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A enchente de Firenze de 1966

Em muitos muros de Firenze a gente pode observar uma marca praticamente na altura da porta que traz a data 04-11-66.  Essa é uma lembrança triste e dolorosa: ela indica onde as águas do Rio Arno chegaram, numa enchente que devastou grande parte da Toscana e inundou a cidade de Firenze,  causando a morte de  35 pessoas, 17 na cidade de Firenze e 18 nas províncias.

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Na época, a cidade ganhou socorro não apenas de italianos – que vieram de norte a sul – mas de tantos estrangeiros de  diversos países do mundo que vieram oferecer ajuda para salvar o patrimônio histórico e cultural de Firenze.

 

 

2.

Depois do Tibre, o Rio Arno  é o mais importante  da região central da Itália. Ele nasce nos Apeninos, atravessa a Toscana passando por Florença e Pisa  e deságua no Mar Tirreno. E no início daquele fatídico novembro, que foi de muita chuva, suas águas transbordaram causando danos em muitas cidades da Toscana.

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Não apenas o centro histórico de Firenze foi devastado como também outras cidades banhadas pela bacia hidrográfica do Arno. Pontedera, Lastra a Signa, Signa, Campi Bisenzio, Quarrata e o Mugello  foram outras localidades que sofreram fortes consequências com a inundação.

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Calcula-se que a quantidade de água que caiu nas 24 horas entre os dias 3 e 4 de novembro foi de cerca 180/200 litros por metro quadrado

Os danos causados ao patrimônio artístico e arquitetônico foram muitos. Milhares de volumes, dentre preciosos manuscritos e estampas que estavam na Biblioteca Nacional Central ficaram completamente destruídos. A enchente causou danos também à Porta do Paraíso do Batistério e alguns painéis feitos pelo artista Ghiberti se destacaram.

As portas originais, que agora encontram-se no Museo dell’Opera del Duomo,  precisaram ser substituídas por cópias. Incontáveis os danos na Galleria degli Uffizi, que mesmo depois de anos de trabalhos de restauração, não conseguiu recuperar tudo o que foi danificado. A mais importante obra perdida na enchente foi O Crucifixo de Santa Croce, de Cimabue, que encontra-se na Basílica de Santa Croce e que apesar da restauração, foi perdida em 80%.

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Esta é a piazza Santa Croce, completamente tomada pela água. Todas as fotos em preto e branco foram retiradas da internet (divulgação)

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Resumindo a fatídica manhã do dia 4 de novembro, de acordo com relatos que pesquisei na internet: às 5 da manhã do dia 4 de novembro os ourives da ponte Vecchio (os únicos que foram advertidos) conseguiram salvar as peças preciosas. Logo depois disso o Arno invade e Biblioteca Nacional e atinge Santa Croce. Ao meio dia a água atinge 6 metros e o centro transforma-se em um rio de lama. A enchente de 66 não foi a pior e nem a primeira que inundou Firenze.

Em 1333, a primeira enchente documentada foi ainda mais violenta, chegando a destruir a ponte localizada onde hoje encontramos a  Ponte Vecchio, que foi reconstruída em pedra  no ano de 1345.

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As famílias se refugiaram  nos tetos das residências, tomadas pela água, que invadiu bodegas, museus e igrejas.  Mais de 8 mil soldados salvaram vidas e ajudaram a população que se viu sem casa, sem roupas e sem alimento. As operações de socorro terminaram no final de dezembro com a juda de 8.200 militares do Exército.

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Firenze recebeu ajuda de jovens que chegaram não só de outras cidades italianas mas também do exterior.  Conhecidos como Angeli del frango (Anjos a Lama) eles ajudaram a salvar e recuperar obras de arte soterradas, destruídas em meio à lama. Foi uma verdadeira cadeia internacional de solidariedade em meio à tanta tristeza e destruição.

