Maternidade na Itália

Existem alguns aspectos bem diferentes em relação à maternidade na Itália e no Brasil. Partindo do pressuposto que o sistema público de saúde daqui funcione de forma mais eficaz (apenas de ter piorado nos últimos anos mas não vou entrar nessa questão),  as mulheres podem desfrutar de serviços gratuitos para todos os exames e para o parto,   que provavelmente será realizado por um obstetra e não pelos ginecologistas que te acompanham a gestante durante a gravidez. Outro fator importante a ser considerado é que a cirurgia cesariana aqui não é realizada por opção da mãe, mas apenas quando é identificado algum problema ou complicação que resulte risco para a gestante ou para o bebê. Dando sequência às entrevistas sobre a vida aqui na Itália,  neste post vocês poderão conferir o depoimento de 3 brasileiras que relatam suas experiências sobre a maternidade:

 

viver na italia

Antes das entrevistas, alguns esclarecimentos gerais sobre a licença maternidade obrigatória e facultativa:

Licença maternidade obrigatória –  é o período em que a mãe pode se ausentar do trabalho, seja antes ou depois do parto. Aqui na Itália a licença obrigatória é de 5 meses (2 meses antes da data prevista do parto e 3 meses depois  ou então 1 mês antes e 4 depois). O mesmo também em caso de adoção.  A retribuição é de 80% do salário.

Maternidade antecipada por trabalho de risco (Maternità anticipata per lavoro a rischio) – A gestante pode solicitar afastamento antecipado do trabalho por complicações da gravidez ou por risco, dependendo da função que desenvolve (quem trabalha em pé,  precisa fazer escadas ou tem contato com produtos químicos, por exemplo).  Nesses casos o empregador  dispensa a gestante. A  retribuição  é de 80% do salário.

Licença maternidade facultativa – conhecida como congedo parentale (ex facoltativo),  pode ser solicitada pela mãe e também pelo pai, inclusive contemporaneamente, por um período de até 10 meses de abstenção do trabalho, até o 8 º ano da criança. A retribuição do congedo parentale é de 30% do salário,  até o 6º ano de vida da criança, sendo que esse período pode ser fracionado, portanto, não é necessário usufruir da licença de uma só vez. Este período pode ser dividido em meses, semanas, dias ou horas. Do 6º até o 8 º ano de vida da criança a maternidade facultativa pode ser solicitada mas não é remunerada.  Importante explicitar que aria de acordo com a categoria e tipo de contrato e remuneração.

Aleitamento – As mães têm o direto a serem dispensadas 1 hora mais cedo,  até o 1º ano de vida da criança.  As mães podem optar por acumular e usufruir essas horas da maneira que preferirem.

Para quem tem contrato a tempo determinado – gestantes com contrato de trabalho a tempo determinado gozam dos mesmos direitos, compatíveis com a duração do contrato. Para mais informações, clique aqui.

Para mais esclarecimentos sobre maternidade e direitos das gestantes, consulte o site do INPS  (que seria o nosso INSS).

 

Mariana

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Mariana Marchioni , que mora em Milão, após o nascimento do filho Angelo, há 2 anos, que nasceu de parto natural

 

1-   Onde o Angelo nasceu? Foi parto natural ou cesárea? Hospital público ou particular?

Nasceu em Milão, de parto natural, no hospital público Vittorio Buzzi.

2-   Principais diferenças entre gravidez aqui e no Brasil.

Eu não tive bebê no Brasil para comparar, mas olhando um pouco para as pessoas do meu círculo uma das principais diferenças é a melhor qualidade do serviço público, tanto que conversando com meus colegas de trabalho na Itália tive segurança em optar por ele. Em Milão os melhores hospitais são justamente públicos.

3-  Quantos e quais exames fez? Fez tudo pelo sistema público?

O sistema público cobre um “pacote” de exames na gravidez e no caso de fazer alguma coisa extra pode ser necessário pagar o que eles chamam de “ticket” que tem valores relativamente baixos. Fiz todos os exames do “pacote”, não me lembro exatamente, mas basicamente eram exames bimestrais de urina e sangue, 3 ultrassons sendo que eu fiz 4 a pedido do médico, curva glicêmica, exame para verificar infecção urinaria para o parto. Fiz ainda um exame para verificar a possibilidade de algumas doenças genéticas que foi feito pelo serviço público, mas considerado opcional a pagamento. Outro exame considerado opcional que eu resolvi não fazer foi o ultrassom em 3D.

