Arquivo da categoria: Arte e Cultura

A Pietà de Michelangelo

Realizada no final do século 15, a  Pietà é uma das obras-primas de Michelangelo.  Através dela podemos perceber como o mármore pode ser repleto de sentimento.  A obra retrata  Maria com o corpo sem vida de Jesus em seus braços. Aqui 9 curiosidades sobre essa maravilhosa escultura, que é uma das mais tocantes da arte católica:

1 –  A obra foi  encomendada pelo cardeal francês Jean de Billhères de Lagraulas,  provavelmente para decorar o seu túmulo em Santa Petronilla, uma capela anexa à San Pietro

2- Michelangelo Buonarroti realizou a escultura entre 1498 e 1499, quando havia pouco mais de 20 anos

3- é a única obra  assinada pelo artista.  Nas vestes de Maria o artista gravou: MICHAEL.ANGELVS.BONAROTVS.FLORENT.FACIEBAT (“realizada pelo florentino Michelangelo Buonarroti’)

 

4 – A Pietà, que mede 1,74 m por 1,95 foi esculpida em um único bloco de mármore de Carrara,  escolhido pessoalmente pelo artista

 

5-  A Pietà esteve em Nova York no ano de 1964 durante a New York World’s Fair

 

6-   Devido a atos de vandalismo, a obra fica protegida por  um vidro. A escultura, principalmente a Virgem,  foi bastante danificada a marteladas por um vândalo no ano de 1972

 

7-  A obra  havia sido inicialmente colocada na Capela Petronilla, um mausoléu perto de San Pietro.  Pouco antes de 1517, a obra foi transferida para a sacristia da Basílica de São Pedro, no Vaticano . Sua localização atual, na primeira capela à direita da nave da basílica, remonta ao ano de 1749

8-  A Pietà era um tema incomum na Itália. Chamado Vesperbild na Alemanha, a  representação da Madonna sentada com o corpo morto de Cristo no colo  era um tema tipicamente nordico

 

9 –  Maria foi retratada jovem. Mesmo essa escolha  teve um valor espiritual para Michelangelo.  Maria não é julgada em termos de parentesco com o filho, sua juventude revela a perfeição de alma e a incorruptibilidade do pecado. Michelangelo se defendeu das críticas explicando que a virgindade e a pureza mantêm as mulheres jovens e bonitas.

 

Essa  escultura é realmente impressionante!  Quem já teve a oportunidade de admirá-la?

 

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Taste Firenze – excelência da enogastronomia italiana

Florença se prepara para mais uma edição de Taste, evento dedicado à excelência da enogastronomia italiana e do sabor e à evolução do food lifestyle. Depois de dois anos de intervalo devido à pandemia, Taste volta a acontecer, entre 26 e 28 de março e pela primeira vez em nova location, na Fortezza da Basso e com um calendário rico de eventos.

Pitti Immagine confirma a 15 ª edição de Taste, que acontece entre 26 e 28 de março na Fortezza da Basso

Agostino Poletto, direttore generale di Pitti Immagine.

Participei da conferência para a imprensa, que aconteceu no Orto San Frediano, no Oltrarno, um espaço novo na cidade que surgiu da reconstrução de um viveiro histórico no coração do Oltrarno, no Jardim Torrini. Esse novo espaço privado que se abre para a cidade para oferecer múltiplas experiências de sabor, como jantares, eventos privados e lições de cozinha,  sob o comando de chef Enrica Della Martira.

A chef Enrica Della Martira

Taste 2022 – Foram muitas as novidades anunciadas para a 15ª edição,  a começar pela localização. Taste cresce e de fato se muda para a Fortezza da Basso, com um roteiro expositivo que começa no piso sótão do Pavilhão Central, para descer até o térreo e de lá prosseguir para o Pavilhão Cavaniglia. É um percurso que vai do salgado ao doce,  como biscoitos, mostarda,  café, geleias , bebidas,  chás, azeites, conservas, queijos, presuntos e uma grande variedade de produtos, totalizando 470 expositores, sendo que desse total,  130 novas empresas.  O foco da edição deste ano é  “desperdício zero e meio ambiente”: não desperdicemos comida, não desperdicemos o meio ambiente.

Taste é o mais significativo evento do setor da gastronomia italiana, com participação das mais importantes empresas de enogastronomia nacionais . É uma oportunidade não só aos compradores e profissionais, mas também aos visitantes e foodlovers que circulam pelos stands da feira.

FuoriDiTaste – A cada edição do Taste a cidade de Florença ganha vida com uma série de iniciativas ligadas ao paladar: é  o FuoriDiTaste, um calendario repleto de eventos paralelos, com cerca de 50 degustações temáticas, eventos especiais e palestras. Um programa que une as empresas participantes do evento e alguns dos mais belos locais e clubes da cidade, e que de edição em edição registra crescente interesse e participação dos entusiastas gourmet. Há alguns anos participei do Fuori di Taste, dedicado a degustações  de vinhos , queijos e produtos típicos da culinária toscana.

Para mais informações, acesse a página oficial de Taste.

 

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Campanário de Giotto de Florença

Dentre os maiores símbolos de Florença  está o Campanário de Giotto,  uma das 4 principais construções do complexo da Piazza Duomo, que fica ao lado da majestosa Catedral Santa Maria Del Fiore. A torre dos sinos foi desenhada pelo artista Giotto di Bondone –  por esse motivo recebeu esse nome – e é um maravilhoso exemplo da arquitetura gótica florentina do século 14. O  Campanile di Giotto de Florença é aberto à visitação, mas é preciso superar seus 414 degraus! Mas asseguro que a vista deslumbrante que temos do terraço panorâmico  vale o esforço!

