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A Conspiração dos Pazzi

A família Medici enfrentou muita ira, inveja e revolta e foi alvo de algumas conspirações.  Dentre todas, a mais famosa é a Conspiração dos Pazzi,  que resultou na morte de Giuliano, irmão de Lorenzo “O Magnífico”, e aconteceu dentro da Catedral Santa Maria del Fiore no dia 26 de abril de 1478,  no Domingo de Páscoa.  Houveram anteriores tentativas falidas contra a família, como envenenamento,  plano que foi substituído pela Conspiração dos Pazzi,   trágico episódio que marcou a história de Florença e da Itália.

 

A Conspiração foi organizada pelos Pazzi e outras personalidades de destaque. Lorenzo milagrosamente conseguiu escapar da emboscada refugiando-se na Sacristia das Missas

 

Os conspiradores  tentaram eliminar os dois irmãos com espadas e punhais durante a missa pascal, no Duomo de Florença, no coração da cidade

Lorenzo havia 20 anos quando seu pai Piero Il Gotoso morreu, no ano de 1469. Ele passou a ser a figura mais importante nesse período, em pleno Renascimento, e apesar de não ocupar oficialmente nenhum cargo público,   passou a comandar a cidade. Lorenzo, apelidado de “O Magnífico”,  sempre foi precoce, culto e bem educado. Apesar da pouca idade,  demonstrava segurança e determinação.

Lorenzo, O Magnifico, por Giorgio Vasari (Galleria degli Uffizi), fonte internet

 

Interior da Catedral de Santa Maria del Fiore

 

Conspiração  dos Pazzi

No domingo de Páscoa do dia 26 de abril de 1478, os dois irmãos saíram da residência, o Palazzo atualmente conhecido como Palazzo Medici Riccardi e dirigiram-se à catedral. Durante a missa eles não se sentaram  lado a lado, mas a alguns bancos de distância. No momento da Eucaristia, quando os fiéis estavam ajoelhados,  um grupo de conspiradores atacou com  espadas e punhais os irmãos Lorenzo e Giuliano.  A intenção era matá-los contemporaneamente. Giuliano foi atingido  com golpes de espada  e morreu, tendo sido a única vítima do ataque. A  intenção dos conspiradores era que a história tivesse um desfecho muito diferente, mas Lorenzo conseguiu se salvar graças a Francesco Nori, que acabou morrendo para defender o amigo. Depois de ferido, ele se abrigou na sacristia da catedral.

Giuliano de’ Medici (1478 aproximadamente), realizado por Sandro Botticelli, Accademia Carrara de Bergamo. Morreu os 25 anos  (fonte: internet)

 

A conspiração não teve o êxito esperado porque Lorenzo sobreviveu. O encarregado de golpeá-lo era  Giovanni Battista  da Montesecco, porém, desistiu na última hora, pois era um homem ligado à igreja e não pretendia derramar sangue em lugar sagrado. Foram então contratados para a tarefa os padres Stefano Bagnone e Antonio Maffei  para tirar a vida de Lorenzo, mas não tinham maestria com espada.  Mesmo ferido,  Lorenzo saiu da sacristia e foi em direção ao Palazzo della Signoria, hoje Palazzo Vecchio,  com a população à seu lado. Em sinal de apoio à Lorenzo, os florentinos gritavam “Palle, Palle, Palle’” em referência ao brasão dos Medici com as esferas, desencadeando uma verdadeira perseguição aos autores e envolvidos. Após a conspiração, Lorenzo ganhou maior apoio da população e passou a  governar com mais poder e influência política, embora nunca ter ocupado cargos oficiais.

 

Obra de Stefano Ussi, La congiura dei Pazzi (século 19)

 

O final para os conspiradores foi trágico:  foram condenados à morte, alguns enforcados,  esquartejados vivos e queimados em praça pública. Alguns envolvidos foram torturados, enforcados e pendurados nas  janelas do Palazzo della Signoria.  Praticamente todos os membros da família Pazzi foram presos ou exilados,  tiveram seus bens confiscados e o nome proibido de figurar nos documentos oficiais e todos os brasões das famílias foram cancelados da cidade.

