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A street art de Clet

Quanta coragem uma pessoa precisa ter para entrar no museu Uffizi – sem que os seguranças percebam – com o próprio autorretrato debaixo do braço e pendurá-lo na parede de uma de suas salas? Pois o artista contemporâneo Clet Abraham o fez. Ele me contou que há cerca de 5 anos entrou na Galleria Uffizi e colocou a sua pintura na parede, que no momento estava vazia depois que uma obra de Bronzino havia sido retirada para exposição em outro local. Antes de ir embora ele ainda tirou uma foto para registrar a brincadeira, que só foi percebida no dia seguinte. Assim é Clet: um provocador. Ele quis chamar a atenção para os artistas que vivem e trabalham em Firenze.
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O pintor e escultor Clet Abraham é francês e vive na Itália desde 1990.  Depois da graduação em Belas Artes na França,  escolheu Roma para atuar como restaurador de móveis mas descobriu na street art a sua paixão.  Desde 2006 vive em Firenze, onde montou seu studio numa esquina do bairro de San Niccolò, nas redondezas do Piazzale Michelangelo.
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As simpáticas intervenções nos sinais de trânsito

Clet é conhecido em toda a Europa por modificar os cartazes estradais aplicando adesivos cheios de humor nas placas. Mas que fique claro: sempre respeitando o real sentido das placas e sem colocar em risco a segurança das estradas. A placa preferida é a vermelha com um traço branco na parte central, que significa sentido proibido.
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Suas obras estão espalhadas em diversas cidades européias e também nos Estados Unidos, por enquanto em Nova York. Já tem planos de modificar alguns cartazes no Canadá, pois em setembro estará visitando seu irmão em Quebec, e informa que vai levar pra lá também o seu trabalho. Ainda não esteve no Brasil mas disse que tem muita vontade.
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Seu objetivo maior é provocar. Tenta transformar os cartazes em mais humanos em mensagens de liberdade e anti-conformismo

Os adesivos são fixados geralmente nos finais de semana, depois que deixa os restaurantes, lá pelas 11, meia-noite ou 1 da manhã. Num gesto que dura poucos minutos, ele usa a sua bicicleta para conseguir alcançar as placas e voilà… mais um cartaz modificado, sempre sob o olhar cúmplice da namorada, a japonesa Mami Urakawa. Inclusive ela foi presa ano passado em Osaka pois no Japão é crime ter um relacionamento com um artista de rua. Mami também foi acusada de ter ajudado Clet a alterar mais de 80 cartazes no Japão, onde estavam passando temporada. Clet retornou à Italia mas sua namorada passou 4 meses na cadeia.
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Nem mesmo aqui na Itália o trabalho de Clet é completamente aceito e o artista coleciona diversas multas por violação de bens públicos.  Mas há esperança para que as coisas melhorem. Há poucos dias Clet encontrou-se com o prefeito de Firenze Dario Nardella e parece que finalmente fizeram as pazes. Sobre conseguir livrar-se de todas as multas que acumula é ainda um capítulo a parte, mas ao menos o prefeito admitiu que a sua arte não é vandalismo. Curiosamente, 2 prefeituras contrataram seu trabalho e ele tornou mais simpáticas e coloridas as placas das localidades de Calenzano e Dicomano,  que pertencem à província de Firenze.

 

Estive em seu ateliê para saber um pouco mais sobre a sua ousada atividade:

 

1- Desde quando você conseguiu o direito de fazer as intervenções nos cartazes sem problemas? Quero dizer, desde quando seu trabalho foi aceito pelas autoridades?
Na verdade não aceitam totalmente o meu trabalho. A prefeitura sim, mas a polícia não. Mas as pessoas adoram e me dão muito apoio, apesar de existirem algumas forças que são contrarias: a justiça e a polícia. As forças obscuras que estão por trás da SAS (Società alla Strada) não aceitam de jeito nenhum. Eles não apenas tiram os adesivos, mas retiram os cartazes com os adesivos e os substituem. Eu ja pedi o meu trabalho de volta mas eles não devolvem. E isso acaba tendo um custo alto pra eles, pois recolocam um cartaz novo.
2 – Mas os policiais passam diariamente em frente às placas com seu trabalho e não o retiram.
Há 2 semanas enquanto eu estava perto da Ponte Vecchio e estava colocando o adesivo o policial pediu que eu não alterasse o cartaz. Eu não obedeci e continuei meu trabalho. Acabo de passar lá e vi que o cartaz continua no mesmo lugar.

