Arquivo da categoria: Firenze

Arte em casa durante a quarentena

Em tempos de lockdown devido ao coronavírus, encontrar alguma atividade inusitada e estimulante para fazer em casa nem sempre é fácil. Alguns museus criaram uma iniciativa divertida: recriar obras de arte utilizando os objetos que temos à disposição em casa. E resolvi propor através do meu perfil Instagram @grazieateblog e muita gente aderiu à brincadeira.  Solicitei que recriassem, preferencialmente, alguma obra que podemos encontrar em Firenze, seja nos museus, nas praças ou igrejas.  Uma forma divertida e instrutiva de se distrair. E aqui está o resultado, com muitas fotos criativas que contou também com a participação de diversas famílias:

 

Por Benedetta Mazzocchi. Benedetta e o filho Adriano e o coelho Nevi

 

Dany Barcellos

 

Lorenzo Pieri,  em cena da obra Primavera de Botticelli

 

Bruno Pieri,  Giovane con Pomo, de Rafael Sanzio, na Galleria degli Uffizi

 

Obra de Rita, autora do blog O Porto Encanta. Participação da tartaruga Nikita

 

Giuditta Tani

 

Olivia Tani

 

Barbara Mingazzini

 

Francesca Azzini

Marco com os sobrinhos Ruggero e Emma. Fotos de Silvia Saluttari

 

Giovanna e a filha Stephanie Greer, interpretando o Duca e a Duquesa de Urbino, obra de Piero della Francesca

 

Cristina Rosa do blog Sol de Barcelona

 

Cristina e a filha Martina

 

Carina Costa

 

Zilda Pandolfi reproduziu numa pintura Flora, da obra Primavera, de Botticelli

 

A família Melani: Eleonora e Alessio com os filhos Jacopo e Alice

 

Gaia Bardelli em foto da mãe Francesca

 

Cosimo Bianchi faz o “Putto che suona”, de Rosso Fiorentino, no museu Uffizi de Firenze

 

Lapo Bianchi, Ragazzo morso da un ramarro, Caravaggio

 

Tina Wells, com o gato Mulder

 

Izabel Silvestre em Dama com Arminho

 

Sofia Silvestre

 

Izabel Silvestre e Fabio Oliveira, Duca e Duquesa de Urbino. O quadro pode ser visto na Galleria degli Uffizi

 

Rosa Esposito e a filha Lisa

 

Emma Russo

 

Sophie Visciano em  Moça com o Brinco de Pérola, de Vermeer

 

Palova Valenti

 

Duccio Gori interpreta Raffaello. Esse auto-retrato está exposto no Museu degli Uffizi de Florença

E o meu muito obrigada a todos que aceitaram participar dessa brincadeira!  Não deixem de conferir o excelente feed do Tussen Kunsten apenas com fotos feitas durante a quarentena, aqui vai o perfil Instagram: @tussenkunstenquarantaine.

 

Receita da panzanella toscana

A panzanella é um prato  simples da “cozinha pobre toscana” que surgiu a partir do  reaproveitamento do pão dormido. Sua preparação é rapida e  não requer cozimento. Os principais ingredientes da panzanella, que pode ser considerada um prato único, são o pão velho (para permanecer fiel à receita original, seria melhor usar o pão toscano), tomate, pepino, cebola roxa, manjericão, sal, pimenta, vinagre e óleo. No Brasil é possível substituir o pão toscano pela pagnota.

A panzanella é um prato fresco, muito comum no verão, porque ingredientes como manjericão e pepino são mais comuns de serem encontrados da estação do calor

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O principal ingrediente da panzanella é o pão toscano, que é  sem sal, com a crosta crocante e o interno macio

A panzanella é um dos pratos típicos da Toscana  e pode ser servida como uma salada, como entrada ou prato principal, dependendo da variação. Algumas pessoas acrescentam croutons, atum, alcaparras, alcachofras ou azeitona preta.
panzanella

A panzanella é um dos meus pratos preferidos no verão! Rápido e fácil de preparar

A panzanella é um prato rústico principalmente da estação de verão aqui na Itália e que pode ser consumido durante todo o ano no Brasil pela facilidade de encontrar os ingredientes.   Existem versões bem diferentes para a preparação e essa é a receita tradicional toscana, que é super simples, fácil de preparar e deliciosa!

