Arquivo da categoria: Arte e Cultura

Caffè Florian

Há poucos dias publiquei um post sobre os bares de Firenze indicando meus locais preferidos para tomar café e aproveitei para falar um pouquinho sobre cada um deles. Se você perdeu, confira aqui. E deixei de fora o grifado Caffè Florian pois quando fui tirar as fotos para preparar o material vi que o grifado café italiano merecia um post inteirinho só pra ele.
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É que o Caffè Florian inaugurou oficialmente aqui em Firenze o seu museu com obras que pertencem ao acervo de sua matriz, em Veneza. Estão expostas em Firenze 14 obras da coleção que adornam o local florentino que desde junho funciona como restaurante, ao lado do elegante café, que é de propriedade da família Fendi.  E é claro, aproveitei para marcar um jantar para conferir não apenas as obras mas também os pratos da casa, que pareciam irresistíveis a partir do menu exposto na porta.
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As delicinhas que a gente pode degustar no Caffè Florian num chá da tarde

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O mais antigo café da Europa

O Florian de Veneza é o mais antigo café da Europa. Com localização estratégica – ocupa área de prestígio na piazza San Marco –  atende no mesmo endereço desde 1720 e representa um símbolo da cidade. A Bienal de Veneza tem suas raízes no histórico café a partir de uma exposição de obras contemporâneas iniciada em 1893.
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Desde então, a arte passou a ser de casa no café, famoso também pelas personalidades que o frequentavam. Por ali já passaram de Casanova a Modigliani. Desde 1988 o Caffè Florian recebe em Veneza exposições dedicadas à Bienal de arte contemporânea, que acontece a cada dois anos. Com o título de Temporanea, as obras são todas feitas especialmente para o café.
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Há sete anos o Florian abriu uma filial em Firenze, na minúscula Via del Parione, um cantinho charmoso perto das lojas mais luxuosas da cidade. Tortinhas doces, croissants, quiches, mini-sanduiches, biscoitinhos, macarons, chás e os mais variados cafés podem ser apreciados num ambiente refinado e tranquilo.
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Elegância em cada detalhe

A marca carrega uma tradição firmada sobre produtos de primeira qualidade aliados ao savoir-faire de um atendimento impecável. O requinte que envolve a marca Florian pode ser também encontrado em alguns produtos e artigos da sua concept store que levam a sua assinatura, como chás, geléias, cafés, chocolates, vinhos, licores e acessórios como bolsas e bijuteria
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 Agora vou falar da experiência gastronômica no restaurante, que fica ao lado do café. Por sugestão do chef da casa, iniciamos com tartare.
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Pedimos um tartare de carne pra mim e outro de peixe para meu marido. Depois escolhi um mix de salmão e atum. (ah, os azeites são todos firmados Florian)

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E para primo, serviram dois em um para meu marido: massa com molho de ossobuco e ao lado  um tradicional prato típico toscano revisitado. A inspiração é a ribollita, uma sopa de verduras.
O padrão do restaurante é elevado, serviço impecável com um garçom simpático e é claro, expert em vinhos.  Não é econômico, pois paga-se não apenas pela qualidade dos pratos servidos mas pelo ambiente e requinte, afinal, é um local estrelado.
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A garrafa de água custa 5 euros e no final das contas, pagamos 80 euros para duas pessoas, sendo que os doces foram oferecidos pelo restaurante. Já estávamos satisfeitos mas insistiram para que provássemos – que sacrifício, rsrsrs!!! Trouxeram uma torta de chocolate e uma torta de maçã com pinoli, quentinha e com uma consistência jamais vista!
Caffè Florian–  Via del Parione, 32 – Firenze
O Caffè Florian encerrou suas atividades em Firenze em março de 2017

Anghiari, na Toscana

A  cidade medieval de Anghiari, que pertence a Arezzo, está localizada entre as regiões da Toscana, Umbria, Marche e Emília Romanha.  Anghaiari é uma joia toscana que conserva a estrutura de um burgo medieval e encanta também pela tranquilidade. A cidade, toda murada, fica no cume de uma colina, de onde o panorama é espetacular. Geralmente não costuma fazer parte dos roteiros turísticos, mas para quem já conhece as atrações de Firenze (dista 116 km) convém reservar um dia para conhecer esta maravilha de lugar.

