Por que tem tanta obra de arte em Firenze?

Florença é conhecida em todo o mundo como uma cidade de arte e cultura com um rico patrimônio histórico,  artístico e arquitetônico.  Berço do   Renascimento, a cidade revelou grandes gênios e artistas e recebe anualmente milhões de pessoas que podem admirar suas maravilhosas pinturas, esculturas, tapeçarias e porcelanas. E é graças à Anna Maria Luisa de’ Medici, a Elettrice Palatina, que encontramos todas essas obras e monumentos na cidade. Percebendo que o patrimônio da família poderia ser saqueado ou disperso, já que a questão da sucessão da Toscana não estava decidida, Anna Maria Luisa solicitou um inventário com uma relação de todas as obras da família e decretou que todo os bens da família fossem conservados em Firenze. E em 31 de outubro de 1737 ela elaborou um ato legal conhecido como Pacto Familiar. Explico tudo pra vocês neste post:
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Anna Luisa Maria de’ Medici estabeleceu o Pacto Familiar para tutelar as obras de arte: com o acordo, as obras deveriam permanecer em Firenze (pintura realizada por Antonio Franchi,  exposta no Palazzo Pitti)

 

O Pacto de Família, exposto no Museu dos Medicis de Florença

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Florença é a cidade onde o movimento artístico chamado Renascimento consolidou-se no  século 15.  Por esse motivo, a cidade é considerada o berço mundial da arte e da arquitetura

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O Pacto Familiar trazia uma relação de todos os bens da família, como pinturas, estátuas,  joias e livros que passaram a pertencer à cidade de Firenze

A árvore genealógica da família Medici

A família Medici – De forma resumida, vou falar um pouco sobre os Medici, célebre família que governou Firenze entre 1413 e 1743, com alguns momentos de interrupção do poder. A família Medici,  originária do Mugello (norte de Firenze), foi mecenas das artes não apenas em Firenze mas em toda a Toscana e conseguiu construir uma dinastia mesmo não havendo origens nobres. Entre os séculos 13 e 14, alguns membros da família começaram a prosperar com a  fabricação de lã. Os Medici começaram a se revelar  protagonistas ativos da vida pública e econômica florentina: no século 14 já tinham 2 gonfalonieres da Justiça, que era o mais alto cargo da Republica Fiorentina e participavam ativamente da oligarquia que dominava a cidade. A família conquistou cargos altos na sociedade, como políticos, papas e  rainhas.  O esplendor florentino deu-se com  Lorenzo  “O Magnífico”,  em  meados do século  15. Por volta do ano de 1700 a dinastia estava se extinguindo pois os últimos herdeiros eram Ferdinando e João Gastão (Gian Gastone), que foi o último grão-duque da dinastia dos Medici, e Anna Maria Luisa, que também não deixou herdeiros.

O legado da família, que fomentou e inspirou o Renascimento, começou nos anos 1400 e durou mais de 3 séculos. Os  Medici eram comerciantes de tecidos e  banqueiros que fizeram fortuna e expandiram seu poder e influência não apenas em Firenze mas também na Itália e em outros países da Europa.

 

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Se hoje Firenze é uma das maiores capitais da arte do mundo é graças à Anna Maria Luisa de’ Medici, que salvou o patrimônio artístico de Florença

 

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Arte em Firenze – Com o testamento, Anna Maria garantiu que todo o vasto patrimônio que pertencia à família fosse mantido e preservado na cidade

A vida de Anna Maria Luisa –   Filha de  Cosimo III, grão-duque da Toscana, e da francesa Margherite Louise d’Orleans, Anna  Maria Luisa de’ Medici nasceu em 11 de agosto de 1667,  em Firenze. O casamento dos pais foi um dos piores da história da dinastia, e a mãe acabou  retornando à França depois de obter a separação e depois de concordar em se aposentar no mosteiro de São Pedro em Montmatre.  Quando a mãe retornou para a França Anna Maria tinha apenas 9 anos e nunca mais a viu. Anna Maria era uma mulher culta e inteligente e passou a ser criada pela avó paterna Vittoria della Rovere.

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Anna Maria salvaguardou todo o patrimônio artístico após a morte de seu irmão,  ao estabelecer o Pacto da Família, em 31 de outubro de 1737, deixando ao Estado todos os tesouros culturais das coleções da família Medici

Depois de tratativas mal sucedidas de matrimônio (ela não foi aceita pelos reinos da França , Portugal, Savoia e Inglaterra), aos 23 anos Anna casou-se por procuração com o alemão Giovanni Carlo Guglielmo I, príncipe Elettore del Palatinato e obteve o título de Elettrice Palatina.  O casamento oficial aconteceu em Innsbruck. Eles moravam em Dusseldorf e tiveram um casamento feliz, que durou 25 anos, até a morte do marido, que em 1716, morreu de sífilis (e a tornou estéril). Anna Maria retornou para Firenze em 1717 e encontrou uma situação dramática na cidade. Ela viveu no Palazzo Pitti e posteriormente na Villa la Quiete.

Anna Maria chegou a engravidar provavelmente mais de uma vez, mas não conseguiu levar adiante a gravidez. Presume-se que o marido era estéril, pois ele já havia sido casado e não havia filhos

Anna Luisa teve outros  irmãos: Ferdinando, o mais velho, que morreu  aos 50 anos e  o caçula Giangastone, o último grão-duque  da dinastia Medici, que  sofria de depressão, era alcoólatra e homossexual. Em 1723 Giangastone assumiu o trono e ficou até 1737.  Sua morte despertou interesse por parte de potências estrangeiras em querer assumir o controle do território da Toscana.  Nessa época a família estava em declínio e seu pai, Cosimo III,  tentou em vão fazer com que os outros estados europeus reconhecessem  Anna Luisa como herdeira, o que não era possível por se tratar de uma mulher. Já que ela não podia assumir,  o governo  foi entregue à  família Asburgo-Lorena.

