

 

Mas o principal motivo do nosso passeio era visitar a Cappella dei Pazzi,  que fica do lado direito da basílica, e é uma das obras primas renascentistas assinadas por Brunelleschi. A sua construção foi ordenada em torno de 1429 por Andrea de’ Pazzi, membro da rica família de banqueiros, mas as obras só começaram em torno de 1441, sendo completada na década de 1460. Atualmente o claustro faz parte do museu de Santa Croce. A campanha lançada para arrecadação de fundos para o restauro é através da plataforma de crowdfunding Kickstartrer.

 

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A guia Alexandra Korey explica sobre a Cappella dei Pazzi, obra da arquitetura renascentista, que apresenta perfeita geometria

No interior da Capela dos Pazzi obras em terracota vitrificada, realizadas por Luca e Andrea Della Robbia no século 15.

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O claustro da Cappella dei Pazzi que necessita de restauro. O material da capela foi feito em pietra serena (arenito) que se deteriora com o passar dos anos

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Entrada da capela. Uma das questões levantadas por especialistas em arte é que a fachada possivelmente é de outro artista, e não de Brunelleschi, pois apresenta um  estilo bem diferente do dele

Cenáculo 

No complexo de Santa Croce, próximo à Cappella dei Pazzi, fica o refeitório do convento com maravilhosas obras, como a Última Ceia, realizada por Giorgio Vasari e “Albero della Vita, Ultima cena e storie sacre”, realizada Taddeo Gaddi,  por volta de 1355.

 

Albero della Vita, Ultima cena e storie sacre, de Taddeo Gaddi,  estudante de Giotto

Abaixo, obra de Vasari que foi encomendada por Eleonora di Toledo para o convento delle Murate. Posteriormente a pintura foi transferida para o complexo de Santa Croce mas sofreu danos com a enchente de 1966, tendo ficado 12 horas  debaixo d’água. Apenas em 2006 decidiu-se de restaurar a obra, que ficou pronta em 2016.

A  Última Ceia,  obra de Vasari, realizada em 1546, mede  2,62 por 5,80 cm

O antigo dormitório dos frades franciscanos atualmente deu lugar à Escola de Couro onde os visitantes podem ver os artesãos criando objetos em couro como carteiras e bolsas, que são vendidos na loja em anexo.
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O pátio da Scuola del cuoio (escola de couro), com entrada pela rua San Giuseppe

 

Igreja de Santa Croce – Piazza Santa Croce, Firenze
A igreja de Santa Croce fica aberta de segunda à sábado,  das 9:30 às 17:30 e aos domingos  das 14 às 17:00 (sugiro confirmar no site os horários devido às festividades e feriados).Valor do ingresso 6 euros.

 

 



About

A minha paixão pela comunicação e pelo turismo é herança dos meus pais. Adoro viajar para observar e vivenciar as diversidades culturais. Depois que me formei em Jornalismo, passei longa temporada em Londres, um curto período nos Estados Unidos e atualmente vivo em Florença, com meu marido e nossos dois filhos. Desde 2005 sou retail na Ermenegildo Zegna. Busco sempre ver o lado positivo em todas as coisas e prefiro ter por perto aqueles que, como eu, dão mais valor às pessoas do que às coisas materiais.


'A igreja de Santa Croce, em Firenze' have 10 comments

  1. 15 de maio de 2015 @ 19:12 Nara Maria Galesi

    Adorei as fotos, os textos! Excelente! Parabéns Denya Pandolfi e a todos do Grazie a Te.

    Reply

    • 18 de maio de 2015 @ 18:05 Denya Pandolfi

      Oi Nara, Muito obrigada! Felizes com o seu recadinho… Beijo com carinho, Denya

      Reply

  2. 1 de setembro de 2016 @ 11:41 Grazie a te / O que visitar em 2 dias em Firenze

    […] Foi consagrada em 1442 e muitas das suas capelas foram decoradas com afrescos de Giotto.  Clique aqui para mais informações. 11-  Igreja de Santo Spirito A igreja agostiniana que foi fundada em […]

    Reply

  3. 26 de setembro de 2018 @ 09:02 promover23@uol.com.br

    Grazieate veja como podemos aumentar as vendas do seu site: htps://www.promovebox.com

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  4. 11 de outubro de 2018 @ 18:11 Grazie a te / O que fazer em Firenze num dia de chuva?

    […] Santa Croce – esta igreja representa um dos maiores exemplos do estilo gótico italiano. A igreja conserva os túmulos de italianos ilustres como  Galileo, Maquiavel e  Michelangelo. […]

    Reply

  5. 20 de novembro de 2018 @ 23:04 Grazie a te / Dicas sobre o que visitar em Ravena, na Emília Romanha

    […] no ano de 1321.  Dante ganhou um túmulo  simbólico construído em 1829, que encontra-se na Basílica de Santa Croce, em […]

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  6. 28 de novembro de 2018 @ 09:18 Grazie a te / O artista Michelangelo, suas obras, segredos e curiosidades

    […] morreu em Roma em 18 de fevereiro de 1564, prestes a completar 89 anos. Sua tomba encontra-se na Basílica de Santa Croce e foi realizada por Giorgio […]

    Reply

  7. 30 de maio de 2020 @ 20:36 Grazie a te / A Síndrome de Stendhal provoca transtornos psíquicos diante das obras

    […] professor francês Stendhal, que descreveu em seu diário as sensações perturbadoras ao visitar a Basílica de Santa Croce. Detentora de tesouros arquitetônicos e artísticos, Firenze  é a cidade onde a síndrome se […]

    Reply

  8. 9 de agosto de 2020 @ 14:10 Grazie a te / Escola do Couro de Firenze: arte e tradiçao em Santa Croce

    […] à artesanalidade na cidade é   Escola do Couro de Firenze , que funciona no complexo da Basílica de Santa Croce, num antigo dormitório projetado por Michelozzo.  Firenze  carrega um considerável  legado na […]

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  9. 14 de dezembro de 2020 @ 09:55 Grazie a te / O Calcio Storico Fiorentino, antiga paixão dos florentinos

    […] final do campeonato, que tem apenas três partidas, acontece na Piazza de Santa Croce sempre no dia 24 de junho, dia do padroeiro da cidade, San Giovanni, ou seja, São […]

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