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Bagno Vignoni, na Toscana

Famosa por suas termas, Bagno Vignoni é outro tesouro da Toscana.  Este minúsculo burgo medieval, aos pés do Monte Amiata,  tem apenas cerca de 40 habitantes

 

Para chegar até o burgo medieval de Bagno Vignoni a gente percorre uma estreita estrada na belíssima região do Val D’Orcia, num cenário repleto de suaves colinas. Na entrada da cidade é necessário estacionar o carro pois o tráfego é restrito aos moradores e prestadores de serviço. Mas isso não é problema, o burgo é tão pequeno que te bastam 2 horas para explorá-lo por completo.  Aí você vai seguindo a pé em direção ao miolinho da cidade imaginando que vai encontrar em sua pracinha central um famoso monumento.  Ledo engano.  Na Piazza delle Sorgenti, a praça principal de Bagno Vignoni, não existe nenhum monumento esculpido e nem mesmo uma fonte, mas uma piscina retangular de águas termais, com águas de origens vulcânicas, utilizadas desde épocas etruscas e romanas.
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A grande piscina medieval de Bagno Vignoni. A Piazza delle Sorgenti, com águas de origens vulcânicas, de antigas civilizações; os etruscos já se aproveitavam dessas fontes e posteriormente os romanos que descobriram suas propriedades benéficas

 

A Piazza delle Sorgenti, do século 16, tem ao centro uma piscina retangular que jorra água de uma profundidade de mais de mil metros.  São águas termais com temperaturas em torno dos 40º C e se misturam aos minerais e compostos sulfúreos. Atualmente não é permitido tomar banho no local.
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Neste predio à direita era a residência de verão do Papa Pio II, desenhado por Bernardo Rossellino, um dos maiores arquitetos do início do Renascimento

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O burgo mantem-se praticamente intacto e é um dos burgos medievais mais bem conservados da Toscana. Bagno Vignoni pertence à província de San Quirico D’orcia, Siena, e fica a 303 metros acima do nível do mar

Nas proximidades da grande piscina de águas termais existem algumas lojinhas de souvenir, construções residenciais e restaurantes, que posicionam suas mesas na área externa doando ainda mais charme ao lugar.
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Essas águas termais eram utilizadas desde épocas etruscas e romanas devido à proximidade do burgo à via Francigena, estrada medieval por onde passavam os peregrinos que seguiam para Roma. A água é rica em elementos com propriedades curativas, cálcio, carbonato de ferro, sulfato, sódio e magnésio e tem efeitos benéficos para os ossos e ajuda na sistema circulatório, além de ser uma maravilha para a pele.
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Loggiato di Santa Caterina

Já estive em Bagno Vignoni em períodos diferentes do ano e posso dizer que em cada estação a cidade se apresenta de forma diferente.  No inverno, quando os termômetos marcam temperaturas baixíssimas,  o cenário é fascinante, pois o vapor que sai da enorme banheira retangular, especialmente à noite, torna o lugar ainda mais incrível e especial.
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A primeira vez em que estive em Bagno Vignoni fiquei hospedada no hotel Posta Marcucci, que possui esta piscina , a Val di Sole, interligada com suas instalações. Relax e bem-estar contemplativo. O visual com a natureza em volta é um espetáculo!

No século 18, quando  quando o burgo era de propriedade da rica e potente família Chigi, de Siena, foi construído o primeiro empreendimento de águas termais,  marcando neste período a história de Bagno Vignoni como destino turístico graças à sua vocação para a indústria das termas.

Bagno Vignoni dista 118 Km de  Firenze. Conheça aqui algumas cidades que ficam próximas ao burgo medieval:
Siena – 50 Km
Montalcino – 20 Km
Pienza – 15 Km

Sorano, na Maremma toscana

Tive uma grata surpresa quando deixamos Pitigliano e seguíamos para Saturnia. Estávamos de carro e de repente vimos esta fortaleza de pedras em nossa frente: “Sorano”, informava o cartaz (eu nunca tinha nem ouvido falar do lugar).  Como precisávamos esperar dar o horário para chegarmos ao nosso destino decidimos estacionar o carro para explorar o vilarejo.  Sempre digo que, quem pode, precisa viajar sem muita programação porque poderá encontrar pelo caminho lugarzinhos atraentes para um pitstop.