Florença possui uma herança artística surpreendente! Suas obras estão espalhadas pelos principais museus da cidade. Esse aqui é o Palazzo Pitti, onde Anna Maria viveu

Mas antes de entregar o poder Anna Luisa resolveu formular um documento, o chamado Patto di Famiglia, evitando que os quadros, esculturas, livros, móveis e jóias fossem saqueados, o que aconteceu em diversas cidades italianas. O pacto com os Lorena foi estabelecido em 1737 “para o ornamento do Estado, para o benefício do público e para atrair a curiosidade dos estrangeiros”.

 

Galleria Palatina, Palazzo Pitti

A arte florentina gera grande interesse por suas obras monumentais e espetaculares, não apenas nos museus, mas também nas ruas e praças da cidade

Anna Maria Luisa passou os últimos anos de sua vida envolvida com a finalização do mausoléu da família, as Capelas dos Medici, para manter viva a glória e a memória da família. Anna Maria morreu no dia 18 de fevereiro de 1743, data que os florentinos relembram com um cortejo histórico e com ingresso gratuito em alguns museus de Firenze.  Seu túmulo encontra-se nas Cappelle Medicee, no complexo da Basílica de San  Lorenzo.

 

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O espetáculo teatral  The Medici Dynasty é em língua inglesa e conta em 1 hora a vida dos últimos descentes da família Medici.

 

O brasão da família Medici, com 6 bolas, que decoram muitos palácios florentinos

Os museus cívicos de Firenze oferecem ingresso gratuito no dia 18 de fevereiro:

  • Palazzo Vecchio  9 – 19 (Torre di Arnolfo das 10 às  17h )
  • Museo Novecento  11-19
  • Santa Maria Novella  9-17.30
  • Cappella Brancacci  10-17.
  • Fondazione Salvatore Romano  10-17
  • Museo Stefano Bardini  11-17
  • Palazzo Medici Riccardi 9-19

Dia 18/2, No Palazzo Pitti,  na Sala del Fiorino, acontece um monólogo (Incontro com l’Elettrice Palatina) promovido pela Muse, às 15, 16 e 17  horas (o ingresso ao museu  não é gratuito) e no Palazzo Medici Riccardi, no dia 22 de fevereiro , às 10h30 e 11h30.

Anna Maria Luisa de’ Medici – promovido pela Muse, o encontro com o personagem é seguido de um debate com o público: oportunidade para entender melhor as características dessa grande personalidade e mergulhar no contexto da Florença do século 18

 

Cortejo histórico começa no Palagio di Parte Guelfa e passa pelas ruas do centro e praças de Florença

 

O cortejo histórico termina nas Capelas dos Medici, onde Anna Maria foi enterrada

E para comemorar o seu aniversário e homenagear Anna Maria Luisa,  no dia 31 de outubro a Galeria Uffizi, o Palazzo Pitti e o Jardim Boboli são abertos gratuitamente.

 



About

A minha paixão pela comunicação e pelo turismo é herança dos meus pais. Adoro viajar para observar e vivenciar as diversidades culturais. Depois que me formei em Jornalismo, passei longa temporada em Londres, um curto período nos Estados Unidos e atualmente vivo em Florença, com meu marido e nossos dois filhos. Desde 2005 sou retail na Ermenegildo Zegna. Busco sempre ver o lado positivo em todas as coisas e prefiro ter por perto aqueles que, como eu, dão mais valor às pessoas do que às coisas materiais.


'Por que tem tanta obra de arte em Firenze?' have 7 comments

  1. 18 de fevereiro de 2020 @ 09:31 Grazie a te / O majestoso Palazzo Vecchio, um dos símbolos de Firenze

    […] Por que tem tanta obra de arte em Firenze? […]

    Reply

  2. 2 de março de 2020 @ 15:34 Grazie a te / Urbino, joia do Renascimento na região das Marcas

    […] para Federico di Montefeltro. Suas obras estão presentes em várias cidades italianas, como Roma e Florença. Muitos museus internacionais também possuem algumas pinturas do mestre.  Rafael retratou a […]

    Reply

  3. 6 de abril de 2020 @ 16:31 Grazie a te / Rafael Sanzio, gênio da arte renascentista, morreu aos 37 anos

    […] obras de Rafael estão presentes em várias cidades italianas, como Roma e Florença, Perugia, Città di Castello e Milão. Muitos museus internacionais também possuem algumas […]

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  4. 8 de março de 2021 @ 18:13 Grazie a te / Arte contemporânea em San Frediano no Spazio FAF

    […] Por que tem tanta obra de arte em Florença? […]

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  5. 31 de julho de 2022 @ 11:49 Grazie a te / Museu de San Marco de Florença e as obras de Beato Angelico

    […] Por que tem tanta obra de arte em Florença? […]

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  6. 27 de dezembro de 2022 @ 18:26 Grazie a te / Guarda roupa masculino com um toque de ousadia e bom humor - Grazie a te

    […] Por que tem tanta obra de arte em Florença? […]

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  7. 18 de fevereiro de 2024 @ 21:04 Grazie a te / O primeiro museu dedicado exclusivamente à história da família Medici

    […] I, que era cardeal,  casou-se com Cristina de Lorena. Os últimos retratos da sala são os de Anna Maria Luisa de’ Medici, filha de Cosimo III. Anna Luisa foi a última herdeira dos Medici e morreu em […]

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