 

O campanário é em total harmonia de cores com a Catedral Santa Maria del Fiore, o Duomo de Florença. Possui revestimento de mármore branco, verde e vermelho semelhante ao da igreja. A subida até o topo da torre dos sinos não é muito fácil e  em nenhuma parte do percurso há elevador. É  preciso superar  seus exatos 414 degraus a pé.  Construída no século 14,  a torre em estilo gótico tem 84,70 metros de altura e 15 m de largura.

 

Durante o percurso de subida existem dois terraços panorâmicos onde é possível fazer uma pausa para descansar e apreciar o panorama.

A escadaria que conduz até o terraço panorâmico é bem estreita e não há elevador em nenhuma parte do trajeto, sã 414 degraus

História da construção do campanário 

Sua construção começou em 1334,  depois que um incêndio no ano de 1333 destruiu a torre do sino de Santa Reparada, igreja  que existia antes do atual Duomo de Santa Maria del Fiore.  Giotto di Bondone, que era um dos principais pintores e arquitetos da época,  foi contratado para completar a obra, cuja primeira pedra foi lançada em 9 de julho de 1334. Giotto conseguiu acompanhar os trabalhos por apenas 3 anos seguintes, até a sua  morte.

A realização da torre   prosseguiu com Andrea Pisano,  que terminou os 2 primeiros andares seguindo os projetos de Giotto.  Devido à peste negra os trabalhos foram interrompidos durante dois anos, de 1348 a 1350,  e a conclusão da obra deu-se com Francesco Talenti, no  ano de 1359.

Quando foi construído,  o campanário era unido à igreja por uma  ponte,  que foi demolida em 1431

O campanário possui um conjunto de 7 sinos. O maior sino é chamado Santa Reparata em homenagem à santa, já que assim era chamada a igreja sobre a qual foi erguida a atual catedral.  Os outros sinos  são chamados Misericordia, Apostolica, Assunta, Mater Dei, Annunziata e Immacolata, todos nomes relacionados à Madonna.

A torre surgiu não apenas como um complemento do Duomo, mas como um monumento “independente”. A obra foi erguida  destacada da igreja, mostrando sua importância e autonomia. A torre era tão importante que, segundo narrou Vasari, assim que Giotto assumiu o cargo na direção de todo o trabalho, ele cuidou principalmente da torre sineira e  bem menos  da igreja.

O campanário  apresenta base quadrada e é considerada a mais bonita da Itália e foi provavelmente criada mais como elemento decorativo do que funciona

A rica decoração do campanário  é constituída por 54  relevos e 16 estátuas em tamanho natural nos nichos, obras de mestre florentinos dos  séculos 14 e 15, incluindo Andrea Pisano, que  realizou o primeiro e mais importante núcleo a  partir de 1334,  Donatello e Luca della Robbia. Os ciclos figurativos foram substituídos por cópias,  pois os originais encontram-se no museu da Ópera do Duomo.

As estátuas e os relevos originais do campanário estão custodiados no Museu dell’Opera del Duomo

 

A parte inferior da torre é decorada com 54 baixos-relevos, enquanto na área superior existem várias estátuas de santos e profetas

 

Os mais de 50 relevos da decoração, em formas de  hexágonos e losangos,   celebram o o trabalho humano

 

Informações Campanário de Giotto

Horário: das 8:15 às 19:20 (os horários podem sofrer alterações a qualquer momento devido a eventos extraordinários)

Fechamento: sempre na primeira terça-feira de cada mês

Valor do bilhete: 18 euros. O bilhete unico do Grande Museo del Duomo da acesso ao campanário, batistério, cripta e Museo do Duomo e cripta na catedral e tem validade de 72 horas.

A subida não é recomendada para pessoas que sofrem de coração, tonturas e claustrofobia

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1 dia em Orvieto

A  Úmbria, conhecida como o coração verde da Itália, é uma região repleta de maravilhosos burgos medievais. Dentre os mais visitados está Orvieto, onde é possível passar 1 dia de  visita e conhecer suas principais atrações, que ficam próximas uma das outras e o percurso pela cidade é quase intuitivo. Com cerca de 20 mil habitantes, Orvieto tem atrativos turísticos, naturais e culturais, sendo que os mais importantes são o  espetacular  Duomo com sua fachada em estilo gótico e o famoso poço de San Patrizio.  Além dos museus e monumentos de Orvieto, também existem áreas verdes e parques para os amantes da natureza e passeios ao ar livre.

Orvieto está localizada na província de Terni, mas fica a cerca de 80 quilômetros desta cidade

Orvieto é uma cidade “museu” que viveu diferentes épocas históricas,  como etrusca e medieval, representando um centro de grande importância histórica e cultural em toda a Itália. Nós estávamos viajando de carro pela região e buscamos  estacionamento , que  é a pagamento, perto da linha da funicular e dali atingimos o centro histórico, que fica na parte alta.

 

Orvieto é chamada de “Alta e estranha” e não é difícil entender por quê. Situada numa bonita falésia de tufo, Orvieto domina todo o panorama!

Assim que chegamos pela funicular  seguimos pela via Cavour, que praticamente divide a cidade em duas partes. É  uma área pedonal com lojinhas, bares e ateliês, com produtos realizados a mão pelos artesãos locais. Mostro aqui as principais atrações de Orvieto:

Orvieto é um charmoso burgo na Úmbria com cerca de 20 mil habitantes

Jardim Albatroz – A Fortaleza Rocca ou Albornoz é acessível a partir da Piazza Cahen e hoje abriga os principais jardins públicos da cidade. A fortificação original  remonta a 1364,  com fosso e pontes levadiças, mas hoje apenas uma parte permanece com a bela torre, ainda em perfeito estado.