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O vilarejo de Anghiari fica a penas 30 Km de Arezzo

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O charmoso vilarejo medieval de Anghiari, a poucos quilômetros de Arezzo

 

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A Piazza Baldaccio, coração da cidade

O palácio Petrorio, na piazza Baldaccio, é a sede do município. Passear pelo centro histórico não é muito cômodo, pois como toda cidade antiga suas ruas são desniveladas com o chão de pedras. Não esqueça de levar sapatos confortáveis para  explorar a cidade. Anghiari é pequena e em pouco tempo podemos visitar todas as atrações. Da praça podemos seguir para a Abadia de San Bartolomeu e depois continuar até a piazza Mameli, onde estão o museu Taglieschi e o Santuário da Madonna del Carmine, que são outros pontos de interesse.

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Anghiari

Monumento a Garibaldi na piazza Baldaccio, de onde geralmente iniciamos o passeio a pé para descobrirmos os becos e ruelas da cidade. Nesta praça é onde acontece a feira de antiguidades, no segundo domingo do mês.

 

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Anghiari tem cerca de 5.800 habitantes e é internacionalmente conhecida por uma atividade que enche de orgulho seus moradores:  o antiquariado. É um local frequentado pelos amantes de peças antigas que encontram em suas lojinhas e feiras de rua verdadeiros tesouros. A cidade abriga experientes restauradores e colecionadores de obras de arte, móveis e objetos de decoração.

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Artesanato – Todos os anos , na primavera, acontece em Anghiari a Mostra Mercato dell’Artigiano della Valtiberina Toscana

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As passagens estreitas que abrigam as casas de pedra, as escadas, igrejas, e pracinhas encantam os visitantes: um verdadeiro mergulho no passado.

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 A tranquilidade impera. Impossível ficar indiferente a um cenário como este, onde somos surpreendidos pela simplicidade.

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A Batalha de Anghiari

Devido sua posição estratégica Anghiari foi palco de muitas batalhas importantes no período medieval. Possivelmente a que ficou mais conhecida  foi a que deu a vitória aos florentinos contra os milaneses, que mesmo em número maior foram  derrotados. Para retratar o triunfo dos florentinos nesta batalha que aconteceu em 1440, quando a Itália ainda não era unificada, foi solicitado um afresco ao artista Leonardo da Vinci no Palazzo Vecchio de Firenze. A questão é que essa obra está desaparecida e a possibilidade de estar escondida atrás de uma tela de Vasari,  na Sala dos 500 do Palazzo Vecchio, acendeu uma grande discussão ano passado. Segundo os pesquisadores, foram encontrados indícios que comprovam estar mesmo ali o afresco feito por Da Vinci mas ainda não ficou definido se irão arriscar danificar a obra de Vasari para aprofundar as pesquisas.

 

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Fiz esta foto há quase 10 anos! Aqui a cidade enfeitada para a festa celebrar a Batalha de Anghiari, comemorada dia 29 de junho

A cidade medieval de San Leo

Apresento hoje para vocês uma verdadeira joia de lugar!  Vou falar da minúscula cidade medieval de San Leo, que pertence à província de Rimini e foi construída sobre uma rocha, a 589 metros de altitude.  Avistando-a da estrada e mesmo antes de desvendar suas ruelas dá para intuir que a fortaleza esconde verdadeiros tesouros. Apesar de pouco conhecida, San Leo, que fica a apenas  20 km de San Marino, já hospedou São Francisco de Assis e  Dante Alighieri, que faz referência à cidade em sua obra Purgatório, na Divina Comédia. Apesar de bem pequena, San Leo concentra  uma surpreendente quantidade de de monumentos e obras de arte.

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Nas fronteiras entre as regiões da Emília Romanha e Marche, no coração de Montefeltro na Alta Valmarecchia está San Leo,  uma cidade tranquila e ainda pouco explorada pelo turismo de massa, o que a torna ainda mais peculiar, pois ali podemos perceber bem de pertinho o ritmo de seus moradores, seus hábitos e costumes.

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O resplendor da cidade foi durante a Idade Média quando sediou  a dinastia da família Montefeltro. Mas foi com a inquisição e com a condenação do Conde Cagliostro que San Leo ficou famosa. Alquimista, curandeiro e fundador de diversas lojas maçônicas na Europa, Cagliostro foi sentenciado à morte pela inquisição mas através do Papa conseguiu trocar sua pena e foi condenado à prisão perpétua. Depois de quatro anos preso na solitária do Forte, ele morreu em 1795 e os mistérios que envolvem sua vida de heresia e bruxaria tornam ainda mais fascinante um passeio pelas ruas e monumentos da cidade.