Giuliano foi assassinado por Francesco de’ Pazzi e Bernardo Bandini, que fugiu da cidade e conseguiu se refugiar em Constantinopla, mas acabou sendo encontrado.  Ele foi executado em 1479 em Florença e seu corpo pendurado na forca foi retratado por Leonardo da Vinci (fonte internet)

Quem eram os conspiradores?

Rivais políticos da Senhoria Medicea,  a família Pazzi tramou o  atentado  contra  os irmãos  a fim de acabar com a hegemonia da família Medici em Florença.  O ataque aos dois irmãos Medici  foi uma conspiração  internacional que contou inclusive com o apoio do Papa Francisco della Rovere, chamado de Sisto IV, e  de  seu sobrinho Girolamo Riario , Senhor de Ímola.  O Papa havia concordado de participar da conspiração mas  não era favorável ao assassinato. Foi seu próprio sobrinho que o desobedeceu.  Lorenzo e o Papa Sisto haviam tido alguns desentendimentos e o pontífice havia tirado dos Médici a administração de suas finanças, passando-a aos Pazzi. Participaram também da conspiração a família Salviati (Francesco Salviati era arcebispo de Pisa) e o rei de Nápoles Fernando de Aragão.  Recentes estudos comprovam também o envolvimento do duque de Urbino Federico da Montefeltro, que era gonfaloniere da Igreja. Todos os conspiradores nutriam forte ressentimento contra os Medici e além da inimizade, caso a conspiração tivesse bom êxito, eles poderiam obter vantagens políticas.

Sacristia delle Messe

No interior da catedral, perto do altar, fica a Sacristia das Missas, onde se refugiou Lorenzo o Magnifico.  É um ambiente ricamente decorado com obras realizadas por grandes artistas do Renascimento, como Giuliano da Maiano, Antonio del Pollaiolo e Alessio Baldovinetti. A Sacristia das Missas é geralmente fechada ao público mas mostro pra vocês fotos exclusivas que realizei.

Lorenzo se salvou graças à prontidão de seu amigo Agnolo Poliziano, que levou Lorenzo para a sacristia barricando a porta e resistindo com alguns amigos até que os conspiradores escapassem

Entre 1436 e 1468 o ambiente foi decorado e ganhou painéis de madeira com incrustações com figuras de santos e cenas do Evangelho,  realizados com novos princípios de perspectiva. 

Na sacristia estão os primeiros exemplos desta técnica na madeira na Itália

A pia de mármore, obra de Andrea Cavalcanti, conhecido como Buggiano

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As Capelas dos Medici

As Capelas dos Medici, ou Le Cappelle Medicee em italiano, é local que abriga o mausoléu dos Medici,  poderosa dinastia que governou a cidade entre os séculos 15 e 18 e responsável por Firenze  ser conhecida como Berço do Renascimento. O conjunto das capelas compreende, além da cripta onde muitos membros da família Medici estão enterrados, a Capela dos Principes, onde estão os túmulos de seis grão-duques da família Médici, e a Sacristia Nuova, outra capela funerária, onde Michelângelo atuou como arquiteto e escultor.

A imponente Capela dos Príncipes, com piso que é bastante recente, foi finalizado em 1962

O complexo de San Lorenzo inclui a Basílica, a Biblioteca Laurenziana, , considerada uma das primeiras bibliotecas públicas do mundo com cerca de 11 mil manuscritos da coleção dos Médici, as Capelas  dos Medici e o belíssimo claustro interno. Reúne tesouros artísticos realizados por  Donatello, Bronzino, Filippo Lippi, Michelangelo e Brunelleschi. As Capelas Medici abrigam os túmulos de 50 membros da poderosa família.  As capelas estão localizadas no Complexo da Basílica de San Lorenzo mas o acesso é por  trás da Basílica.   E as salas principais do Museo delle Cappelle Medicee são a Nova Sacristia e a Capela dos Príncipes.

