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Hábitos alimentares dos italianos

Acredito que diante de todo aquele ritual de comilança na hora das refeições aqui na Itália com antepasto, primo piattosecondo piatto,  contorno (acompanhamentos), sobremesa e café – ufa- você também deve se perguntar se é assim todos os dias.  Costumava ser.  É que os os costumes dos italianos estão mudando e no ritmo frenético do dia-a-dia as pessoas acabam não podendo dedicar tanto tempo às refeições. Ao menos durante a semana.  Vou explicar sobre os hábitos alimentares dos italianos de forma genérica e abordar principalmente os costumes gastronômicos aqui da Toscana, região onde vivo.   Mas sim, claro que muita gente pode e faz questão de saborear cada portata (como é chamado aqui cada um dos pratos) todos os dias da semana, e não apenas nos almoços de domingo em família ou em ocasiões especiais e nos restaurantes.

 

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Tem turista que acha que nos restaurantes eles ficam chateados se você não pedir todos os pratos. Não é bem assim. Escolha apenas o que realmente você quiser comer (eles provavelmente vão cobrar o couvert de qualquer jeito, que custa de 1 a 3 euros). Pode ser que você queira um prato de massa (primo) enquanto a pessoa que está contigo prefira um prato com carne (secondo piatto). Informe ao garçom para trazer os pedidos contemporaneamente

 

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Não seria exagero dizer que tudo na Itália gira em torno de comida.  E de comida boa, de qualidade. A cozinha italiana é simples e baseada em pratos preparados com produtos frescos, da estação. E é por este motivo que não encontramos os mesmos pratos o ano inteiro, a cozinha é sazonal.  E nem sempre encontramos os mesmos pratos em todas as regiões do país, pois a culinária italiana é conhecida pela sua diversidade regional. Cada território prepara seus pratos em base à matéria-prima que tem. O uso de manteiga e gorduras é bastante restrito e é grande o consumo do azeite de oliva. E este é um dos segredos da boa forma. Escrevi um post explicando porque os italianos não engordam. Não deixe de conferir! 😉

 

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Existe uma grande variedade de aromas nas receitas, graças aos temperos bastante utilizados, como manjericão, sálvia e alecrim. A simplicidade no preparo dos alimentos é uma das características da gastronomia italiana

Todos querem e fazem questão de comer bem. E é vero, aqui só se fala em comida! Nas filas dos supermercados as pessoas comentam e trocam receitas, no trabalho, nos eventos, nos mercadinhos de rua e entre desconhecidos que engatam uma conversa (se não estão comentando sobre o tempo, pode saber que o papo é comida!).  Quando se escolhe um local para sair à noite pouco importa se o local é bonitinho, badalado ou da moda; tem que ser um lugar onde se “mangia bene”. O local de uma festa de casamento não é escolhido baseado na paisagem ou na elegância do lugar, mas é o buffet que vai pesar mais na hora da decisão (não apenas farto, mas com produtos de qualidade).

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Na minha casa adaptamos alguns costumes da tradição italiana à brasileira e na maioria das vezes costumo fazer um prato único, coisa que aqui não acontece, pois os italianos não gostam de misturar os sabores.  Adotei o prato único desde que meu filho começou a fazer as refeições junto com a gente. E foi por questão de praticidade.  Ou vocês acham que é fácil manter uma criança de 1 ano sentada à mesa por uma hora esperando todo o ritual e troca de pratos? Costumamos comer o antepasto e depois o prato principal, que pode ser uma massa com carne ou peixe e verduras. Acho bem mais prático preparar refeições aqui do que no Brasil.  A facilidade é grande de encontrar molhos semi-prontos e de ótima qualidade seja em bodegas que nos supermercados.

 

As refeições 

Vou agora falar sobre as principais refeições, que são basicamente 5: café-da-manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.

Eu considero o café-da-manha, ou colazione, daqui escasso comparado ao nosso.  Aqui é um hábito que o desjejum seja no bar onde as pessoas geralmente optam por um café com brioche (veja mais detalhes aqui).  Em casa,  as famílias costumam consumir pão com geleia, biscoitos, café com leite ou cereais e leite.  Eu costumo variar e de vez em quando faço misto-quente com pão toscano.  No meio do dia, por volta das 10, 11 horas, comem fruta ou yogurt.