 

Duomo de Orvieto – A catedral de Santa Maria Assunta de Orvieto é uma das maiores obras arquitetônicas do final da Idade Média. A pedra fundamental foi lançada em 13 de novembro de 1290 pelo papa Nicolau IV. Na bela fachada em estilo gótico, podemos admirar as decorações arquitetônicas que vão do século 14 ao 20, como mosaicos dourados e três majestosas portas de bronze.  O interior é decorado com duas capelas com afrescos de grandes pintores italianos,  sendo que merece destaque o famoso Julgamento Universal de Luca Signorelli.

A fachada da igreja é decorada com grandes e baixos relevos e estátuas com os símbolos dos evangelistas, provavelmente projetados por Arnolfo di Cambio e seguido por Lorenzo Maitani na  primeira metade do século 14. Os trabalhos prosseguiram por mais 3 séculos

O plano da catedral de Orvieto é uma cruz latina com três naves

Capela della Madonna di San Brizio – Famosa por seus maravilhosos afrescos, a capela foi adicionada à catedral no século XIV. Na realização dos afrescos atuaram inicialmente Beato Angélico e Benozzo Gozzoli, substituídos por Luca Signorelli quando transferiram-se à Roma. As paredes e as abóbadas  foram afrescadas por Luca Signorelli, que começou os trabalhos em 1499.  Rica em expressividade e drama, é  uma verdadeira  obra-prima do pintor originário de Cortona que representa o tema do Juízo Final.  E uma curiosidade: o tema e as representações criadas por Signorelli serviram de inspiração para Michelangelo na realização dos afrescos da famosa Capela Sistina.

Torre del Moro – Inicialmente foi chamada Torre del Papa, depois foi renomeada Torre del Moro. A  torre fica no coração da cidade, localizada no cruzamento dos bairros e das ruas mais importantes e centrais: Corso Cavour, Via della Costituente e Via del Duomo. A torre é visitável diariamente e metade do percurso  pode ser feita de elevador . O ingresso custa 2, 80 euros e é gratuito para crianças de até 10 anos (os horários variam de acordo com a época do ano).

 

Igreja de Sant’Andrea – Localizada ao lado do Palazzo Comunale e na bela Piazza della Repubblica, a igreja de Sant’Andrea e Bartolomeo sofreu alterações arquitetônicas significativas ao longo do tempo.  Curiosidade: evidências dos períodos etrusco e romano foram encontrados no “porão da igreja”.

A possui uma bela fachada e é ladeada por uma torre dodecagonal

Poço de San Patrizio  – O poço de Sao Patrício é uma obra-prima da engenharia renascentista. Foi construído  no século 16 à mando de Clemente VII, que se refugiou em Orvieto durante o Sacco di Roma em 1527.  A obra,  realizada  por Antonio da Sangallo ,  foi concluída em 1537. O poço foi construído para garantir abastecimento de água à cidade, mesmo em caso de cerco e calamidade. A construção impressiona tanto pelas 72 grandes janelas simetricamente colocadas dentro de toda a cavidade, como pela estrutura em dupla escada espiral, que permitia  descida fácil  também para animais de carga.  O poço, construído em forma cilíndrica,  tem  54 metros de profundidade.

O Pozzo di San Patrizio, construído em forma cilíndrica,  tem  54 metros de profundidade

Como devem ter percebido através das fotos e do texto, Orvieto é um verdadeiro museu a céu aberto,  que mescla arte,  história e belezas naturais.  E como a cidade é pequena, recomendo andar sem destino para descobrir os encantos desse pequeno burgo medieval.

As agradáveis surpresas quando passeamos por suas ruelas laterais e mais tranquilas

Orvieto fica a apenas 23 Km de outro lindo burgo medieval , Civita di Bagnoregio, conhecida como “a cidade que morre”.

 

6 de janeiro, Dia de Reis, Epifania e Festa da Befana

Dia 6 de janeiro é feriado nacional na Itália, Dia da Epifania, e dos Reis Magos, e também da Befana, que presenteia as crianças que se comportam bem com balas e doces.  Pode-se dizer que a data praticamente marca o início do ano aqui, pois só depois deste feriado é que as crianças voltam à escola, depois de um curto período das férias invernais.

Para festejar a data, acontece anualmente em Firenze a Cavalcata dei Magi, organizada pelo Museu dell’Opera del Duomo, um cortejo histórico que remonta ao século XV  com  figurantes que desfilam em lindos trajes de época.

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Os trajes usados foram inspirados no ciclo de afrescos realizado por Benozzo Gozzoli,  na Cappella dei Magi, no Palazzo Medici Riccardi, a primeira residência da família Medici em Firenze

O percurso começa no Palazzo Pitti e conta com os 3 reis magos  que levam os presentes ao Menino Jesus,  ouro, incenso e mirra, até a Piazza do Duomo, onde termina o cortejo.

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Na religião cristã, o dia 6 de janeiro, a Epifania é celebrado  no 12º dia após o Natal,  com a Adoração dos Magos confirmando e testemunhando Jesus Cristo como  a encarnação do filho de Deus

cavalcata-dei-magi

O cortejo histórico conta com cerca de 700 figurantes que desfilam em lindos trajes  renascentistas  e conta com a participação dos lançadores de bandeiras. A indumentária foi inspirada no ciclo de afrescos realizado por Benozzo Gozzoli,  na Cappella dei Magi, no Palazzo Medici Riccardi, a primeira residência da família Medici em Firenze.

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cavalcata-dei-magi

A celebração nos leva de volta ao tempo, mais precisamente ao ano de 1417, quando o desfile  se repetia a cada 3 ou 5 anos.  O desfile contava também com a participação de alguns membros masculinos da família Medici.  Provavelmente por este motivo a celebração foi suspensa em 1494, quando os Medici foram expulsos da cidade de Florença. Em 1997, durante as comemorações do sétimo centenário da catedral, a Opera Santa Maria Del Fiore resolveu retomar esta tradição, organizando anualmente uma solene procissão que representa os Reis Magos, em vestimenta de seda, que atravessam o centro de Firenze.