 

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O burgo medieval tem menos de 3 mil habitantes

 

As origens de San Leo datam do século III quando os romanos construíram um pequeno forte sobre a montanha. A cidade era conhecida como Montefeltro mas a chegada de San Leone, que difundiu o cristianismo no lugar foi tão importante que a cidade passou a se chamar San Leo, a partir do ano 1000.

O que visitar em San Leo

A Piazza Dante é o principal ponto de encontro da cidade. Em torno à praça, como sua fonte ao centro, que encontramos restaurantes, bares, sorveterias, bistrôs e prédios de grande importância, como  o Palazzo  Mediceo, la torre Campanaria, La Pieve de San Maria Assunta e bem pertinho dali, o Duomo di San Leone.

 

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A praça principal da cidade abriga os restaurantes e lojinhas de artesanato. Neste prédio a placa de homenagem ao poeta florentino Dante Alighieri

 

San Leo recebeu também uma visita muito especial: a de São Francisco de Assis,  em 1213. O local onde transcorreu alguns dias não é aberto a visitações mas o apartamento ainda conserva em maneira original seus aposentos.  Ali ele recebeu em doação do conde Orlando Catani di Chiusio o monte della Verna. Após uma oração feita pelo Santo que impressionou o conde ele resolveu presenteá-lo com este monte localizado na Toscana, que seria ideal para meditação e orações.

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A passagem de São Francisco de Assis ajudou a enriquecer a história do local. O prédio onde ele se hospedou fica na pracinha do centro histórico

 

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A cidade de San Leo é conhecida como Cidade de Arte e praticamente todas as lojas são de artesãos, pintores e artistas.  As obras do senhor Moretti me impressionaram desde a primeira vez que as vi. Adquiri uma peça realizada em ferro que hoje enfeita a sala da casa dos meus pais.  Seu trabalho, algumas vezes representado por metáforas, é alvo de muitos elogios. O atelier mais parece um museu, tamanho o interesse das pessoas que querem conferir de perto a sua habilidade em reciclar materiais como o ferro e transformar em esculturas, bem ali diante dos olhares curiosos.

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Ao explorar o centro histórico encontramos outras lojinhas de artesanato e antiquariado, com objetos expostos do lado de fora

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Atrás do chafariz de São Francisco, na pracinha, está a Pieve de Santa Maria Assunta, mas o acesso à igreja não é pela praça principal. Este é o mais antigo local de culto da cidade, edificado no século IX.

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A pieve é o mais antigo monumento religioso de San Leo

 

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Interior da Pieve de Santa Maria Assunta

O Duomo de San Leo, de 1173, que fica a poucos passos da pieve, é a mais importante igreja da cidade. A construção, em estilo românico, apresenta em seu interior esculturas e objetos com símbolos do cristianismo primitivo. Era o local de oração de San Leone.

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O Duomo de San Leo foi construído em 1173 . É o maior exemplo de arquitetura medieval bem conservada da região de  Montefeltro

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Subindo por uma estrada cheia de curvas, podemos alcançar a fortaleza, local mais alto da cidade, que foi convertido em prisão para os inimigos do Papa quando o ducato passou aos domínios dos Estados Pontifícios, em 1631.  Atualmente no forte funciona um museu que expõe alguns instrumentos de tortura que eram utilizados de forma cruel contra as pessoas que eram condenadas. 

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Os magos e alquimistas acusados de bruxaria sofreram perseguição da Igreja Católica e muitos foram encarcerados na fortaleza de San Leo durante a Idade Média, sendo que o conde Cagliostro foi o mais famoso de todos

Mas agora vamos falar de um assunto prazeroso… comida, rsrs!!! Quero deixar pra vocês uma ótima dica de restaurante, o Il Bettolino, um restaurante que já conhecíamos e fica bem pertinho da praça principal. Os pratos são caprichados e os preços não são exagerados. Um prato de  pasta para a entrada custa entre 7 e 9 euros e tem o tris de primi, com opção de degustação de três massas por 10 euros. Os pratos principais variam de 8 a 15 euros.

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Após passarmos sob um romântico arco de pedras uma agradável surpresa nos fundos do restaurante. Fomos agraciados por um panorama de tirar o fôlego: bem à nossa frente toda  a incontestável beleza do Monte de Marecchia. Uma sensação de paz e tranquilidade que comove e marca esse delicioso passeio à mágica San Leo. Uma despedida que deixou gostinho de quero mais.

