
Durante Alighiero, esse era seu verdadeiro nome
A obra A Divina Comedia
A obra de Dante, originalmente chamado de “Comedia”, ganhou o adjetivo de “Divina” graças ao poeta toscano Giovanni Boccaccio (1313- 1375). A Divina Commedia é um poema épico, escrito em dialeto toscano e publicado no século 14 que descreve a trajetória da alma de Dante Alighieri. É uma viagem imaginária com teor histórico, filosófico, político, mitológico e religioso. A obra é composta de 100 cantos, com 33 cantos para cada parte: Paraíso, Purgatório e Inferno, que tem um canto a mais, que é o canto de introdução. Os versos foram escritos em tercetos de decassílabos, isto é 10 sílabas, em rimas alternadas e encadeadas.

Provavelmente no ano de 1306 começou a escrever a Divina Comedia
Dante iniciou a escrever a Commedia, uma das obras mais representativas da cultura italiana, provavelmente em 1306 ou 1307, tendo escrito até 1321, ano de sua morte. Dante foi um dos primeiros poetas italianos a abandonar o latim. Ele começou a escrever em italiano vulgar, possibilitando que o povo também compreendesse, pois era a língua falada pela maioria da população, não apenas na Toscana mas em toda a península. A obra teve sucesso desde o início e contribuiu significativamente para o processo de consolidação do dialeto toscano e por este motivo Dante é considerado o pai da língua italiana.
Em sua obra, Dante começa a sua viagem no Inferno, que é local dos pecadores, passando pelo limbo do Purgatório, local dos pecadores que aguardavam o julgamento, com visitas guiadas por Virgílio, autor de Eneida, o poeta conhece vítimas e pecadores, assiste a terríveis tormentos, escuta arrependimentos, confronta-se com a maldade dos homens e ganha outra consciência de si e das multidões que o acompanham. A terceira e última paragem é o Paraíso, local de purificação, aonde Dante é conduzido por sua amada Beatrice.
A vida de Dante
Filho de Alighiero Di Bellincion e Bella degli Abati, Durante Alighiero, nasceu em Florença no bairro de San Pier Maggiore, próximo à praça da República, no ano de 1265, sendo que a data precisa de seu nascimento não podemos saber pois jamais foi encontrado em nenhum documento. Era do signo de gêmeos, segundo suas próprias citações do canto XXII do Paraíso. Em 26 de março de 1266 foi batizado no Batistério de San Giovanni, como se usava, com todos os bebês do ano precedente. Ficou órfão de mãe muito cedo e o pai era agiota, uma atividade na época permitida. Era de família de classe média da facção guelfa que pode lhe proporcionar acesso aos estudos. Dante foi educado como um nobre, estudou arte da retórica, literatura latina e francesa.
Ainda criança, aos 9 anos conheceu, sua musa Beatrice Portinari, que tinha quase a sua idade, e a viu novamente depois de 9 anos, quando ela já estava casada com Simone Bardi. Apesar de nunca ter existido nenhuma relação entre eles, Beatriz foi o grande amor da sua vida.
A musa Beatriz Portinari – Dante viu Bice, Beatrice Portinari, em 1274 quando ele havia apenas 9 anos e ela quase a sua idade, pois era alguns meses mais nova. Abro aqui uma parentese para dizer que Dante considerava 9 o número do milagre: a santíssima Trindade, 3 vezes 3. Algumas associações que fazia era por exemplo é que a gestação de um filho dura 9 meses , 9 cenas do paraíso, número sempre presente. A segunda vez que Dante viu Beatriz ele tinha 18 anos (1 + 8 = 9) .

