Vinci, a terra natal de um dos maiores gênios da humanidade, é um pequeno burgo na Toscana que preserva ainda características do passado e segue num ritmo bem sossegado. E o seu charme está justamente aí: a gente pode passear tranquilamente pelos seus becos e estradinhas estreitas sem o assédio de turistas. Ao menos mês passado, quando estive visitando a cidade, tinham pouquíssimos visitantes circulando pela cidade, conhecida como o local de nascimento do artista renascentista Leonardo Da Vinci. A cidade não costuma fazer parte dos destinos preferidos dos brasileiros, que desconhecem que o grande artista herdou o nome de sua cidade natal, que fica a apenas 44 Km de Firenze.
O cenário de Vinci é típico de muitas cidades do interior da Toscana: com oliveiras e videiras que ladeiam suas estradas e compõem o panorama repleto de colinas.
Estive visitando Vinci com uma amiga que mora em Montecatini Terme, de onde saímos de carro até a terra de Leonardo, num percurso que durou menos de 3o minutos. A cidade apresenta características diferentes, pois na parte de baixo, aos pés do burgo, a gente confere edificações mais contemporâneas enquanto que na parte superior estão as construções medievais.
Locais de interesse:
Praça da Liberdade, onde foi colocado um monumento em bronze da escultora Nina Adamu. É uma estatua inspirada nos numerosos desenhos de cavalo feitos por Leonardo.
Museo Leonardiano – Abriga protótipos baseados em estudos e desenhos de Leonardo. A exposição permanente conta a vida e as obras do gênio, mostrando máquinas, reconstruções digitais de seus projetos em tamanho natural, suas criações mais geniais e visionarias às informações e anedotas de sua vida cotidiana. Existem 2 sedes do museu leonardiano, que são bem próximas.
Uma nova área dedicada aos estudos anatômicos foi inaugurada no museu Leonardiano com uma série de atividades didáticas e visitas temáticas que ajudarão a descobrir o grande interesse que guiou Leonardo à descoberta do corpo humano.
A Palazzina Uzielli– fica na Piazza dei Guidi, um espaço urbano inaugurado em 2006, recriado pelo artista contemporâneo Mimmo Paladino e inspirado nos estudos de Leonardo. Neste prédio funcionam a bilheteria, o bookshop e os setores dedicados às maquinas de construção, tecnologia da manufatura têxtil e relógios mecânicos. O espaço abriga também exposições temporárias e uma ampla sala para percursos didáticos que são propostos pelo museu.
O Castello dei Conti Guidi, um imponente palácio medieval, abriga a segunda parte do percurso expositivo. Desde 1953 o castelo é sede do museu. No primeiro andar são obras dedicadas à engenharia civil, máquinas de guerra, vôo, mecânica e instrumentos. No segundo andar estudos de ética, carros automotores, bicicleta e estudos relacionados à navegação .
Praça Guido Masi, um espaço aberto de onde temos uma linda vista da cidade, bem próximo ao Castello dei Conti Guidi, onde está a escultura de Mario Cerol, O Homem Vitruviano, que reproduz o famoso desenho de Leonardo que descreve uma figura masculina nua e separada em 2 posições sobrepostas com os braços inscritos num circulo e num quadrado, com a cabeça calculada como sendo um oitavão da altura total. A precisão matemática das proporções é o que tornou famoso este desenho, com harmonia das formas e do movimento. Atualmente encontra-se na Galeria dell’Accademia de Veneza.
A Igreja de Santa Croce, que fica no burgo, bem pertinho do circuito dos museus. Foi consolidada no século 13 e posteriormente restaurada em estilo neo-renascentista. Foi nesta igreja que Leonardo foi batizado, em 1452.
A Casa natal de Leonardo – A casa colônica onde provavelmente nasceu o artista, em Anchiano, é imersa numa área verde, afastada do centro histórico. Com acesso de carro ou ônibus, a casa fica na Strada Verde, distante 3 Km do burgo, portanto, para quem se anima, pode percorrer a estrada a pé. Aberta diariamente, das 10 às 19h ( de março a outubro até as 19h)
Para consultar horários e tarifas, clique aqui. Existe um ingresso único que permite visitar o Museu Leonardiano, a Casa Natal de Leonardo e a Mostra L’Impossibile Leonardo que custa 11 euros.
Leonardo di ser Piero da Vinci, que significa Leonardo, filho de Piero, de Vinci, foi o maior artista da humanidade. Leonardo não foi apenas pintor, mas escultor, inventor, astrônomo, matemático, engenheiro. Nasceu em Anchiano (Vinci), no dia 15 de abril de 1452. Fruto de uma relação ilegítima, dizem que só conheceu a mãe, a camponesa Caterina, quando ela já era anciã e pouco antes de sua morte. Apesar de ser filho ilegítimo, foi acolhido na residência paterna. Foi criado pelo avô paterno e preferiu não seguir a atividade do pai, que era tabelião. Desde sempre muito curioso, passou a sua infância a observar e estudar a natureza. Quando tinha 16 anos perdeu o avô e toda a família se transfere para Firenze.