4-  Desfrutou da licença maternidade obrigatória ou facultativa?

Eu estou cursando um programa de doutorado e a licença maternidade era obrigatória podendo fazer de 5 meses a 1 ano, sendo que eu optei por 6 meses. No meu caso a bolsa de estudo me pagava 4 meses de licença maternidade.

5-   Como considera, de forma geral, a maternidade aqui na Itália?

Apesar de ouvir muitas reclamações principalmente na questão da mulher e a licença maternidade eu sinto que no geral temos uma situação satisfatória principalmente pelo serviço médico público e um maior acompanhamento na amamentação e dos primeiros meses do bebê. Aqui existem vários centros da família onde podia justamente obter informações nesses pontos. Existem também alguns tipos de ajuda financeiras para a mãe e o bebê recém-nascido (bônus bebê, bônus mamma) ainda que eu não usei.

6-    Algumas curiosidades em relação à maternidade na Itália.

Algumas diferenças do que eu considerava “normal” da minha experiência no Brasil no início me deixaram ansiosa, mas eventualmente não foram um problema. Alguns exemplos:  o médico obstetra que me seguiu durante a gravidez não seria o mesmo durante o parto, inicialmente fiquei aflita talvez porque tinha esta imagem do médico-psicólogo-amigo. Aqui funcionou assim, o médico obstetra anota todas as informações detalhadas da consulta e eventualmente quando você vai para o hospital você leva todas essas informações e assim o médico de plantão no momento tem o que ele precisa para o parto. Existe até a possibilidade de ter o mesmo medico, mas nesse caso era a pagamento e ao longo do percurso eu acabei sentindo que não era necessário, até porque não conhecia um médico. O quarto no hospital público é normalmente para duas pessoas e eu confesso que logo que fiquei grávida eu imaginava aquela cena do quarto super decorado com toda a minha família e que isso me deixou meio triste… cheguei a ver a possibilidade do quarto single, mas no hospital que eu escolhi era complicado e eventualmente me pareceu bobagem mudar para um hospital particular, com menos recursos médicos, por este motivo. No fim, a mãe que dividiu o quarto comigo se tornou uma das minhas melhores amigas! Os horários de visita são bem restritos, no meu caso era 1 hora por dia e no máximo duas pessoas. Foi outra coisa que no início me deixou aflita, mas depois percebi que no meu caso foi melhor assim. Aqueles dias logo depois do parto serviram para descansar, iniciar a amamentação e o contato com o bebe recém-nascido e acho que foi a melhor coisa aproveitar aquele tempo para isso.

7-      Contou com a ajuda de alguém após o parto? Conte sobre a questão de ter filhos longe da família e amigos.

Sem dúvida não é fácil! Eu não quis contratar baba e não temos família por perto e o início foi muito cansativo! Aliás, ainda é! Uma coisa que me ajudou muito foi justamente um desses centro família que comentei, se trata de um espaço onde eu ia uma ou duas vezes por semana para a consultoria de amamentação e massagem para bebes e servia principalmente para trocar informações com outras mães e com as psicólogas e obstetras.

8-      Como considera a licença maternidade na Itália?

No meu caso de estudante de doutorado ressalto o fato que a minha bolsa permitia um período de pagamento na licença maternidade porem existem bolsas que não contemplam pagamento de licença maternidade. Dessa forma, em certos casos a mulher precisa pedir o período de afastamento do programa de doutorado, mas não obterá pagamento neste mesmo período e isto tem sido fonte de muitas discussões aqui.

 

Rejane

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Rejane Terzani mora em Firenze e tem uma filha de 10 anos, que nasceu de parto natural

1-  Você fez parto natural ou cesària?

Natural.

2 -Hospital público ou particular?

Público.

3- Principais diferenças entre gravidez aqui e no Brasil.

Aqui quem acompanha o parto é um obsteta e muitas vezes não é a sua ginecologista.

4- Quantos e quais exames fez? Fez tudo pelo sistema pùblico?

Ecografia tridimensional fiz participar mas o restante dos exames, inclusive as ecografias e exames de sangue de rotina mensal, foram todos pelo sistema público.

5- Você trabalhava na época? Usou licença maternidade obrigatório ou facultativa?

Não trabalhava quando engravidei.

6- Como considera , de forma geral, a maternidade aqui na Itália?