O típico almoço italiano, considerado a refeição principal do dia, tem vários pratos e começa com o antepasto, pães, presuntos, queijos, embutidos, depois o primo piatto, que pode ser uma massa (por exemplo fusilli, penne, farfalle, strozzapreti, fettucine, ravioli, spaghetti, gnochi e orecchiette;  cada massa tem seu molho específico), risotto ou sopa, o secondo piatto de carne ou peixe (ou também à base de ovo) e acompanhados pelo contorno, preparados com verduras e legumes.  A salada vem no final da refeição (e não no início como acontece no Brasil). E sempre o pão acompanha as refeições (que quando sobra, a gente faz a scarpetta, conhece?).

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Quem trabalha e não vai em casa na hora do almoço geralmente escolhe um bar perto do local de trabalho e opta ou por uma massa ou carne. Um prato de massa como este custa entre 5 e 7 euros. E quando não tomam vinho bebem água, quase nunca refrigerante

Mas como mencionei, com o ritmo de vida mais agitado, na pausa pranzo (pausa de almoço de quem trabalha), muitos mudaram seus hábitos alimentares e passaram a reduzir a quantidade de pratos optando ou pelo primo ou pelo secondo. E sem contar que alguns substituem o almoço por um panino. Todo o tradicional ritual fica reservado para o almoço em família de domingo. O italiano adora e não abre mão de comer com tranquilidade e saborear os alimentos pelo menos nos finais de semana, afinal, é importante confraternizar reunindo os amigos e a família em torno da boa mesa. O lanche da tarde aqui é chamado de merenda e costumamos comer frutas, yogurt, suco, pão ou biscoitos.

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Este é um exemplo de secondo piatto (tagliata, que é a bistecca cortada em fatias) com carciofi (acompanhamento) , e salada, que nesse caso era apenas para enfeitar o prato. Reparem que a porção não é grande

 

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Uma tacinha de vinho para acompanhar as refeições, quando não apenas água. Quase nunca as pessoas pedem suco ou refrigerante

À noite, por volta das 20 horas, geralmente é o horário do jantar (ah, e nem pense em propor um lanche para substituí-lo!).  E aquilo que é preparado no jantar depende do que a pessoa comeu no almoço. E quem pode e gosta, repete todo o ritual do almoço, com diversos pratos. Os mais idosos não abrem mão de jeito nenhum desse modo de comer.  Já as famílias com crianças e os mais jovens costumam optar por uma substanciosa salada com algum tipo de carne (costumam fazer bastante grelhada) ou sopa, nos meses mais frios. No verão prevalecem pratos mais leves e práticos, como presunto e melão, saladas, queijos e presuntos.  E com essa onda de fazer aperitivo (saiba mais aqui), a gente percebe algumas mudanças de hábito na ultima refeiçao do dia, pois depois de participar de um happy-hour com buffet farto muitos acabam nem jantando.

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As frutas da estação são consumidas não apenas na hora do lanche mas também após as refeições como alternativa para o doce na hora da sobremesa

 

 

 

 

 

Comida saudável

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Muito se fala sobre comida saudável, dieta e bem-estar. Mas nem todo mundo associa o ato de se alimentar às nossas emoções. E é claro que quase nunca pensamos nisso, apenas comemos porque o nosso corpo necessita de combustível. O blog Grazie a te (olhem que prestígio, hein?) esteve entre os 20 jornalistas e bloggers convidados a participar do evento Di che cibo 6?, um projeto apresentado pela psicóloga Nicoletta Arbusti que comprova a máxima de que somos o que comemos.
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O prestigioso hotel The Westin Excelsior de Firenze onde foi apresentado o projeto Di che cibo 6? , que traduzido para o português seria “De que comida você é?”

Para realizar os estudos Nicoletta contou com a participação de profissionais de diversas áreas que apresentaram a sua relação com a comida e com a alimentação sob a ótica da psicologia, medicina integrada, educação e sociedade. 