Quadro realizado por Raffaello Sorbi em 1863
Beatriz, , filha de um banqueiro, casou-se com Simone de’ Barbi, um rico banqueiro. Beatriz morre em junho de 1290. E para elaborar o luto, Dante começou a estudar e a escrever. Apaixonou-se pela filosofia e começou a imaginar a filosofia como uma dona gentil, como uma senhora que o ajudava a se consolar da perda de Beatriz. Beatriz nasceu na via del Corso, onde hoje se ergue o Palazzo Salviati Da Cepparello (atualmente sede de um banco), em cuja fachada há uma placa com versos de Dante.
Em 1285 Dante casou-se com Gemma di Manetto Donati na igreja de Santa Margherita dei Cerchi, a mesma onde também havia se casado Beatriz. Foi um casamento que havia sido combinado desde que ele tinha 12 anos. Na Idade Média era muito comum que as famílias combinassem casamentos, por questões políticas e econômicas. Dante não amava Gemma e não a cita em nenhuma de suas obras. Não se sabe com certeza quantos filhos tiveram, talvez quatro, sendo que é possível saber os nomes de três deles: Jacopo, Pietro e Antônia.
Quando Dante viveu em Florença, a cidade era dividida em duas facções políticas, em guelfos e em guibelinos. Os guelfos eram a favor do poder do Papa enquanto os guibelinos eram à favor do poder do Imperador, mas nunca tiveram grande espaço na cidade. Os guelfos eram bastante numerosos e acabaram se dividindo: os guelfos brancos, que eram pela autonomia de Firenze e defendiam os interesses da população e os guelfos negros, que defendiam as famílias mais ricas e contavam com o apoio do Papa. Em 1289 Dante participou de algumas operações militares, como a Batalha de Campaldino, quando os guelfos venceram definitivamente os guibelinos e os expulsaram de Florença.
O ano de 1290 é muito significativo para Dante pois é o ano da morte de Beatriz. Ela morreu aos 24 anos. Dante amou por toda a sua vida Beatriz. Beatriz, por quem nutria um amor platônico. Após sua morte caiu em depressão e resolveu abandonar a poesia e passou a dedicar-se à nova “dona” , como ele mesmo dizia, referindo-se à filosofia. Dante buscou conforto nos estudos filosóficos.

Dante nutria um amor platônico por Beatriz. Dante a viu quando ela era criança, havia apenas 9 anos. Depois a viu novamente quando os dois tinham acabado de fazer dezoito anos e durante aquele segundo encontro tudo em sua vida mudou. Embora ele nunca tenha falado com ela, seu amor por ela nasceu daquele olhar. Um quadro famoso inglês do século 19, Henry Holiday, marca este encontro no Lungarno, perto da Ponte Santa Trinita, divulgação Wikipedia)
Entre 1292 e 1295, Dante dedicou-se à obra “La Vita Nuova”, uma coletânea de poemas dedicados a Beatrice, com a descrição de seu amor de forma profundamente espiritual.
Para iniciar na carreira política, em 1295, entrou para a corporação da Arte dei Medici e Speziali. Em 1300 vira um priore (era um tipo de prefeito e eram nomeados em 6) em Firenze, com mandato de 2 meses, entre junho e agosto.
Na época, a vida política em Florença estava dilacerada entre guelfos negros e guelfos brancos, ambas facçoes que apoiavam o Papado, mas os brancos desejavam a autonomia enquanto os guelfos negros aceitavam o controle do Papa na vida política. Em 1301 Dante faz parte de uma expedição e vai até Roma como embaixador para se encontrar com o Papa era Bonifácio VIII. Aproveitando-se do desinteresse do imperador pela situação italiana, o papa, odiado por Dante, enviou um legado para fazer paz entre guelfos brancos e negros. Mas o legado favorece os guelfos neros, que eram rivais de Dante, e eles acabam tomando o poder. Todos os guelfos brancos são condenados ao exílio. Injustamente acusado de peculato, em 27 Janeiro de 1302 foi condenado ao exílio e nunca mais voltou para Firenze.

Castelo di Poppi. Dante foi recebido pelo conde Guido di Simone da Battifolle em 1310, por um ano durante seu exílio de Florença
O Castelo Poppi faz parte de uma série de castelos medievais construídos no Casentino pela família Guidi. Este é, de todos, o mais bem preservado e o castelo mais fiel ao traçado original.
Começa assim o seu exílio de Florença. Dante era um político e intelectual famoso e recebeu asilo em diversas cortes. Dentre os locais que esteve estão em Forli, Verona, Arezzo, Treviso, Poppi, Lucca e provavelmente até em Paris. Foi para Verona e em 1318 foi pra Ravenna, para onde foram também seus 3 filhos. Entre as noites de 13 e 14 de setembro Dante morre em Ravenna.
Museu Casa di Dante
Em Florença existe o Museu Casa de Dante, numa área de Firenze onde ele nasceu e viveu, que conta sua trajetória. A Casa de Dante foi reconstruída na primeira década do século 20 no local onde ficavam as casas da família Alighieri, nas proximidades da Torre della Castagna.