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O percurso – Palazzo Pitti até a Piazza Duomo

O inicio do percurso é da Piazza Pitti.  A  procissão passa pelas ruas do centro da cidade (via Guicciardini, Ponte Vecchio, Via Por Santa Maria, Via Lambertesca,  Piazza della Signoria, Via Calzaiuoli), até chegar na Piazza Duomo.

cavalcata-dei-magi

 

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Após a chegada da procissão na Piazza Duomo, acontece a oferta dos presentes dos Magos ao Menino Jesus. No final da cerimônia, como de costume, a liberação de muitos balões coloridos no céu, que representam nossos pensamentos,  orações e esperanças.

Epifania

A Epifania é uma celebração cristã que acontece em quase todo o mundo (calendário gregoriano) 12 dias depois do Natal e marca o encerramento das férias de inverno. Na tradição cristã a Epifania é a festa da revelação de Jesus como Deus. O termo  Epifania deriva do grego antigo que  significa “manifestação”, “aparição divina” e refere-se à apresentação do Menino Jesus à humanidade, representada pela visita do 3 Reis Magos. 

Festa da Befana

Como em outras situações, como Halloween, a fusão entre festividades cristãs e tradições de origens antigas, a Befana,  representada por uma velha voando na vassoura, é uma figura  popular típica da Itália e não muito conhecida no resto do mundo, que tem origem antiga  associada  a ritos pagãos que se fundem com  elementos folclóricos e cristãos. A  Befana traz presentes em memória daqueles oferecidos ao Menino Jesus pelos Reis Magos.

A Befana é representada, no imaginário coletivo, por uma velha de nariz comprido e queixo pontudo, que viajando  com uma vassoura leva doces e presentes para  as crianças.  Ela usa saia larga, um avental com bolsos, um xale, um lenço ou um chapéu na cabeça

Não se sabe quando nasceu a tradição folclórica da Befana. Há muitos séculos a festa entrou permanentemente nos ritos  pagãos. Durante as doze noites que seguiam ao solstício de inverno, período dedicado às celebrações do renascimento da natureza, os romanos acreditavam que figuras femininas guiadas pela deusa Diana  voavam sobre os campos recém-semeados garantindo dessa forma boa colheita.  Dessa forma surgiu o mito da “mulher voadora”.

No dia Da Befana acontecem manifestações em diversas cidades italianas. Aqui na loja La Rinascente de Florença

Existe uma lenda que relaciona a figura da Befana aos Reis Magos: quando os 3 Reis Magos estavam viajando para Belém encontraram uma senhora e a convidaram para que ela fosse junto com eles, mas ela se recusou.  Arrependida por ter negado de acompanhar os reis, ela  decidiu sair  à procura dos Reis Magos. Na noite do dia 5 para o dia 6 de janeiro, a velhinha pegou a sua vassoura e saiu voando, levando consigo um cesto com doces para presentear o menino Jesus. Como ela não sabia quem era, decidiu presentear as crianças que encontrava pelo caminho. Desde então, a velhinha foi destinada a girar o mundo presenteando crianças com doces para que ela fosse perdoada.

 

As meias temáticas vendidas nessa época do ano na Itália. Essa é uma tradição que  as crianças pendure em casa  uma meia para esperar a visita da  Befana, que deposita balas, doces, chocolates e às vezes  brinquedos. As crianças que se comportaram bem durante o ano recebem  doces e chocolates e as que não foram obedientes, recebem carvão, que na verdade é uma bala ou um doce preto

 

A Befana visita as casas do dia 5 para o dia 6 de janeiro. A data marca também o momento de desmontar a árvore e guardar os enfeites de Natal. L’Epifania tutte le feste porta via!

 

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A igreja de San Martino de Florença

Nas proximidades da área onde nasceu e viveu Dante Alighieri encontra-se a pequena igreja de San Martino, conhecida também como “Buonomini” (Bons Homens), que como  o  próprio nome sugere, cuida dos necessitados em Florença há muitos séculos. A  Compagnia dei Buonomi di San Martino foi fundada em 1441 pelo frei Antonino Pierozzi, Sant’Antonino, que era priore do convento de San Marco e sucessivamente arcebispo de Florença. Ele pediu ajuda a 12 homens que pudessem colaborar com as famílias florentinas que haviam caído em desgraça econômica e por orgulho ou vergonha não pediam ajuda, eram os poveri vergognosi. E pouca gente imagina que no interior dessa pequena igreja encontramos pinturas maravilhosas, um ciclo de afrescos atribuídos à bodega de Ghirlandaio,  que foi maestro de Michelangelo.

A porta da Igreja de San Martino, que foi fundada em 1º de fevereiro de 1442, mas em Florença era ainda 1441 pois o ano novo caía em 25 de março

 

Afrescos atribuídos à escola de Ghirlandaio no interior da igreja

 

Frei Antonino escolheu como sede da Confraria a igreja de San Martino, o santo dos pobres, aquele que compartilhou seu manto com um mendigo encontrado quase completamente nu.

A congregação paroquial conhecida como Buonuomini está localizada  perto da casa de Dante Alighieri, em frente à Torre della Castagna

Um pouquinho de história – Nos séculos 14 e 15, os mercantes  representavam uma grande força  econômica para a cidade. Portanto, grandes ganhos e  obviamente também ruínas fizeram parte desse novo sistema econômico que influenciou fortemente a economia na época.  Um fator que influenciava sobre a fortuna era a política: em Florença usava-se para derrotar o partido oposto, o exílio e o confisco de bens e, com isso,  muitas famílias ricas e poderosas podiam perder todo o capital.  Imaginem que na Idade Média os comerciantes que faliam recebiam uma punição pública: eram acorrentados , ridicularizados e condenados!

