Arquivo da tag: arte contemporanea em firenze

Exposição de Weiwei em Firenze

Conhecido por seu espírito rebelde e provocador, o artista plástico contemporâneo Ai Weiwei está expondo em Firenze no histórico Palazzo Strozzi, até o dia 22 janeiro.  O artista, que está celebrando seus 30 anos de carreira, é uma das maiores expressões pela liberdade de expressão. Ele retrata em suas obras temas atuais e propõe aos visitantes um percurso entre instalações monumentais, esculturas, vídeos, fotografias e objetos que são símbolo de sua carreira.

artista-weiwei

O artista chinês é conhecido em todo o mundo pela luta pelos diretos humanos e liberdade de expressão

Weiwei, 57 anos, já levou sua arte aos maiores museus do mundo e traz para Firenze 60 delas, sendo algumas inéditas. Dentre suas obras expostas se alternam aquelas de significado artístico com outras de apelo político e social.

strozzi

Reframe- A fachada do Palazzo Strozzi ganhou 22 botes vermelhos de borracha para chamar a atenção para os refugiados

 

weiwei

No pátio do elegante Palazzo Strozzi, a obra Refraction

Conhecendo as obras de Weiwei

Aqui começa  o percurso expositivo. Com 950 bicicletas, a instalação Stacked mostra o meio de transporte muito comum utilizado na China. Ai weiwei quer chamar a atenção para  o problema do transporte e seu impacto para o ambiente.

wei-wei

Nesta instalação o artista utilizou 950 bicicletas

A obra abaixo chama-se Snake Bag. Em 2008 um terremoto em Sichuan fez 70 mil vítimas, dentre as quais milhares de estudantes, que morreram devido aos desabamentos das escolas que haviam sido feitas com material precário. A memória do drama é representada nesta obra, formada por 360 mochilas costuradas em forma de serpente.

snake-bag

A obra Snake Bag

 

Está vindo para Firenze e precisa de hospedagem? Então confira as dicas de hotéis em Firenze.

 

dsc_0885

weiwei

A foto do centro é o Palazzo Strozzi, onde o artista está expondo

Study of Perspective – São 40 fotografias que foram expostas em 2 salas onde o artista mostra o braço esquerdo com o dedo médio apontado para famosos monumentos mundiais, como a Casa Branca, Torre Eiffel  e o Coliseu. Sua intenção é chamar a atenção do espectador para que reflita sobre a própria visão sobre o governo, instituição e cultura.

ai-weiwei

Visitei a mostra em companhia da Juliana. Aqui ela aparece otografando para o seu perfil do Instagram @coisasdejuh

weiwei

Han Dynasty Vases with Auto Paint. Nesta sala a serie é constituída de 3 fotografias com os vasos pintados ao centro. A sequencia fotográfica mostra Weiwei soltando o vaso até que ele se rompa. Sua expressão é a mesma em todas as fotos

Renaissance – Criadas especialmente para esta exibição, algumas obras da sala Renaissance são retratos de personalidades toscanas como Dante Alighieri e Galileu Galileu, feitos em lego.

dsc_0888

dsc_0901

He Xie, 2011 (em porcelana) “He Xie” em chinês significa rio de caranguejo mas significa também harmonia, palavra predileta do regime que na linguagem da internet significa censura

weiwei

Souvenir de Shanghai, 2012

No andar subterrâneo, na sala Strozzina, a mostra continua com uma série de fotografias do período em que Weiwei viveu em Nova York, entre os anos 80 e 90, quando descobriu a arte de Andy Warhol e Marcel Duchamp.

weiwei

“Tudo é arte, tudo é política”

dsc_0906

weiwei

No elevador do Palazzo Strozzi uma foto de Weiwei quando foi preso. Ele passou 81 dias na prisão por criticar o governo chinês

Ai weiwei . Libero (Palazzo Strozzi, Firenze)

De 23 de setembro a 22 de janeiro

Horários: diariamente da 10 às 20 (quintas atè as 23 h)

Valor do ingresso: 12 euros (inteiro)

 

 

A street art de Clet

Quanta coragem uma pessoa precisa ter para entrar no museu Uffizi – sem que os seguranças percebam – com o próprio autorretrato debaixo do braço e pendurá-lo na parede de uma de suas salas? Pois o artista contemporâneo Clet Abraham o fez. Ele me contou que há cerca de 5 anos entrou na Galleria Uffizi e colocou a sua pintura na parede, que no momento estava vazia depois que uma obra de Bronzino havia sido retirada para exposição em outro local. Antes de ir embora ele ainda tirou uma foto para registrar a brincadeira, que só foi percebida no dia seguinte. Assim é Clet: um provocador. Ele quis chamar a atenção para os artistas que vivem e trabalham em Firenze.
clet
O pintor e escultor Clet Abraham é francês e vive na Itália desde 1990.  Depois da graduação em Belas Artes na França,  escolheu Roma para atuar como restaurador de móveis mas descobriu na street art a sua paixão.  Desde 2006 vive em Firenze, onde montou seu studio numa esquina do bairro de San Niccolò, nas redondezas do Piazzale Michelangelo.
clet