 

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Em muitos muros espalhados por diversas regiões da cidade a gente pode ver a placa indicando até onde a água chegou

 

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E muita gente que contempla o Rio Arno assim, lindo e soberano, espelhando a beleza dessa magnífica cidade, não imagina quanta dor e tristeza foram causadas devido à inundação que devastou a cidade em 66

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Dicas de Firenze

A Igreja de Santa Croce

Nonos da Itália 

A Basílica de Santa Maria Novella

Passeio a bordo do 500

A elegante Ponte Santa Trinità de Firenze

Projetada provavelmente por Michelangelo e destruída por Hitler, a Ponte Santa Trinità é a mais elegante de Firenze e é um ponto estratégico da cidade. Ela corta o Rio Arno ligando o centro histórico, em sua área mais chique, ao Oltrarno, região que fica “do outro lado do rio Arno”,  num ponto que reúne tradicionais lojas de antiguidades, bistrôs e ateliers.  Fica entre a Ponte Alla Carraia e a Ponte Vecchio. E é justamente dali que temos uma linda visão da ponte que é um dos cartões-postais mais famosos da cidade.

 

A ponte foi originalmente construída em 1252. Depois da cheia de 1557, Cosimo I de’ Medici encomendou à Ammanatti um projeto de reconstrução, provavelmente com auxílio de desenho  de Michelangelo.

 

Sobre a Ponte de Santa Trinita

A história da ponte começa em 1252, quando foi inicialmente construída em madeira, graças à família Frescobaldi. Com o passar dos anos e devido às enchentes, não resistiu. Em 1259 desmoronou durante um evento quando uma multidão assistira a um show no Arno. Reconstruída em pedra, foi derrubada pelo dilúvio de 1333.  Sua terceira reconstrução durou 50 anos, de 1356 a 1415, mas também foi destruída por outra inundação.

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O desenho como podemos conferir nos dias de hoje, com a moderna linha com os 3 arcos (inclusive uma inovação que antecipava a moda do barroco) é provavelmente obra do grande artista do Renascimento Michelângelo, que atuou junto à Bartolomeo Ammannati, que a projetou a partir de um pedido de Cosimo I de’ Medici, tendo sido reinaugurada em 1571, em pedra forte. Em 1608 ganharam as 4 estátuas,  obras que representam as estações do ano.

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Era por este ponte que passavam os cortejos dos grão-duques

Devido aos bombardeios durante a 2ª Guerra Mundial , em 1944, a  ponte foi destruída e reconstruída com as mesmas pedras encontradas no rio Arno. Em 16 de agosto de 1958 a ponte foi reinaugurada mas sem a cabeça da estátua Primavera, que não havia sido encontrada. Só no ano de 1961 a parte que faltava foi encontrada no rio Arno.

 

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A Ponte Santa Trinità fica entre a Ponte Vecchio e a Ponte Alla Carraia.

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A vista que temos da Ponte Santa Trinità quando estamos na Ponte alla Carraia

 

As  4 estátuas:

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A via Tornabuoni, endereço de lojas elegantes na cidade, e as estátuas Primavera e Verão

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As 4 estátuas do século 17 que representam as 4 estações do ano enfeitam as extremidades das pontes: 2 do lado do Oltrarno que são o Outono e o Inverno. As estátuas foram colocadas no ano de 1608 para celebrar a união de Cosimo II e Maria Maddalena d’Austria.

 

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O outono, realizada por Giovanni Caccini

E no início da via Tornabuoni estão a Primavera e Verão.

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Esta é a estátua Verão, obra de Giovanni Caccini

 

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A estátua A Primavera, esculpida por Pietro Francavilla em 1590, e ao fundo a Ponte Vecchio

Inclusive a cabeça da estátua da primavera é citada no filme americano dirigido por Spike Lee,  O Milagre de Santa Ana, de 2008.  Miracle at St. Anna é um filme de guerra ambientado durante a 2ª Guerra Mundial na Toscana e em Nova Iorque e Roma que conta a história de 4 soldados afro-americanos que caem numa armadilha dos nazistas e acabam se separando. Um dos soldados arrisca a própria vida para salvar um menino italiano.  O enredo do filme é baseado no massacre de Sant’Anna di Stazzema, que pertence à provincia de Lucca, onde ouve um massacre de 560 pessoas, em sua maioria crianças, mulheres e idosos, que depois de brutalmente assassinados foram queimados pos oficias da SS.

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