O edifício foi construído no século XV e consagrado por Frei Antonino. A igreja foi renovada em estilo renascentista em 1479. Fiz essa foto do Museu Casa di Dante

A congregação  ainda segue as mesmas regras que vigoram desde meados do século 16: recolhe a contribuição de florentinos caridosos e doa anonimamente aos necessitados, protegendo a sua dignidade. A ajuda  sempre foi prestada com a máxima discrição.

O ciclo de afrescos que representam As sete obras da Misericórdia. À esquerda Madonna con Bambino, de Della Robbia

A expressão “essere ridotti al lumicino” na Toscana significa que a situação econômica está muito grave, o que em português seria algo como “ser reduzido à luzinha”. A origem dessa forma de falar surgiu aqui nesta igreja. Quando necessitavam de ajuda financeira, a Fraternidade dos Buonomini acendia uma pequena luz sobre a porta de entrada, enviando dessa forma uma mensagem aos florentinos de que a congregação estava sem recursos para ajudar os pobres e esse método de pedir ajuda funcionou dessa forma até 1949.

Na esquina da igreja  fica o tabernáculo com San Martino  que faz o pedido para os  pobres (século 17), de Cosimo Ulivelli.  Abaixo do tabernáculo, o local para as doações

 

E na fachada da igreja o buraco das instâncias, por onde chegam os pedidos de ajuda

Aqui vale a máxima: faça o bem sem olhar a quem!
Curiosidade:  no dia 11 de novembro celebra-se  São Martinho, um santo que é considerado o padroeiro dos anfitriões, enólogos, sommeliers, vindimadores e até dos bebados!

 

Igreja de San Martino/ Congregação dos Buonomini
Piazza San Martino
Horário de funcionamento: das 10:00 às 12:00 e das 15:00 às 17:00
Domingo e sexta-feira à tarde está fechado
Ingresso gratuito

O Museu dos Medici de Florença

O Museo de’ Medici de Florença é o primeiro e único espaço expositivo inteiramente dedicado à história dessa poderosa família que por cerca de 3 séculos governou Florença e a Toscana.  Com  elementos reais e virtuais, o museu conta principalmente a  história da família  a partir dos anos 1500 e dos Grão-duques da dinastia por meio de salas temáticas, retratos, medalhas, documentos, manuscritos e exposições temporárias, de coleções particulares e portanto, inéditos. O museu , localizado no Palazzo Sforza Almeni, foi inaugurado em junho de 2019.

 

Esse é o primeiro museu dedicado exclusivamente à história da família Medici, onde podemos conferir  coleção de pinturas, manuscritos, objetos pessoais e raridades pertencentes a alguns dos mais  ilustres membros da família

Participei de uma visita guiada organizada pela Toscana è,  associação que ajuda a divulgar as belezas do território toscano. Nossa visita foi conduzida pela competente guia Elena Petrioli, autora do blog Guarda Firenze,  e contou com a participação do diretor do museu, Samuele Lastrucci.

Com a guia Elena, Mad e Sandra e os  membros da  Toscana è Leonardo, Gloria, Marco e Erika

Palazzo Sforza Almeni  – o antigo palácio fica a poucos passos da Catedral Santa Maria Del Fiore

O museu está localizado no Palazzo Sforza Almeni, antiga residência do cavaleiro Sforza Almeni,  que foi conselheiro de Cosimo I de ‘Medici. Sforza Almeni foi  secretário de Cosimo por mais de 20 anos, de quem obteve  privilégios e recebeu muitas honras, como o título de Cavaleiro de Santo Stefano e a posse do edifício, confiscado da família Taddei, que havia se oposto ao regime dos Medici.   Almeni convocou os melhores artistas da época  para reestruturar o palácio,  como Vasari e Ammannati. O papel de secretário confidencial do duque era também muito perigoso e arriscado e aproveito para contar pra vocês uma curiosidade envolvendo o Grão-Duque:  Sforza Almeni pagou com a própria vida a revelação à Francesco I, filho de Cosimo,  de sua relação  amorosa com a jovem Leonora degli Albizi. Cosimo I não gostou nada que seu secretário revelasse ao filho sobre sua vida amorosa  e o assassinou com suas próprias mãos.

Brasão original,  do século 16  das familias Medici e Toledo,  no hall de entrada. Na esquina do prédio fica uma cópia

Família Medici
Um breve resumo sobre a poderosa família Medici, que governou Florença por  cerca de 3 séculos e foi uma das mais importantes do Renascimento italiano. Muito provavelmente a família Medici é originária do Mugello, norte de Florença, mas não existem evidências que comprovem a sua origem.  Os Medici não eram nobres, mas comerciantes de tecidos e banqueiros.
A dinastia começou com Giovanni di Bicci que se tornou o financiador do Papa João XXIII, e a partir desse momento os Medici se tornaram a maior e mais eficiente organização econômica e financeira da época. O processo de construção do domínio dos Medici sobre a cidade de Florença, entretanto, começou com Cosimo de’ Medici, conhecido como Cosimo “O Velho”, em 1434. O esplendor florentino  chegou com Lorenzo de’ Medici, conhecido como “O  Magnífico”, em meados do século XV.
O museu conta principalmente a história da família a partir do século 16,  quando Cosimo I tornou-se o primeiro Grão-Duque da Toscana, título que manteve até sua morte.
Os Medici nunca ocuparam cargos públicos, mas exerciam o poder através da criptomonarquia (“cripto” está para oculto), isso é, eles comandavam colocando no poder personalidades manipuláveis e favoráreis às suas ideias e interesses.

O Museo de’ Medici e a Fondazione Anna Maria Luisa apresentam um espaço inteiramente dedicado à família mais importante de Florença

 

 

A “Sala do Tesouro”, com a reconstrução tridimensional fiel da coroa grão-ducal, que foi perdida

No início do percurso uma sala com uma coleção de retratos, começando pelo casal Cosimo I e Eleonora di Toledo

Salas – Nas salas do museu, grande parte da história da família é contada através da exposição de obras de arte originais, documentos e relíquias, testemunhas diretas do domínio secular dos Médici em Florença.