O guia de turismo Riccardo Starnotti organiza muitos passeios guiados vestido de Dante , passando pelos lugares que marcaram a vida do poeta em Florença. E por que o vermelho? “Na Idade Média, os que eram considerados os grandes escritores usavam vermelho, que representava uma cor importante, era usada por escritores ou juristas. Era uma cor que conferia status. Mas não é que Dante andasse assim sempre, é que na iconografia sucessiva o vermelho era considerado a cor dos grandes escritores, eles foram representados dessa forma”.
A casa é um museu histórico, cujo percurso se divide em diferentes áreas temáticas que ilustram a vida privada do Poeta Supremo, sua atividade política e seu exílio. Eles também fornecem informações interessantes sobre a vida em Florença durante o período em que o poeta viveu na cidade.

O museu aborda temas da vida política e civil, com a reprodução do quarto e vestimentas da época



A Torre della Castagna nas proximidades do local onde muito provavelmente Dante viveu

Florença medieval- Dante foi batizado no batistério de Florença, única construção da Piazza Del Duomo que já existia na época em que ele viveu na cidade


Nas proximidades do Duomo fica o “Sasso di Dante”
O chamado Sasso di Dante, fica ao lado sul da Catedral, na Piazza delle Pallottole. Esse era o lugar onde Dante costumava sentar para descansar, contemplar, pensar e observar as obras da construção da nova catedral da cidade, o Duomo de Santa Maria del Fiore.

Interior do Museo dell’Opera del Duomo
No Palazzo Vecchio está custodida a máscara mortuária de Dante foi doada por Lorenzo Bartolini ao inglês Seymour Kirkup, florentino por adoção. Passou a ser conhecida como a “Máscara de Kirkup”, que foi doada à cidade de Florença pela esposa do inglês em 1911. A máscara de Dante foi provavelmente realizada em 1483 por Pietro e Tullio Lombardo. Bartolini teria encontrado a máscara em Ravenna por volta de 1830 e seria o molde de gesso do rosto do poeta esculpido por Tullio Lombardo quando seu pai, Pietro Lombardo, restaurou em 1481 o túmulo de Dante em Ravenna.

A máscara mortuária em gesso, na ala Apartamentos de Eleonora, no Palazzo Vecchio


Sede da Sociedade Dantesca de Florença
Morte de Dante
Dante passou os últimos anos de sua vida em Ravenna, onde esta enterrado. Morreu entre 13 e 14 de setembro de 1321. Seus restos mortais encontram-se num mausoléu construído em 1780. Em seu interior, uma placa e uma chama que queima continuamente, uma lâmpada a óleo, oferecido pela prefeitura de Firenze, como uma forma de pedir desculpas ao poeta.

Local onde estão os restos mortais do poeta Dante. A visitação é aberta ao público e gratuita.
Existe no interior da Basílica de Santa Croce um cenotáfio realizado pelo artista Stefano Ricci no século 19. Ricci trabalhou por mais de 10 anos nessa obra. Em 1520 o artista Michelangelo pediu ao Papa Leao X que trouxesse o túmulo de Dante para Florença, mas os franciscanos esconderam por mais de 200 anos seus restos mortais.

O túmulo de Dante que vemos na Igreja de Santa Croce é na verdade somente um monumento em sua homenagem

Na fachada da igreja Santa Croce, uma estátua em mármore do ilustre poeta, realizada por Enrico Pazzi em 1865
O dia 25 de março é uma data comemorativa dedicada à Dante Alighieri, o Dantedí. Esta é a data que os estudiosos reconhecem como o início da viagem ao submundo “Nel mezzo del cammin di nostra vita…”, foi quando Dante iniciou a escrever a Divina Comedia, em 1300.
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Muito bom ! Parabéns.
Boa tarde Renato, muito obrigada, feliz que tenhas apreciado o post. Obrigada pela visita! Abraço de Florença, Denya
Estou sempre te visitando.
É um prazer enorme.
Buongiorno Renato,
Muito obrigada, contente com a sua presença aqui no blog.
Abraços, Denya
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