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Mercato Centrale San Lorenzo

Ir ao Mercado central de San Lorenzo, em Firenze, é uma excelente maneira de conhecer um pouco os costumes locais, mesmo se de clientes florentinos vemos poucos atualmente. Mas os que frequentam são facilmente reconhecidos, pois sabem exatamente em qual banca devem ir e os produtos que querem levar para casa. Atraída pelos produtos típicos toscanos, uma multidão de turistas invade o mercado, que é um dos pontos turísticos da cidade, apesar de passar quase despercebido, pois uma infinidade de barracas do mercado de rua de San Lorenzo cobrem o histórico prédio, localizado bem no centro de Firenze. Caso você queira conferir o post  sobre o mercadinho de rua, clique aqui. E no mesmo prédio, no primeiro andar, funciona um grande espaço gastronômico,  local imperdível onde você vai encontrar especialidades não apenas da Toscana mas de diversas regiões da Italia. Veja mais no post Novo Mercado de San Lorenzo.

 

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A construção realizada no final do século 19 foi considerada revolucionária para o período, com a utilização de materiais como ferro e vidro no teto, realizado pelo arquiteto Giuseppe Mengoni (o mesmo que pouco antes havia feito a Galleria Vittorio Emanuele, em Milão),  em estilo art-nouveau, que ainda hoje chamam a atenção. O mercado funciona de segunda à sábado, das 7 às 14 horas.

A estrutura,  em ferro e vidro, foi  erguida em 1874.  A obra é do arquiteto Giuseppe Mengoni, já autor do mercado de Sant’Ambrogio e da Galleria Vittorio Emanuele de Milão

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Algumas osterias e restaurantes  oferecem refeições típicas, com produtos da culinária local, preparados na hora, bem na sua frente. O Nerbone é endereço sem erro para um lanche rápido, saboroso e tipicamente toscano. Este é o sobrenome de um ambulante que desde o final de 1800 vendia pratos da culinária florentina. Mesmo que encontre fila para pedir, aguarde um pouco pois o atendimento é veloz. Pra entrar no clima dos “locais”, peça um simples panino ou um prato de lampredotto com uma taça de vinho tinto. E deixe-se levar pela atmosfera e pelos aromas ao seu redor.
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A explosão de cores, aromas e sabores é uma experiência imperdível. Adquirir produtos frescos direto do agricultor é uma característica de uma feira de qualquer lugar do mundo.

O interessante aqui é observar os costumes, que mudam de acordo com a cultura de cada país. Na Itália, por exemplo, melhor não tocar as frutas e verduras sem usar luvas. No mercado quem escolhe os produtos são os vendedores. Bom prestar atenção porque para os italianos é grave infringir essa regra. Confira nesta foto abaixo que a cliente aguarda o feirante escolher e pesar as suas frutas.
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Nesta feira alimentar coberta podemos encontrar uma variedade de produtos típicos como queijos, pães, massas, azeites, vinhos e doces. Fora a vasta gama de peixes, frutos do mar e carnes. Inclusive é neste mercado onde os brasileiros residentes em Firenze adquirem o famoso corte de picanha, no açougue  Manetti.
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Azeites, geleias e pastas coloridas são alternativas típicas para presentear os amigos.  Muita gente que visita o mercado  adquire ao menos um produto  para levar pra casa.
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Aqui o nosso papaya é vendido em uma banca de produtos peruanos a 6 euros o quilo. Há alguns anos o mercado perdeu sua característica de ser um local apenas com produtos e comerciantes italianos. Devido à imigração, muitos estrangeiros passaram a gestir seu próprio negocio. Reparei que dentre os comerciantes estrangeiros a maioria parece ser peruana e tem clientela cativa que adquire além de produtos não perecíveis, frutas e verduras vindas da América do Sul.
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Um carregador atravessa em meio a residentes e turistas com os carrinhos cheios para reabestecer a banca de frutas. Afinal, às dez da manhã muita coisa já aconteceu em uma feira.