As simpáticas intervenções nos sinais de trânsito

Clet é conhecido em toda a Europa por modificar os cartazes estradais aplicando adesivos cheios de humor nas placas. Mas que fique claro: sempre respeitando o real sentido das placas e sem colocar em risco a segurança das estradas. A placa preferida é a vermelha com um traço branco na parte central, que significa sentido proibido.
ùduomo-firenze
Suas obras estão espalhadas em diversas cidades européias e também nos Estados Unidos, por enquanto em Nova York. Já tem planos de modificar alguns cartazes no Canadá, pois em setembro estará visitando seu irmão em Quebec, e informa que vai levar pra lá também o seu trabalho. Ainda não esteve no Brasil mas disse que tem muita vontade.
Streeart

Seu objetivo maior é provocar. Tenta transformar os cartazes em mais humanos em mensagens de liberdade e anti-conformismo

Os adesivos são fixados geralmente nos finais de semana, depois que deixa os restaurantes, lá pelas 11, meia-noite ou 1 da manhã. Num gesto que dura poucos minutos, ele usa a sua bicicleta para conseguir alcançar as placas e voilà… mais um cartaz modificado, sempre sob o olhar cúmplice da namorada, a japonesa Mami Urakawa. Inclusive ela foi presa ano passado em Osaka pois no Japão é crime ter um relacionamento com um artista de rua. Mami também foi acusada de ter ajudado Clet a alterar mais de 80 cartazes no Japão, onde estavam passando temporada. Clet retornou à Italia mas sua namorada passou 4 meses na cadeia.
clet

 

Nem mesmo aqui na Itália o trabalho de Clet é completamente aceito e o artista coleciona diversas multas por violação de bens públicos.  Mas há esperança para que as coisas melhorem. Há poucos dias Clet encontrou-se com o prefeito de Firenze Dario Nardella e parece que finalmente fizeram as pazes. Sobre conseguir livrar-se de todas as multas que acumula é ainda um capítulo a parte, mas ao menos o prefeito admitiu que a sua arte não é vandalismo. Curiosamente, 2 prefeituras contrataram seu trabalho e ele tornou mais simpáticas e coloridas as placas das localidades de Calenzano e Dicomano,  que pertencem à província de Firenze.

 

Estive em seu ateliê para saber um pouco mais sobre a sua ousada atividade:

 

1- Desde quando você conseguiu o direito de fazer as intervenções nos cartazes sem problemas? Quero dizer, desde quando seu trabalho foi aceito pelas autoridades?
Na verdade não aceitam totalmente o meu trabalho. A prefeitura sim, mas a polícia não. Mas as pessoas adoram e me dão muito apoio, apesar de existirem algumas forças que são contrarias: a justiça e a polícia. As forças obscuras que estão por trás da SAS (Società alla Strada) não aceitam de jeito nenhum. Eles não apenas tiram os adesivos, mas retiram os cartazes com os adesivos e os substituem. Eu ja pedi o meu trabalho de volta mas eles não devolvem. E isso acaba tendo um custo alto pra eles, pois recolocam um cartaz novo.
2 – Mas os policiais passam diariamente em frente às placas com seu trabalho e não o retiram.
Há 2 semanas enquanto eu estava perto da Ponte Vecchio e estava colocando o adesivo o policial pediu que eu não alterasse o cartaz. Eu não obedeci e continuei meu trabalho. Acabo de passar lá e vi que o cartaz continua no mesmo lugar.

3 – Qual a mensagem que quer transmitir através da sua arte?
É uma mensagem multipla. Primeiro que a lei não é religião, não deve ser uma imposição. Eu sou contra todo tipo de imposição. A lei é sempre atrasada. A lei devia ser um ponto de referência e não uma coisa imposta. A partir do momento que precisamos obedecer perdemos a nossa capacidade intelectual.

4-Como surgiu o convite para fazer uma intervençao em um dos mais importantes predios de Siena, em plena Piazza Maggiore?
Siena estava concorrendo para ser a capital da cultura e me convidaram para fazer um trabalho no Palazzo . Ficou cerca de 1 mês.

5- Eu acho o fiorentino um pouco tradicionalista e imagino que resista um pouco em aceitar a sua arte. É desse jeito? Qual a idade média dos seus maoires admiradores?
O fiorentino é muuuito tradicionalista. A faixa etária que mais aprecia o meu trabalho é de pessoas entre 25 e 35 anos. Mas o que me deixa muito feliz é ver o nonno que traz o netinho aqui para admirar o meu trabalho. É uma grande satisfação quando percebo que a minha arte agrada a gerações diferentes.

 

DSC_1010

Os cartões-postais e os adesivos são vendidos em seu atelier por 1 euro. A loja fica na Via dell’Olmo, 8 r, em San Niccolò no Oltrarno

 

Clet também adquire cartazes estradais diretamente das empresas que os produzem e utiliza os mesmos motivos das intervenções que faz nas placas de rua. Obviamente essa é uma atividade regularizada. Portanto, você também pode ter em sua casa ou studio uma obra assinada pelo artista.

 

clet

Esta loja que fica na via della Spada vende alguns dos trabalhos do artista. As placas estão em torno de 5 mil reais

 

Alguém já tinha reparado essas intervenções em alguma cidade européia ou em Nova York?