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Sorano , província de Grosseto, é conhecida como Città del Tufo, assim como Sovana e Pitigliano

Deixamos o carro na estrada,  pertinho do burgo medieval, que ficava na parte mais baixa, com suas casinhas em pedra coladinhas umas com as outras.  Desci sozinha para explorar aquele cantinho que mais parecia cenário de  um filme medieval. Eram quase 17 horas e o silêncio imperava. Parecia uma cidade fantasma. Caminhei por quase meia hora pelos becos e não vi nem mesmo 1 pessoa por ali.  Percebi em uma das casas a luz acessa de um abajur na sala que atiçou a minha curiosidade em relação aos moradores daquele pequeno vilarejo. Imaginei um casal de noninhos no aconchego do lar num dia frio de outono. Me aproximei da casa e senti um cheiro de lenha que queimava – e se me meu faro não erra, alguém estava tostando castanhas no fogão a lenha. Difícil descrever a sensação que provei naquele momento. Comecei a imaginar que as pessoas que ali moram talvez nunca tenham saído do vilarejo e seguem, dia após dia, na tranquilidade e na paz que o lugar oferece.  Caminhei até o final do beco, dei meia volta e retornei para a parte alta da cidade.
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A serenidade do burgo. Tão bom passear pelos becos admirando as casas de pedras… não vi nem mesmo 1 pessoa em todo o tempo que estive ali

Dali pegamos o carro e após superarmos uma curva descobrimos a parte mais “nova” da cidade, onde em praticamente 2 ruas, separadas por um canteiro, estavam algumas bodegas, bares e lojinhas da cidade. Mas tudo com jeitinho de outros tempos…  e como não podia deixar de ser,  moradores que conversavam entre si.
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Sorano tem cerca de 3.500 habitantes e tenho quase certeza que todos se conhecem!

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Que satisfação ver uma cidade tão limpa e organizada, com tudo em seu devido lugar

Como o nosso tempo era limitado não pudemos conferir as atrações da cidade, como a Fortezza Orsini, o Palazzo Comitale, o parque arqueológico e o Museu Medieval e do Renascimento. Inclusive tem um passeio que deve ser muito interessante que permite ao visitante explorar a parte subterrânea da cidade.

Passeamos um pouco na rua principal da cidade e depois fomos até um bar tomar um café antes de seguir viagem. E o que chama a atenção nessas minúsculas cidades é o estilo de vida simples. Reparei que os carros que circulavam haviam no mínimo uns 10 anos! E pra que trocar se não estão dando problema? Muitos italianos pensam dessa forma (e eu depois que vim morar aqui na Itália até mudei o meu ponto de vista e comportamento em relação ao consumismo desenfreado desnecessário dos nossos tempos). A acolhida nas lojinhas e mesmo pelas ruas era sempre com um sorriso. Aqui ainda é escrito a mão o cartaz que informa o horário de funcionamento da bodega.  A expressão de serenidade que vi estampada no rosto dos moradores me contagiou.

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Vista deslumbrante através dos arcos medievais

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A Fortezza Orsini é um dos locais de visitação . O complexo fortificado domina a paisagem da cidade, que assim como muitas outras cidades toscanas sofreu assédios e invasões

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O Masso Leopoldino, estrutura fortificada que faz parte do sistema defensivo do burgo

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Sorano é de origem etrusca e foi construída sobre rochas vulcânicas. A cidade é definida como a Matera Toscana devido às suas características urbanísticas

Mais do que falar sobre Sorano, queria registrar as prazerosas sensações que uma visita a um lugar pode causar, mesmo que seja quase impossível verbalizar tais sentimentos. E isso independe se diante de seus olhos está o magnífico Coliseu de Roma ou um vilarejo praticamente deserto, descoberto por acaso (que você começa a explorar sem nem mesmo lembrar de como se chama). Como é bom viajar com o espírito livre para absorver o que de melhor um lugar tem a oferecer, por mais simples que possa parecer!