Accademia del Buon Gusto, no Chianti

Panzano in Chianti é uma das charmosas cidades que fazem parte do Chianti. Hoje vou falar sobre outra parada obrigatória para quem visita a cidade: a Accademia del Buon Gusto, que tem uma atmosfera quase mágica!
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Ao adentrar o local um agradável e delicado aroma de vinho nos inebria. É a essência criada pelo Mestre Stefano para perfumar ambientes, colocada  num decanter com os pedacinhos de madeira.  Sua botega é pequena mas bem aconchegante. A exposição de obras de artistas locais divide harmoniosamente o espaço com os produtos em venda, sendo o principal deles o vinho.
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Stefano Salvadori

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O proprietário da casa, Stefano Salvadori, recebe sempre com um sorriso cortês. É um gentleman dos velhos tempos. Atencioso, tranquilo e educado, não demora muito para te oferecer a primeira taça para degustação. E ali começa uma aula de vinhos e produtos típicos, através de explicações breves e precisas de um apaixonado pelo seu trabalho, pela sua terra e pelo ser humano.  Caso você se interesse pelo assunto, faz questão de explanar com detalhes cada rótulo da casa e demonstra um conhecimento grande sobre toda a cultura que envolve desde a produção até o consumo da bebida na Itália e no mundo. Orgulhoso de suas origens, faz questão de trabalhar apenas com produtos locais, segundo ele de “no máximo 30 km de distância”.
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Essas obras lindas e divertidas são de um amigo chamado Luca e estão à venda. Todas nas cores branco, preto e cereja, justamente porque fazem analogia à bebida de Bacco.
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A Accademia fica na cidade de Panzano, que pertence à Greve in Chianti. Uma visita à bottega de Stefano com certeza será uma experiência prazerosa que vai tornar a sua viagem ainda muito mais agradável e até mesmo divertida.
– Atualização: Stefano morreu no dia 25 de janeiro de 2020

Sapatos sob medida

Esses dias passei em frente à uma loja e um nome feminino associado à atividade em questão me chamou a atenção : Saskia – Scarpe su Misura. Pensei: “que interessante, uma mulher que se dedica a fazer sapatos sob medida!”. Estava de bicicleta e parei no mesmo momento para observar as obras expostas. A própria Saskia estava na porta e eu me apresentei. Começamos ali um bate-papo agradável, com revelações interessantes sobre essa fascinante atividade que em todo o mundo é desenvolvida exclusivamente por homens, sendo ela talvez a única exceção em nível mundial –  na Itália é a única.
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“A minha avó materna produzia tecidos. Devo ter herdado dela essa paixão por usar as mãos e concentrar nessa parte do corpo energia e criatividade”, revela a artesã, que produz cerca de 25 pares de sapatos por ano

Vivian Saskia Wittmer é de Berlin e foi ainda quando morava na Alemanha que teve seu primeiro contato com essa atividade, a sua paixão desde criança.  Há 20 anos veio para Firenze, a cidade do artesanato, do couro e dos artistas, em busca de uma especialização, já que aqui estão os maiores mestres dessa arte.  E, em 2000, resolveu arriscar e assim abriu as portas de seu próprio ateliê,  no centro histórico de Firenze, que já triplicou de tamanho. Mas não tem pretensão de expandir, pois segundo ela, não quer por em risco a qualidade de seu trabalho.
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Desde o primeiro contato com o cliente até  a realização do primeiro par de sapatos passam-se cerca de quatro meses. Tudo é realizado a mão e o processo começa com as medidas precisas de cada cliente, além do desenho de cada pé. Os clientes são praticamente do sexo masculino, apenas 5% são mulheres. “Os homens entendem melhor o conceito do sapato sob medida e geralmente buscam modelos mais clássicos, enquanto as mulheres estão mais ligadas aos lançamentos e preferem seguir as coleções temporárias, aquilo que está na moda. Aqui eu crio o objeto com que a pessoa sempre sonhou”.  Mas realizar este sonho é para poucos: um par de sapatos custa a partir de 2.400 euros, sendo que a fôrma que ela precisa realizar para cada cliente na primeira encomenda custa 400 euros. E o valor vai aumentando de acordo com o material escolhido.  Animais como canguru, camelo e  crocodilo, chegam a custar três vezes mais.
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As fôrmas do sapato em seu laboratório são uma diferente da outra, cada uma para um cliente. E para cada par de sapatos são feitas duas formas, para respeitar a anatomia de cada pé, que geralmente tem características diferentes um do outro

Aqui Saskia exibe um em crocodilo vermelho e abaixo um modelo clássico e elegante em pele de tubarão.  Um sapato sob medida está entre os objetos dos sonhos de muitos homens.
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O perfil de clientes de seu ateliê vai desde pessoas simples a empreendedores importantes. Em comum, o bom gosto e a valorização de artigos exclusivos produzidos manualmente