 

A capela nasceu como um mausoléu da família Medici, que a queria como um símbolo do poder da dinastia

O pátio do complexo de San Lorenzo, perto da bilheteria e de onde temos acesso à Biblioteca Laurenziana e ao subterrâneo onde está sepultado o artista Donatello

 

A tomba do artista Donatello

A Igreja de San Lorenzo

Por 300 anos, a Basílica de San Lorenzo foi a igreja mais importante de Florença, até ser substituída pela Igreja de Santa Reparata, que mais tarde se tornou a Catedral de Santa Maria del Fiore. Fica ao lado do mercado homônimo de San Lorenzo, a poucos passos do Duomo e do Batistério.

Consagrada em 393 por Santa Ambrósio, a antiga basílica, reconstruída em estilo românico em 1059,  foi reformada por Brunelleschi no século XV, à pedido da família  Médici

Em 1419, época em que os Médici decidiram utilizá-la como paróquia da família, confiaram  à Filippo Brunelleschi, arquiteto que construiu a cúpula da igreja Santa Maria del Fiore.  Os trabalhos de Brunelleschi resultaram na primeira igreja obra-prima do período renascentista, importante obra para a arquitetura religiosa, com elementos clássicos e proporções geométricas.

As obras em bronze O Púlpito da Ressurreição e Paixão, de Donatello

 

Perto do altar, na capela próximo à Sacristia Vecchia, a obra Anunciação Martelli, de Filippo Lippi, datada de 1440

Sacristia Velha

Realizada por Brunelleschi entre 1422 e 1428, a Sacristia Velha, a parte mais antiga da igreja, representa um dos primeiros projetos do célebre  florentino em que sua visão arquitetônica se concretiza através da geometria e precisas proporções, com total harmonia entre espaço arquitetônica e decoração. O artista Donatello é o autor de duas portas de bronze e dos relevos nas paredes que representam a vida de São João Batista.

A Sacristia Velha é uma das criações mais completas do primeiro Renascimento florentino, com o tumlo de Giovanni Bicci ao centro

 

As Capelas dos Medici

As Capelas  dos Medici são um museu estadual desde 1869 e tem sua história ligada à da Igreja de San Lorenzo, à qual pertencem, localizada no mesmo complexo. As capelas foram erguidas como sepulcro da família Medici na Basílica de San Lorenzo, que os Medici consideravam a igreja particular, posicionada em frente à residência de Via Larga , agora Via Cavour, o Palazzo Medici-Riccardi.

 

As Capelas dos Médici foram anexadas à igreja de San Lorenzo, que era a igreja da família Médici enquanto habitavam  no Palazzo Medici-Riccardi

 

Cripta

O primeiro ambiente encontrado é a Cripta,  realizada por Buontalenti. No chão da cripta ficam as lápides de mármore dos túmulos dos Grão-Duques, suas esposas e parentes mais próximos.

Na parte central da cripta existe também um espaço onde estão expostas em  vitrines relíquias dos séculos 17 e 18.

 

Capela  dos Príncipes

No segundo andar fica a lindíssima  Capela dos Príncipes,  que surge da ideia do grão-duque  Cosimo I de realizar um mausoléu para a família. O mausoléu dos grão-duques da Toscana é uma grande capela octogonal com 59 metros de altura e uma imensa cúpula. Entre 1561 e 1568  as obras foram confiadas à Giorgio Vasari, mas os trabalhos começaram apenas com Ferdinando I. Em 1602  foi realizado um concurso e o projeto de Don Giovanni, filho natural de Cosimo I e de Eleonora, que encarregou  a direção dos trabalhos ao arquiteto Matteo Nigetti, que ficou responsável pelas obras até 1650.

Poder e magnificência da família dos Medici. O ambiente é ricamente decorado com pedras preciosas, mostrando a grandeza da dinastia Medici. Nas paredes estão brasões das cidades toscanas governadas pelos grão-duques

 

Os grão-duques queriam cobrir as paredes do mausoléu com os materiais preciosos e incorruptíveis, como mármore , granito, alabastro,   lápis-lázuli , coral e madrepérola

Para mostrar o poder da família, a capela tinha que ser grandiosa e luxuosa e, por esse motivo, foi fundado o Opificio delle Pietre Dure, um instituto que existe até hoje, que surgiu para cuidar do trabalho das pedras semipreciosas, com a utilização de uma técnica conhecida como commesso fiorentino, um tipo de mosaico com utilização de pedras  maiores.