Suas habilidades foram percebidas desde cedo: aos 17 anos Leonardo foi aceito na oficina de Andrea Verrocchio onde, entre 1469 e 1478, aprendeu técnicas de fundição e recebeu aprendizado sobre perspectiva e o uso das cores. Com apenas 19 anos foi encarregado de colocar a uma esfera de bronze no topo da magnífica cúpula de Brunelleschi. Leonardo desenvolveu um sistema de gruas para elevar a mais de 100 m do chão e a posicionar sobre a catedral. Aos 20 anos já fazia parte da corporação dos Pintores de Firenze.
Registros da corte de Florença datados de 1476 acusam Leonardo e outros três jovens de sodomia. Eles teriam sido pegos em flagrante tendo relações sexuais com um jovem, Jacopo Santarelli, na época com 17 anos. Uma denúncia anonima foi apresentada mas foi dada como infundada. Mesmo assim, essa acusação deixou uma mancha em sua carreira artística.
Quatro anos após esse episódio, Leonardo foi excluído do grupo de artistas que Lorenzo Il Magnifico enviou à Roma ao Papa Sisto IV, no ano 1480, para decorar os afrescos da Capela Sistina.
Em 1482, Leonardo deixou Florença e transferiu-se para Milão para atuar com a família Sforza. Encontrou na cidade, onde passou 16 anos, um clima intelectual e estimulante nos vários campos, como no da ciência, tecnologia e arte. Inclusive ele sustentava que ciência e arte eram coisas que não se separavam, pois estavam vinculadas. De 1492 a 1499, por ordem do duque de Milão, envolveu-se em diversos projetos nos campos artístico, de construção e até militar.
Com a invasão de Milão por parte dos franceses, Leonardo deixa Milão, em 1499. Ele retornou a Florença em 1500 e durante esse período pintou “A Virgem e o Filho com Santa Ana”.
Curioso, foi um dos primeiros a sondar os segredos do corpo humano e o desenvolvimento dos fetos no útero, dissecando cadáveres para estudá-los. Dedicou-se a escrever da direita para a esquerda, de forma que suas anotações pudessem ser refletidas no espelho. Criou projetos de hidráulica, geologia, mecânica e diversos na de área da engenharia. Leonardo, observando a natureza, analisou todos os campos do conhecimento: ciência, anatomia, arte. Estudiosos descobriram que seu QI era de 180 (bem, a média do quociente de inteligência é de 90 a 109).
Seu amor pela natureza e pelos animais não se limitava à observação e representação de suas formas. Leonardo também foi animalista e sempre lutou pela liberdade dos animais. De acordo com os relatos do arquiteto Vasari, comprava e libertava os pássaros, deixando-os voar em total liberdade, que era seu direito natural. Era vegetariano, por escolha ética e respeito aos animais.
Leonardo foi deserdado quando perdeu o pai mas herdou as posses de seu tio. Em seu testamento, deixou aos meio-irmãos os seus bens.
Leonardo era conhecido principalmente como pintor e são de sua autoria 2 das obras mais apreciados no mundo: A MonaLisa ou Gioconda, que encontra-se no Louvre, e a Última Ceia, um dos maiores bens conhecidos e estimados do mundo. O afresco encontra-se no Convento Santa Maria delle Grazie, em Milão.
Morou em Milão, Veneza e Roma e em 1513 muda-se pela segunda vez para para a França, a convite do soberano Francisco I, que o convidou a morar no Castelo de Clous. Ele morreu na França aos 67 anos, no dia 2 de maio de 1519. Não há mais vestígios de seus restos mortais devido à violação do túmulo durante as guerras religiosas do século 16.
Come chegar:
A melhor forma é alugar um carro e sair desbravando a bucólica região. Não há estação ferroviária em Vinci. Saindo de Firenze voce pode pegar um trem até Empoli e de lá um ônibus da empresa Piubus. O percurso de Empoli até Vinci dura 26 minutos e a linha é a 52.
Celebração dos 500 anos da morte de Leonardo
Em 2019, para celebrar os 500 anos da morte do gênio, a exposição Leonardo e Firenze, lembrando o vínculo que sempre teve com a cidade. São 12 folhas do Código Atlantico da Biblioteca Ambrosiana expostas entre 29 de março e 24 de junho, na Sala dei Gigli do Palazzo Vecchio, com referências ao lugar de origem de Leonardo.
Museu Leonardo Da Vinci de Firenze – A exposição das “Máquinas de Leonardo da Vinci” pode ser conferida em Firenze, na centralíssima Via Cavour, a poucos passos do Duomo, no museu interativo Leonardo da Vinci com mais de 50 modelos de máquinas. O ingresso custa 7 eursos. O museu fica na Via Cavour, 21
Em Firenze, as pinturas de Leonardo da Vinci podem ser admiradas na Galleria degli Uffizi, que reúne três obras do pintor, realizadas quando o artista iniciou seus estudos na oficina de Verrocchio São trabalhos de sua juventude, como L’adorazione dei Magi, il Battesimo di Cristo el’Annunciazione.
- Post atualizado em outubro de 2019
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