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Achei linda esta sapatilha cheia de estilo, feita em pele de peixe

Engana-se quem pensa que os italianos ocupam o primeiro lugar entre seus clientes. Encabeçando a lista estão principalmente americanos e canadenses. E um país que começa a despontar com o consumo de artigos de luxo é a Rússia. “Os russos começam a se interessar por objetos únicos e compreendem o valor de produtos  exclusivos, feitos sob medida. Os chineses ainda não descobriram o fascínio de terem um artigo que não seja assinado por uma grande grife”.

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Desde o processo de idealização até a concepção do sapato Saskia cuida de absolutamente todos os detalhes.  Os modelos  são sugeridos também pela própria artesã, que escuta o cliente, a sua história, o seu modo de viver, e transporta e utiliza essas informações para concretizar o seu desejo.  Curiosamente ela contratou há pouco tempo uma ajudante japonesa. Outra apaixonada pela arte de produtos feitos inteiramente a mão.

 

 

 

 

Calcio Storico Fiorentino

O Calcio Storico Fiorentino, ou Futebol Histórico de Firenze, é outra paixão antiga dos florentinos. É uma modalidade esportiva sem regras exatas que consiste em pegar a bola utilizando mãos e pés e marcar um gol na rede do time adversário. A competição mais parece uma luta livre devido ao grande contato físico entre os participantes. Esse tipo de futebol, que lembra bastante o rugby, tornou-se uma das manifestações históricas mais importantes de Firenze.

Nascido em Florença no século 16, é uma combinação de futebol, rugby e luta livre, que hoje em dia é disputado em trajes históricos (foto Gianni Vannucchi)

A final do campeonato, que tem apenas três partidas, acontece na Piazza de Santa Croce sempre no dia 24 de junho, dia do padroeiro da cidade, San Giovanni, ou seja, São João.

 

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Integrante do cortejo histórico

 

Antes da partida, um cortejo desfila no centro da cidade com as vestimentas do século XVI. Acompanhei nesta segunda parte do percurso, que termina na Piazza Santa Croce, onde acontecem os jogos.
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Antes da partida de calcio storico acontece o cortejo pelas ruas e praças do centro de Florença

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O cortejo histórico é composto por 530 integrantes vestidos rigorosamente com roupas militares da época do Renascimento

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No momento do lançamento das bandeiras os espectadores vão ao delírio! Mesmo em um dia de muito vento, conseguiram fazer uma linda apresentação. Essas fotos foram tiradas no momento em que o Cortejo atravessava a Piazza della Signoria, a sede da prefeitura de Firenze.
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O desfile termina na Piazza Santa Croce, onde acontecem as partidas

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Logo na entrada os times comercializam as camisetas e os torcedores se trocam ali mesmo. As arquibancadas em volta à praça foram tomadas de branco e azul, as cores dos competidores dessa final

Os históricos bairros de Firenze participam simbolicamente da competição , onde os quatro times são caracterizados  cada um por uma cor: Santa Croce são Azzurri (Azuis), Santa Maria Novella são os Rossi (Vermelhos), Santo Spirito são Bianchi (Brancos) e San Giovanni são Verdi (Verdes). Quem nasce ou mora nestes bairros, teoricamente torce e joga pelo time.
Cada equipe participa com 27 integrantes, que não podem ser substituídos. A competição acontece  num campo coberto de areia com uma linha branca no meio que divide os dois times e a partida tem duração de 50 minutos.
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Energia, emoção, tensão e rivalidade à flor da pele. Esta final seria entre os brancos e os azuis. Sim, seria, pois no momento do início da partida uma chuva torrencial esfriou os ânimos de jogadores e torcedores e, pela primeira vez na historia, a final foi adiada e será realizada neste domingo.
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A expectativa era grande. Para os torcedores florentinos dos bairros envolvidos na competição, uma final do calcio storico é sentida como a decisão de copa do mundo de futebol. As torcidas ficam separadas: os brancos estavam próximos à igreja enquanto os azuis nas arquibancadas do lado oposto.
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A banda já havia anunciado a entrada dos jogadores em campo. Só que no momento em que a partida estava para começar a chuva chegou e estragou a festa. Pela primeira vez a final não foi decidida no dia 24, para decepção do publico, que não queria ir embora.
Quem mora perto da praça assiste às disputas de camarote! Alguns enfeitam as  janelas com a cor do seu time preferido. Neste caso, como a competição acontece na Piazza Santa Croce, é o azul que prevalece.
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O acesso à Praça Santa Croce é restrito aos que compram o bilhete para assistir à partida. Uma multidão de curiosos se aglomera proximo às entradas.
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A praça ganha a mesma aparência desde quando teve início a modalidade, ou seja, as pedras são cobertas de areia