Três grandes salas do museu são divididas por períodos e retratam os séculos 16, 17, até a primeira metade do século 18, quando faleceu a última herdeira da família.
A primeira sala  é dedicada à genealogia, com diversos retratos expostos por casais, sendo o primeiro o de Cosimo I e Eleonora di Toledo, filha do vice-rei de Nápoles.  A seguir encontramos Francesco I e Giovanna da Áustria. E aqui aproveito para contar sobre uma história de amor que marcou a Senhoria Medici: Francesco era amante de Bianca Cappello, ambos casados na época. Depois que ambos ficaram viúvos, finalmente se casaram. Mas o casal de amantes morreu em circunstâncias misteriosas até hoje não esclarecidas, numa das  vilas da família, a Villa de Poggio a Caiano, arredores de Florença. Depois disso, seu irmão Ferdinando I, que era cardeal,  casou-se com Cristina de Lorena.
Os últimos retratos da sala são os de Anna Maria Luisa de’ Medici, filha de Cosimo III. Anna Luisa foi a última herdeira dos Medici e morreu em 1743.

Afrescos da escola de Giorgio Vasari na pequena capela do Palazzo Sforza Almeni

Na Sala del Cinquecento. No século 16, o poder absoluto passou a ser de Cosimo I de’ Medici, do ramo cadete da família, que assumiu quando tinha apenas 18 anos, após o assassinato do Duca Alessandro, em 1537

Cosimo I de ‘Medici, Grão-Duque da Toscana, em retrato realizado por Agnolo Bronzino (1545 aproximadamente)

 

O Diretor do Museu dos Medici, Samuele Lastrucci

 

Ao centro da Sala del Seicento , escultura do busto de Ferdinando II realizada por Giovanni Battista Foggini

 

Modelo de um galeão da frota dos Medici. Vocês sabiam que  Ferdinando I tentou fundar uma colônia do Grao-Ducado no Brasil? A expedição, liderada pelo inglês Robert Thornton, desembarcou na Guiana e posteriormente no Brasil e quando retornou para a Itália, em 1609, Ferdinando I havia falecido e seu filho não teve interesse em dar continuidade à ideia de seu pai

 

A Sala del Settecento com os retratos dos últimos membros da família

 

Algumas reproduções de cartas e documentos da família

Em outubro de 2023 o Museo de’ Medici passou a funcionar na Rotonda del Brunelleschi

 

Museo de’ Medici

Via dei Servi, 12 – Firenze

Horário :  das 10 às 18 horas, diariamente

Valores do bilhete: 9,00 euros com guia de rádio

5, 00 euros com guia habilitada

15, euros  em companhia do diretor do museu (requer agendamento)

Email: museodemedici@gmail.com

 

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O Museu do Impossível em Bagni di Lucca

O que você imagina encontrar no Museo dell’Impossibile?Eu não tinha a menor ideia mas acatei a sugestão de uma amiga que me disse que seria interessante para as crianças. A sede do Museu do Impossível  é na Villa Webb, uma antiga residência na cidade de Bagni di Lucca, originalmente chamada de “Villa Buonvisi”,  família que encomendou sua  construção em 1570. Em 1812 a villa  foi vendida a John Webb e herdou o seu nome. O político e poeta Lord Byron e Mary Shelley,  autora de Frankenstein, figuram entre ilustres que já se hospedaram no local.

Villa Web,  onde a realidade se confunde com a fantasia.  cheio de misterio, raros e  bizarro, imaginaçao

Essa  típica villa renascentista já teve várias funções públicas ao longo do tempo e é um lugar que preserva achados verdadeiramente incríveis  e inimagináveis. No  andar térreo, logo quando adentramos o prédio, podemos admirar elementos decorativos típicos do Renascença, como arcabuzes, rifles, espadas e equipamento militar e bandeiras antigas.  Fiquei encantada com a reconstrução de uma cozinha do século 16, com antigos utensílios originais.

No andar térreo do Museu disciplinar encontramos o arsenal com balestras, arcabuzes, rifles, espadas e material militar, além das antigas bandeiras

 

Quem nos acompanhou por todos os ambientes da Villa Webb foi Virgilio Contrucci, transmitindo muita paixão e conhecimento, que tornaram nossa visita ainda mais especial

 

A cozinha do século 16 foi reconstruída com utensílios antigos

 

No primeiro andar encontra-se uma exposição mesas de jogos lembrando que foi nessa cidade que surgiu o primeiro cassino da Europa. No grande salão é  possível visualizar os jogos em uso desde o século 16  até aos dias de hoje e até jogar.

Entendemos o nome do museu só quando chegamos ao segundo andar, que é uma espécie Wunderkammer , isso é o Quarto das Maravilhas. O local abriga uma  grande coleção de objetos estranhos e bizarros, resultado de uma longa e meticulosa pesquisa do colecionador Christian Alpini.  Os objetos da coleção são muito especiais, únicos, de origem e natureza diferentes: é uma coleção bastante peculiar, onde a realidade se confundem com  fantasia,   mistério, raridade e bizarrismo que envolvem desde lobisomens até bonecos possuídos, livros de bruxarias e lendas.

Doenças raras, que dão origens à lendas, lendas, fantasias e segredos para descobrir um lugar único e raro

O espaço Wunderkammer é um dos mais fascinantes e incríveis: bonecos possuídos e livros de bruxas, máscaras de canibal e também fotos de pessoas com doenças raras que suscitaram lendas. São mais de 2 mil peças, entre  artefatos mitológicos, objetos místicos e dotados de habilidades estranhas e descontroladas. Outros objetos são mumificados ou restos embalsamados de criaturas extintas há milhões de anos.  O espirito do museu é “não pergunte o que é real e o que não é, continue sonhando…”.