Benefícios e direitos, muito melhores que no Brasil. Mas quando falamos dos métodos de cirurgia, acho muito arcaico comparando com o Brasil.
7-  Algumas curiosidades e diferenças entre Brasil e Itália em relação à maternidade.
Minha filha poderia ter nascido com uma césaria, pela dimensão da criança. Mas percebo que aqui são muito resistentes à césaria… No meu caso a médica obstetra acompanhou e seguiu até o final. Foi feita uma episiotomia  porque minha filha era muito grande, nasceu  com 4.210kg. Onde ocorreu muito sofrimento da minha parte a causa do corte profundo.

Luciana 

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Luciana, mãe de Sofia, de 6 anos e Francesco, de quase 3, é esteticista e durante as 2 gestações trabalhava com contrato a tempo indeterminado. Atualmente é sócia da empresa

1- Seus filhos nasceram de parto natural? Em qual hospital?

Os 2 nasceram em Florença, de parto natural, no hospital público Centro Nascita Margherita de Careggi

2 –  Fez os exames através do sistema público de saúde ou particular?

Nos 2 casos eu fiz todos exames e algumas visitas pelo sistema público, mas a ginecologista que me seguia durante a gravidez foi particular, pelo simples fato que eu confiava muito nela e não quis trocar nesse momento tão especial

3- Você usufruiu também da maternidade facultativa (congedo parentale)?

Usei tudo o que eu tinha direito! A licença foi primeiro obrigatória, que é de 5 meses, e depois a facultativa, por outros 6 meses, nas 2 gravidezes.  Na primeira gravidez trabalhei até o oitavo mês. A licença obrigatória da primeira gestação usei um mês antes do nascimento e 4 meses depois, optei dessa forma pois a gravidez foi perfeita, estava indo tudo muito bem. Já na segunda gestação  fiz como a norma aqui na Itália, até o sétimo mês, que é de 2 meses antes e 3 depois, pois eu já estava cansada. Já a facultativa usei tudo pelas duas gestações e até peguei também a licença sem ser remunerada por um período… Pois quando acaba a facultativa na Itália tem a possibilidade de pegar um período sem ser remunerada (aspettativa), assim voltei ao trabalho quando as crianças já tinham 13 meses.

4- Considerou solicitar a maternidade antecipada?

O meu trabalho na verdade não tem riscos, o importante é não exagerar!

5- Como você considera a maternidade aqui na Itália?

Pela experiência positiva que tive,  considero excelente.

6- Principais diferenças  ou curiosidades sobre a gestação aqui.

Inicialmente achei muito estranho o fato que a ginecologista não sempre é a mesma na hora do parto, quem me assistiu foram as obstetras.  Além da assistência na hora do parto, fui seguida também depois do parto, com a primeira gravidez,  a amamentação e a parte psicológica também fui muito seguida, tive duas ou três visita em casa de uma obstetra do meu território, além de vim controlar os pontos (que foram somente dois) para ver como eu estava, se me sentia sozinha, se precisava de algo, as vezes até somente para conversar, enfim ótima.

7- Como conseguiu se organizar para retornar ao trabalho?

Na volta ao trabalho tive que me organizar com berçário, creches (pública e particular) e baby-sitter

 

Para mais informações sobre maternidade e direitos das gestantes, consulte o site do INPS  (que seria o nosso INSS).

 

As outras entrevistas com  brasileiros que compartilham suas experiências:

Trabalhar na Itália

Namoro à distância

20 atrações grátis em Firenze

Dicas de Firenze

A Igreja de Santa Croce

Nonos da Itália 

 



About

A minha paixão pela comunicação e pelo turismo é herança dos meus pais. Adoro viajar para observar e vivenciar as diversidades culturais. Depois que me formei em Jornalismo, passei longa temporada em Londres, um curto período nos Estados Unidos e atualmente vivo em Florença, com meu marido e nossos dois filhos. Desde 2005 sou retail na Ermenegildo Zegna. Busco sempre ver o lado positivo em todas as coisas e prefiro ter por perto aqueles que, como eu, dão mais valor às pessoas do que às coisas materiais.


'Maternidade na Itália' have 3 comments

  1. 21 de junho de 2017 @ 12:42 Grazie a te / Brasileiros relatam suas experiências sobre como empreender na Itália

    […] Maternidade na Itália […]

    Reply

  2. 6 de maio de 2019 @ 03:15 Paula Nogueira Gonçalves

    Boa noite eu e meu esposo seremos país país de primeira viagem!

    Reply

    • 13 de maio de 2019 @ 13:06 Denya Pandolfi

      Oi Paula,
      parabéns e muitas felicidades pra vcs! Vcs moram em qual cidade?
      abraços, Denya

      Reply


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