Como surgiu – O Calcio Storico Fiorentino tem origens antigas e a partida mais famosa aconteceu em 17 de fevereiro de 1530 quando os florentinos, ameaçados pelas tropas imperiais de Carlo V, iniciaram uma partida na Piazza Santa Croce tentando ignorar o exército. Já o primeiro torneio entre bairros da cidade aconteceu em 1930 e os participaram vestiram roupas históricas do século 16 e até hoje os jogadores usam trajes do período renascentista durante as partidas. Hoje é uma tradição esportiva que envolve quase toda a população local e muitos turistas.
Através dessas fotos abaixo de Gianni Vannucchi vocês poderão ter uma ideia de como os jogadores se vestem.  Mais informações no site oficial do Calcio Storico Fiorentino.

 

 

 

 

Fotos Gianni Vannucchi

 

 

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Mercado de rua de San Lorenzo

No centro histórico de Firenze, perto da Basílica de San Lorenzo, acontece o famoso mercado de rua de San Lorenzo, uma feira enorme de produtos artesanais. Essa região desenvolveu-se principalmente por causa desta catedral, que foi a primeira de Firenze, construída no ano de 393.

 

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Um passeio ao mercado de San Lorenzo é etapa fundamental para quem visita a cidade. Ali você poderá encontrar os tão requisitados artigos em couro por quem visita Firenze. Carteiras, bolsas, cintos e jaquetas de diferentes cores e modelos enfeitam e divertem o ambiente. Essas bolsas em tom flúor, que são a febre desta estação e estão em muitas vitrines da cidade, também são encontradas nas bancas do mercado a um preço bem modesto. Como acontece em muitos países do mundo, neste mercado você pode também praticar a pechincha. Muito comum ver turistas, mesmo através de mímica, tentando um descontinho com os feirantes.

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Alguns artistas realizam as suas obras ali mesmo nas calçadas, para deleite dos passantes. Firenze é realmente um museu a céu aberto que te proporcionará inclusive, a possibilidade de contato com o criador e a criatura.