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Aqui a psicóloga Nicoletta Arbusti no início da apresentação do projeto, explicou que até mesmo a cor dos talheres pode influenciar na percepção do sabor durante as refeições

Durante a apresentação da parte teórica, a pedagoga Silvia Guetta, professora da universidade de Firenze, falou sobre o imprescindível papel da alimentação em nossas vidas. Ela destacou que começamos a criar uma relação com gostos e sabores desde quando estamos no útero e que a comida é basicamente um reflexo de educação, relacionamento, religião e cultura.

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A nossa relação com a comida e com a forma em que nos alimentamos é uma experiência multisensorial que vem sendo mapeada desde que estamos no útero de nossas mães, destacou a pedagoga Silvia

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A neurologista Roberta Chiaramonti e a chef Entiana apresentaram o resultado de diversos experimentos que fizeram na cozinha com uma grande variedade de pratos e ingredientes onde analisaram os alimentos crus e cozidos de diferentes formas com vários temperos e acompanhamentos.onde foi medido o rH – que significa energia vital ou capacidade antioxidante , conceito desenvolvido pelo médico israelita Nader Butto, que atuou em Torino e teve como aluna a doutora Roberta. O valor de cut-off do rH é de 22, portanto, um número inferior a este valor indica alto poder antioxidante.

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Aqui a doutora Roberta apresenta alguns pratos que foram analizados. É possível integrar a atual forma de avaliação do potencial nutricional da comida (kcal) medindo também a capacidade antioxidante (rH)

Durante esta semana procurei a chef Entiana em busca de alguns conselhos sobre a alimentação para os nossos leitores e a sua resposta foi muito simples e sincera:”Precisamos voltar um pouco no tempo e adotar alguns costumes de família que a sociedade atualmente teme e proíbe.Precisamos confiar em nossa intuição. Muitos tipos de comida que são cortadas do nosso dia a dia não fazem mal à saúde, pelo contrário, precisamos de algumas delas”. Segundo Entiana, basta comer a quantidade certa, pois tudo é uma questão de equilíbrio. E sabe aquela neurose quando estamos diante de uma pizza e dizemos que não podemos? Segundo ela está é atitude errada, pois nosso cérebro elabora tudo e a gente transmite esses dados para o nosso corpo de forma errada. “Hoje tem muito tabu envolvendo a alimentação. Algumas coisas vistas como vilãs nem são nocivas, mas muito pelo contrário, são importantes para o nosso corpo”.
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A escolha dos vinhos ficou a cargo do sommerliere do Marino Sartorato que escolheu o vinho tinto Schioppettino Di Cialla, ano 2009, e como branco o Poggio della Costa 2013 Sergio Mottura

 

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A top chef Entiana Osmenzeza explanava sobre os alimentos avaliados. Entiana è chef do restaurante Se.sto, que funciona no terraço do luxuoso hotel Excelsior

Muitas vezes um alimento não apresenta um bom rH mas misturado com outros ingredientes pode ser satisfatório. Um dos exemplos citados é o refogado de abobrinha. É muito mais saudável acrescentar no final sal, azeite extra-virgem e alho cru.
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Três pratos que fizeram parte do experimento, com excelente valor  antioxidante,  foram servidos aos convidados.
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Os profissionais envolvidos no projeto. O sommerliere do restaurante do hotel Marino Sartorato, a médica neurologista Roberta Chiaramonti , a chef Entiana com Silvia e Nicoletta

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Bebendo, comendo e postando nas redes sociais

Aqui foi servido o primeiro prato: sopa de Daikon com gengibre e cenoura e carne de porco, delícia!

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Entiana percebeu que acrescentando gelo seco ao final da preparação conseguia um rH favorável . Por este motivo, a fumacinha na cumbuca de sopa

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Outro prato servido foi Peixe ombrina com molho de tomate, beringela e agridoce

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E esta sobremesa à base de manga servida no gelo??? Dá água na boca só de lembrar

Esta foi uma experiência rica e muito interessante que nos ajudou a compreender a nossa relação com a comida e com a forma que nos alimentamos. E se a gente voltasse um pouco no tempo e se permitisse comer com mais liberdade e menos culpa?