  
Villa Webb– Museu do Impossível
Piazza Webb, 5
Bagni di Lucca – Toscana
Tel: +39 338 2015232

Florença romana

Quando a gente caminha e admira toda a beleza de Florença costuma associar tudo o que vê principalmente ao Renascimento.  Embora poucos saibam, Florença nasceu bem antes da Idade Média e do Renascimento, períodos pelos quais é mundialmente famosa.   Apesar de testemunhos muito antigos, ainda de época etrusca, Florença foi fundada no século I antes de Cristo.  A data exata é uma dúvida, alguns historiadores atribuem à Julio Cesar no ano de 59 AC e outros à Augusto, o primeiro Imperador Romano, que a teria fundado entre os anos 30 e 15 AC.  A cidade foi chamada de Florentia, em homenagem à deusa Flora e ao período de sua fundação, em plena primavera, mês das flores.

Florentia foi fundada na margem direita do Rio Arno e havia uma ponte que ficava próxima ao local onde hoje encontramos a Ponte Vecchio

A cidade de Florentia tinha um traçado urbano típico romano, baseado no acampamento militar, chamado castrum. No acampamento fortificado  havia o fórum,  bem  ao centro da cidade,  o Capitólio, uma   fullonica, as termas e um anfiteatro,  que era sempre construído mais afastado, fora do centro.  Infelizmente  não ficou quase nada de época romana na cidade, é preciso saber exatamente onde ir para poder testemunhar o passado romano em Florença.  Muito acabou sendo  destruído  durante as obras de “Florença-Capital”, no século 19.

O traçado da colônia  seguia o  modelo clássico de urbanismo romano, desenvolvendo-se numa área retangular, orientada pelos pontos cardeais e rodeada por muralhas defensivas (imagem internet por Rachel Valle)

 

A delimitação das muralhas  na parte norte da cidade romana ficava na correspondência onde hoje encontramos o Duomo e o Batistério.  Existem dúvidas sobre a estrutura do Batistério e sua fundação, segundo uma tradição florentina,  em época romana, aqui ficava um Templo dedicado à Marte

Teatro romano
Parte do Palazzo della Signoria, ou Palazzo Vecchio, foi construído sobre o grandioso teatro de época romana.  O teatro romano era muito grande, provavelmente com capacidade para abrigar cerca de 15 mil pessoas e abrangia a  área que fica à esquerda de onde hoje fica o Palazzo Vecchio, parte da área do  Palazzo Gondi  até a praça San Firenze. O antigo teatro foi realizado aproveitando a inclinação  natural do terreno. Um dos poucos pontos da cidade onde podemos testemunhar os restos do teatro é no subsolo do Palazzo Vecchio. As escavações arqueológicas permitiram trazer à luz os restos de algumas partes do teatro romano, conservados  aqui no subterrâneo. Numerosas evidências arqueológicas emergiram das escavações realizada nos anos 80 para repavimentação da praça.

Um dos poucos locais onde podemos testemunhar os restos do teatro romano é no subsolo do Palazzo Vecchio. O teatro tinha capacidade para até 10.000 pessoas

Na área que atualmente corresponde à Praça da Signoria haviam um spa e uma fullonica, para lavagem e tingimento de tecidos

O antigo fórum romano

Em época romana, na praça da República existia o fórum, com o Templo dedicado à Tríade Capitolina. O fórum era  a praça mais importante de todas, era o centro político, administrativo, religioso e comercial das cidades romanas.  Exatamente onde fica a Coluna da Abundância delimitava o centro exato da cidade,  o ponto de união das duas estradas principais, o Cardo e o Decumano.

No local onde encontramos a Coluna da Abundância  marcava o ponto central da cidade. A coluna marca o cruzamento dos 2 eixos,  o ponto de união das duas estradas principais, o Cardo e o Decumano

 

Termas

Os romanos adoravam frequentar os  banhos públicos ou as termas. Esses edifícios eram locais que proporcionavam todo  tipo de entretenimento, com jardins adornados com estátuas onde se podia caminhar,  fazer ginástica, massagem e praticar esporte.   Alguns locais aqui em Florença, além dos banhos termais Capitolinos (perto do Campidoglio, na praça da Republica), haviam os banhos termais onde atualmente encontramos a Torre della Pagliazza, na Praça Santa Elisabetta,  e nas proximidades da piazza del Limbo, nas ruas delle Terme e Borgo Santi Apostoli.

Paralela à essa rua, temos a via delle Terme, que lembra os antigos banhos romanos, que aqui se localizavam. O edifício restaurado lembra com suas escritas o passado de época romana

 

Outro local onde ficavam os banhos termais é onde encontramos atualmente a Torre della Pagliazza , na piazza Santa Elisabetta

 

Anfiteatro

Outra área  muito interessante da Florença romana é, sem dúvida, a de Santa Croce, em particular a modo a  pequena Piazza dei Peruzzi, que tem a particularidade de ter palácios assentados sobre as ruínas do anfiteatro romano, o que lhes confere um traçado típico elíptico. E a poucos passos da praça Peruzzi fica a  Via Torta, que marca o perímetro do antigo anfiteatro.  Como acontecia nas cidades romanas, o anfiteatro fora construído mais afastado do centro, fora das muralhas e tinha capacidade para ate 20 mil pessoas.  As estruturas medievais  dessa área da cidade, que inclui a Piazza Peruzzi, via Bentaccordi e via Torta, seguem perfeitamente a curvatura elíptica do antigo anfiteatro.