Festival do sorvete em Firenze

Que Firenze é o berço do Renascimento todo mundo sabe. Mas tem outro título que a cidade carrega com muito orgulho: aqui foi inventado o sorvete, o famoso gelato, por Bernardo Buontalenti (essa é uma das versões dessa deliciosa invenção, que é circundada de algumas incertezas). Na verdade Buontalenti foi o primeiro a prepará-lo à base de leite, em 1559. Os italianos se aprimoraram nesta arte e indiscutivelmente é aqui que você encontra o melhor sorvete do mundo, de uma cremosidade única e feito com matéria prima de primeiríssima qualidade.
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Pelo quarto ano consecutivo, Firenze é palco do Gelato Festival, que começou no dia 17 com encerramento previsto para esta noite. Dentre tantos chefs da arte do sorvete de todo o mundo, tem uma brasileira que está atraindo a curiosidade com uma receita que leva um produto tipicamente brasileiro: a cachaça.  A paulista Márcia Garbin, de São Paulo,  criou o Caffè lime con panna alla cachaça. “O sabor escolhido para a competição é com ingredientes que remetem ao Brasil mas respeitando as tradições italianas. Fiz questão de trazer o sabor brasileiro , como o café, já que somos o maior produtor do mundo e porque o produto tem tudo  a ver com a Itália, que é o maior apreciador do mundo deste produto. E resolvi misturar o creme de leite com a cachaça e o limão-taiti, que usamos para fazer a caipirinha, dando assim um toque bem brasileiro”, explicou Márcia enquanto preparava a sua receita no laboratório móvel  batizado de “Buontalenti”. Eu experimentei o sorvete (fiz  esse sacrifício, rs!) e garanto que o sabor é único, diferente de tudo que eu havia provado.
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Esta não é a primeira vez que Márcia participa da competição. Ela faturou o terceiro lugar ano passado enquanto concorria pela categoria revelação. Voltou nesta edição na categoria Master.Formada pela Cordon Bleu de Paris,  se especializou na Carpigiani Gelato University, aqui na Itália. E assim que voltar para o Brasil vai se dedicar ao seu novo projeto:  vai abrir nos Jardins, em São Paulo, a sua “Gelato Boutique“, daqui a alguns meses.
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Mas além da Márcia o festival, que conta com participantes de Portugal e da Guatemala, tem outro concorrente que nasceu no Brasil. É Simone Deodati, brasileiro de Natal que veio para a Itália poucos dias após o nascimento. Ele escolheu quatro ingredientes para criar a sua receita: nozes, chocolate amargo, canela e laranja. Um mix incrível de sabores que resultou em uma delícia que deixa gostinho de “quero mais”. Simone vive na província de Terni, próximo a Roma, onde comanda a sorveteria New Moon.
O festival do sorvete acontece em três praças de Firenze. Além de Santa Maria Novella, que fica próxima à estação de trem, o evento tem stands nas praças Repubblica e Strozzi.
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De 31 de maio a 2 de junho o festival vai acontecer em  Milão, depois segue para Torino, de 7 a 9 de junho e finalmente chega à capital italiana. O Gelato Festival acontece em Roma entre 21 e 23 de junho.
Extra, extra! Em primeira mão: A Márcia acaba de enviar mensagem dizendo que saiu o resultado do júri e o vencedor foi o florentino Giampiero Burgio, que inventou um sorvete de queijo Pecorino com pinoli e mel. Ele é dono da sorveteria Gippino, em Lastra a Signa, perto de Firenze. Mas o resultado do público, que é o mais importante, sairá apenas no mês de julho. Estamos na torcida!
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O Gelato Card custa dez euros e você tem direito a experimentar cinco sabores em qualquer um dos stands espalhados nos três pontos da cidade. Adquirindo o cartão é possível participar de cursos, oferecidos diariamente durante o evento, com famosos chefs que ensinam diversas receitas tendo como protagonista o sorvete.
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Quando cheguei na Piazza Santa Maria Novella Márcia estava com a mão na massa, super concentrada preparando a sua receita.
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O laboratório móvel Buontalenti é o local onde os chefs preparam os sorvetes: atração na praça Santa Maria Novella.
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Simone se dedica à arte de preparar sorvetes artesanais desde 2005 e comanda uma gelateria na província de Terni

 

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O estrelado mestre sorveteiro Giorgio Zanatta, diretor técnico e artístico do festival. Ele seleciona os candidatos e assessora no processo de criação das receitas. “Se acho que um sabor não vai dar certo eu oriento o candidato até conseguirmos o equilíbrio perfeito de sabores”, explicou ao nosso blog, fazendo questão de responder em português

 

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Os participantes preparam os sorvetes neste laboratório móvel que tem vidro nas laterias, assim os expectadores podem apreciar e entender o processo de fabricação do sorvete.

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Feira de Antiguidades na Fortezza em Firenze

Eu adoro frequentar as feirinhas de rua aqui da Itália. Em Firenze, a que mais gosto é a que acontece no jardim da Fortezza da Basso, que fica a cinco minutos a  pé da estação ferroviária de Firenze.

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A mostra acontece todos os terceiros sábados e domingos do mês, exceto nos meses de julho e agosto. Nesta feira de antiguidades e do usado você encontra móveis, artigos de colecionadores, bijuterias, livros, quadros, estampas, roupas e utensílios. Se você tiver “olho clínico” vai encontrar peças únicas e interessantes a preços mais baixos do que se estivesse exposta em alguma loja de antiguidades.Fiz algumas fotos dos meus “achados” pra vocês conferirem. Busco sempre bijuterias antigas e peças de decoração para a casa.  Já comprei quadros e até um móvel de 1800 que coloquei no meu quarto e utilizo como vitrine para livros e artigos pessoais.E quem estiver visitando a Toscana e quiser ficar por dentro da programação das feiras, basta clicar aqui.

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A feira de antiguidades acontece no jardim da Fortezza da Basso, sede de numerosos eventos importantes, como o Pitti Uomo

 

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  • Devido  às obras para a instalação da  tramvia de Firenze, desde fevereiro de 2015, a feira está acontecendo na Piazza Vittorio Veneto, entre o Teatro dell’Opera e a ponte alla Vittoria (perto da parque Le Cascine).