3 – Qual a mensagem que quer transmitir através da sua arte?
É uma mensagem multipla. Primeiro que a lei não é religião, não deve ser uma imposição. Eu sou contra todo tipo de imposição. A lei é sempre atrasada. A lei devia ser um ponto de referência e não uma coisa imposta. A partir do momento que precisamos obedecer perdemos a nossa capacidade intelectual.

4-Como surgiu o convite para fazer uma intervençao em um dos mais importantes predios de Siena, em plena Piazza Maggiore?
Siena estava concorrendo para ser a capital da cultura e me convidaram para fazer um trabalho no Palazzo . Ficou cerca de 1 mês.

5- Eu acho o fiorentino um pouco tradicionalista e imagino que resista um pouco em aceitar a sua arte. É desse jeito? Qual a idade média dos seus maoires admiradores?
O fiorentino é muuuito tradicionalista. A faixa etária que mais aprecia o meu trabalho é de pessoas entre 25 e 35 anos. Mas o que me deixa muito feliz é ver o nonno que traz o netinho aqui para admirar o meu trabalho. É uma grande satisfação quando percebo que a minha arte agrada a gerações diferentes.

 

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Os cartões-postais e os adesivos são vendidos em seu atelier por 1 euro. A loja fica na Via dell’Olmo, 8 r, em San Niccolò no Oltrarno

 

Clet também adquire cartazes estradais diretamente das empresas que os produzem e utiliza os mesmos motivos das intervenções que faz nas placas de rua. Obviamente essa é uma atividade regularizada. Portanto, você também pode ter em sua casa ou studio uma obra assinada pelo artista.

 

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Esta loja que fica na via della Spada vende alguns dos trabalhos do artista. As placas estão em torno de 5 mil reais

 

Alguém já tinha reparado essas intervenções em alguma cidade européia ou em Nova York?

 

Arte de rua em Firenze

Basta um passeio pelas ruas do centro de Firenze para perceber a sua estreita relação com a arte. O berço do Renascimento inspira e encanta com as suas belezas e a paisagem ganha também um reforço com os diversos artistas que se espalham pelas ruas e esquinas

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No post de hoje  mostro não apenas os  trabalhos de artistas que pintam telas e que desenham no chão mas também obras de artistas contemporâneos, de streetart, músicos e alguns clicks de cenas da cidade com atores que se apresentam como estátuas humanas próximos às principais atrações da cidade. E também simplesmente pessoas que buscam inspiração na arquitetura local para pintarem seus quadros.

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Este distinto senhor se apresenta na via Della Vigna Nuova, pertinho das lojas mais luxuosas e prestigiosas de Firenze

 

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A cidade sempre fonte de inspiração à estudantes de artes, como essa moça que estava reproduzindo as construções no Lungarno

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Aqui os trabalhos de Clet Abraham, um pintor e escultor francês que vive em Firenze desde 1990 e é um dos mais famosos artistas de street art da Europa.
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Com obras principalmente na Itália, Clet já deixou registrado os seus traços em cidades como Nova York, Paris, Amsterdam e Madri, sempre respeitando e mantendo-os legíveis mas imprimindo simpatia e ironia

Realidade artística contemporânea – São de Clet os traços e interferências nas placas urbanas que vimos espalhadas por toda a cidade e que despertam a curiosidade de todos. Alguns de seus cartazes já soaram provocativos mas Clet se defende dizendo que somos cada vez mais bombardeados de sinais e que o espaço urbano nos envia uma quantidade de mensagens basilares e unilaterais: “mesmo que úteis, mas sem personalidade. Queria que a unilateralidade da menagem viesse substituído pelo conceito da reversibilidade: se acrescenta um novo significado à primeira, levando-a a outro nível de leitura”.

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Clet escolheu os cartazes para se expressar pois os sinais urbanos são a única forma de arte contemporânea que conseguiu se impor com prepotência no espaço público

A concept store  Mio  vende objetos únicos de artesanato e street art, esculturas e edições limitadas de artigos feitos a mão. As placas do artista Clet abraham fazem parte da seleta seleção de artistas.

 

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Os artistas que desenham nas calçadas, conhecidos como madonnari.

 

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Os artistas que comercializam seus trabalhos pagam à prefeitura da cidade uma taxa anual para utilizo do solo público

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Que privilégio de quem pode colocar em prática os dotes artísticos em um cenário como este. E privilégio maior de quem pode presenciar cenas como estas! Firenze te proporciona tudo isso e muito mais…