O anfiteatro romano – A escolha do local foi nos limites da área urbana,  nas proximidades da atual Praça de Santa Croce

 

Quando foi feita a reestruturação  em Florença no século 19, algumas ruas foram nomeadas  conforme o que foi encontrado na época da renovação da cidade, como via Del Campidoglio, via delle Terme e Via del Capaccio, onde terminava o aqueduto que abastecia a cidade,  através de um sofisticado sistema de água que começava no Monte Morello

O aqueduto
O aqueduto romano de  Florentia partia das nascentes do Monte Morello e terminava o percurso na Via di Capaccio,  nas proximidades do atual Mercato del Porcellino.
Cemitério

As áreas do cemitério de Florentia eram ao longo das estradas principais. Uma das maiores necrópoles localizava-se ao longo do trecho da Via Cassia e os vestígios  vieram à tona no século 16 , durante as escavações da construção da Fortezza da Basso, nas proximidades da estação ferroviaria de Santa Maria Novella, e alguns séculos depois  com a construção da ponte ferroviária al Romito.

 

 

Florença no tempo das casas-torres

Havia uma grande quantidade de casas-torres no cenário da Florença do século 13. A torre era não apenas a habitação, mas também símbolo da força das famílias nobres e indicador da posição econômica. Na Idade Média a vida política era conturbada e existiam muitos conflitos violentos, onde famílias nobres e suas facções se desafiavam pelo poder, como os guelfos e ghibelinos, e a casa-torre garantia  segurança para as famílias, que podiam se refugiar durante os ataques dos inimigos. Eram as casas de nobres ou mercantes  ricos, já que esse tipo de construção era muito cara e acessível apenas à uma parte  da população.

Na Idade Média  haviam cerca de 150 casas-torres em Florença.  Era a habitação principalmente de ricos mercadores florentinos, uma espécie de forte defensivo

Algumas torres, sobretudo aquelas pertencentes à mesma família ou à famílias aliadas,  estavam ligadas por uma passagens de madeira, uma espécie de ponte,  oferecendo dessa forma uma melhor comunicação em caso de confronto.

Em época medieval o cenário era bem diferente do que encontramos hoje em dia

Em Florença existiam cerca de 150 casas-torres, com altura entre 50 e 70 metros, e atualmente poucas ainda estão de pé.  Algumas dessas torres foram destruídas ao longo dos anos durante as guerras internas.  No século 19, quando  foi criado o novo plano urbanístico da cidade, muitas foram demolidas ou incorporadas em construções de um período posterior.

Atualmente restam cerca de 50 torres, que estão camufladas no tecido urbano moderno

No centro de Florença encontramos ainda inúmeras torres que sobreviveram a guerras civis, demolições e renovações, sendo que algumas foram incorporadas em palácios e em edifícios, e nem todas são reconhecíveis imediatamente. Quando começaram a surgir os municípios, no século 13,  as torres foram cortadas, como forma de mostrar que o poder das famílias nobres havia acabado e o palácio começou a  simbolizar o poder de uma família, e não mais a torre.

Come eram as casas-torres?
As casas-torres serviam como abrigo e ao mesmo tempo eram instrumento de controle e  vigilância territorial.  As torres apresentavam uma estrutura  compacta e eram geralmente   desprovidas de aberturas, com exceção de algumas lacunas, que em italiano é chamada de “feritoia”,  que significa uma pequena abertura feita na  estrutura fortificada.

A Torre de Manelli, na Ponte Vecchio

As aberturas para o exterior eram limitadas não apenas  por uma questão de defesa contra ataques inimigos mas também devido ao clima,  já que  naquela época, o único tipo de aquecimento era o fogo e evitava-se ao máximo  contato com o exterior para não diminuir a temperatura interna. Por esse motivo as casas eram muito  escuras.  E por segurança, as entradas localizavam-se não no nível da estrada, mas no topo, no primeiro ou no segundo andar, acessíveis por escadas móveis de madeira ou por meio de passagens acessíveis  pelo interior dos outros edifícios.  Para maior segurança,  haviam as escadas de madeira nessas min-fortalezas que eram removidas à noite.

A Torre dei Belfredelli, no Oltrarno. As casas-torres levavam o nome das famílias as quais pertenciam

As construções eram adequadas para a defesa em um período anterior ao desenvolvimento da artilharia, quando a defesa era realizada principalmente com arremessos

Em caso de ataque, eram colocadas tábuas nos pisos superiores que ligavam as casas-torres mais próximas entre si para facilitar a fuga dos habitantes em caso de necessidade

As construções eram adequadas para a defesa em um período anterior ao desenvolvimento da artilharia, quando a defesa era realizada principalmente com arremesso, portanto, a ação de cima era necessária. Eram construídas em tijolo ou em pedra e  apresentavam janelas estreitas. Dependendo da atividade do proprietário, o porão da torre podia servir de depósito de materiais utilizados para o trabalho e no térreo eles desenvolviam suas atividades. No andar superior, chamado nobre, ficavam os dormitórios e, devido ao risco de incêndio, a cozinha ficava no andar mais alto.

Uma curiosidade, a cozinha ficava sempre  na parte mais alta da casa devido ao cheiro e ao risco de incêndio

 

No Davanzati tinha até banheiro, algo muito raro. Sim, é verdade que em época medieval as “necessidades” eram despejadas nas ruas

Museu Davanzati

E para quem quiser saber como é uma casa-torre,  pode visitar o Museo della Casa Medioevale Fiorentina, conhecido também como Palazzo Davanzati,  uma típica residência nobre florentina de época medieval, preservada quase intacta. Adoro esse museu e o recomendo, principalmente para quem viaja com crianças.

Um poço numa antiga casa-torre, no Palazzo Davanzati

 

Casa-torre

O edifício que abriga o Museu Casa de Dante não é uma construção de época medieval, mas uma reprodução do início do século 20

Gostou de saber sobre as casas-torres de Florença? Nao deixe de conferir o post sobre San Gimignano,  a Manhattan da Idade Média.

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