 

Mas as obras foram finalizadas em meados do século 18, com a última representante da casa dos Médici, Anna Maria Luisa,   que queria concluir o imponente mausoléu da família. Foram feitas as janelas e a cobertura da cúpula, enquanto a decoração  interna foi realizada por Piero Benvenuti entre 1828 e 1837, criou um ciclo de afrescos com tema bíblico, retirados das histórias de Gênesis e e tantos outros episódios do Novo Testamento. O pavimento em pedra dura foi concluído em 1962.

O altar é resultado de uma reconstrução de 1937 com diversos painéis  em pedras duras de varias épocas

Na Capela dos Principes estão os túmulos de Cosimo I, Francesco I, Ferdinando I, Cosimo II, Ferdinando II, Cosimo III.  Cada nicho deveria haver uma escultura, mas restam apenas 2, a de Ferdinando I e Cosimo II.

Nos seis nichos nas paredes estão os sarcófagos dos Grão-Duques e também as estátuas de bronze dourado de Cosimo II e Ferdinando I

 

A Capela dos Príncipes é conhecida como um triunfo da fabricação florentina da  pedra dura devido à riqueza e esplendor de seu interior.  Sua  cúpula é enorme, menor apenas da de Santa Maria del Fiore, o Duomo de Firenze

 

Sacristia Nova

A Sacristia  Nova é  outra capela funerária, com obras de Michelangelo, que atuou no local como arquiteto e escultor, a partir de  1520.  Foi o  cardeal Júlio de Médici (Papa Clemente VII), que quis construir as capelas fúnebres para ter um lugar apropriado para enterrar os membros da família. Michelangelo dedicou-se à sua realização até 1534, o ano em que estabeleceu-se em Roma. Depois que deixou as obras, a Sacristia Nova foi terminada por Vasari e Bartolomeu Ammanati, em 1546.

 

Michelangelo realizou  3  grupos de esculturas  entre os anos 1520 e 1534: o  túmulo de Lorenzo, neto de Lorenzo o Magnifico, com estátuas que simbolizam a vida contemplativa, o  túmulo de Giuliano, terceiro filho de Lorenzo o Magnifico, simbolizando a vida ativa e o terceiro grupo de esculturas é a Madonna col Bambino ladeada por São some e Sao Damião, padroeiros da família,  esculturas  realizadas para adornar o túmulo dos irmãos Lorenzo o Magnífico e Giuliano. Michelangelo não  chegou a terminar o projeto com a tomba dos irmãos.

 

Os túmulos dos irmãos Lorenzo e Giuliano. Sobre a sepultura existem 3 esculturas: Maria com o menino Jesus, realizada por Michelangelo, e os Santos Cosme, esculpido por Montorsoli e Damião, feita por Raffaello da Montelupo. As esculturas foram colocadas por Vasari em 1554

Os ossos dos irmãos Giuliano e Lorenzo foram trazidos para a  Sacristia Nova em 1559, pois antes estavam na Sacristia Velha, na Igreja de San Lorenzo.

A sepultura de Lorenzo, Duca de Urbino,  foi realizada por Michelangeo em seus últimos anos de permanência em Firenze, entre 1531 e 1532. Na tomba,  esculturas  com duas figuras alegóricas da Aurora e do Crepúsculo

 

Sobre o altar, 2 candelabros em mármore projetados por Michelangelo

 

Capelas dos Medici

Endereço: Piazza di Madonna degli Aldobrandini, 6.

Horários

Diariamente das 08:15 às 14h

A bilheteria fecha às 13:20

Fechamento: no 2º e no 4º domingo de cada mês, assim como na 1ª, 3ª, e 5ª segunda-feira de cada mês, 1º de maio, Natal e Ano Novo

Os horários e valores sofrem alterações de acordo com o período do ano. Visitar o site para mais informações.

Preços

Adultos: 9 euros
Crianças e adolescentes até 18 anos: grátis