Ingredientes
300 g de pão dormido (cerca de 3 dias)
1 pepino
2 ou 3 tomates maduros ou 20 tomatinhos cereja
manjericão fresco
1 cebola roxa pequena (se preferir, use apenas 1/2)
Sal
pimenta-do-reino
Azeite extra-virgem de oliva
Moda de preparo:
1- corte o pão em rodelas grandes ou em pedaços. Encha uma tigela com água filtrada e deixe amolecer por cerca de 20 minutos.  Depois esprema bem com as mãos para tirar toda água e coloque os pedaços (ou “farelos”) em uma saladeira
2- descasque a cebola e corte-a em rodelas bem finas. Se preferir, coloque numa tigela com água fria por alguns minutos para tirar o ardido da cebola crua
3- Corte os tomates em cubos e descarte as sementes
4 – Corte o pepino em rodelas bem fininhas ou em cubinhos
5- Acrescente os tomates, o pepino, a cebola e as folhas de manjericão no pão e misture
6- Regue com bastante azeite e tempere com sal e pimenta a gosto
7- Se preferir, deixe alguns minutos na geladeira antes de servi-la
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Por que o Ano Novo florentino é comemorado dia 25 de março?

Em Florença, o Capodanno, isso é, o Ano Novo,  é também comemorado no dia 25 de março, data da  Anunciação da Virgem Maria. Essa é uma  tradição secular que surpreende a todos com desfile do cortejo histórico pelas ruas do centro para celebrar a data, que vigorou na cidade até 1750.

Ano Novo florentino: até 1750, a data de 25 de março era considerada como o início do calendário civil e é celebrada até os dias de hoje. Essa tradição antiga existe há mais de 250 anos

 

Para os florentinos, a Anunciação era um feriado civil, religioso e primaveril, tanto que um velho provérbio   diz: “Para a Anunciação, a andorinha chegou; e se não  chegou, ela está  pelas ruas ou está doente”.

Anunciação de Cestello, de Botticelli, obra em exposição na Galleria degli Uffizi

Em outras cidades italianas e européias, desde 1582, no entanto, o calendário gregoriano já havia sido adotado, estabelecendo o início do ano em 1º de janeiro.  Mas Florença, fortemente ligada à doutrina mariana, decidiu não abandonar o hábito de celebrar o primeiro de ano em 25 de março. Foi apenas através de um decreto emitido pelo Grão-Duque Francesco III  no ano de 1749,  que definiu para 1º  de janeiro o início do ano civil também para  Florença.

 

A piazza della Santissima Annunziata que a abriga a homônima igreja

 

Basílica della Santissima Annunziata

Para as celebrações do ano novo os florentinos costumavam ir até a Basílica della Santissima Annunziata, onde existe um afresco muito venerado que segundo a tradição foi terminado por um anjo. Segundo a lenda, o pintor Fra Bartolomeo, que estava trabalhando na obra, não conseguia realizar o rosto da Virgem e pela exaustão, acabou adormecendo. Ao acordar, descobriu que a mão de um anjo havia finalizado a pintura e por esse motivo passaram a chamar a obra “Anunciação Milagrosa”, considerada até por Michelangelo como uma obra de arte “divina”.

Firenze ainda celebra a data de 25 de março com um cortejo histórico que vai até a igreja della Santissima Annunziata, o principal santuário mariano de Florença , centro das celebrações, onde está o afresco com a imagem milagrosa  da Virgem da Anunciação .

 

 

 

Procissão – a procissão do cortejo histórico começa no Palagio di Parte Guelfa e segue até a Basílica de SS. Annunziata, seguindo uma tradição antiga camponeses peregrinavam para homenagear Maria. A procissão leva um bouquet de lírios brancos à capela da Santíssima Annunziata. A celebração entrou para o calendário oficial de festividades da cidade desde o ano 2000.

 

 

A Loggia dei Lanzi em Firenze

Disponível para visitantes a qualquer hora do dia e da noite, a Loggia della Signoria, também chamada Loggia dei Lanzi, é um extraordinário museu a céu aberto bem no coração pulsante de Firenze! O espaço abriga  esculturas realizadas por Cellini e Giambologna e integra a Piazza della Signoria, a praça mais famosa e importante da cidade.

 

A Loggia dei Lanzi é uma galeria de esculturas ao ar livre com obras originais que podem ser apreciadas a qualquer hora do dia ou da noite

A elegante loggia foi construída entre 1376 e 1382 com o objetivo de sediar assembléias e  cerimônias públicas da República de Firenze.  Depois de 2 séculos, por vontade de Cosimo I de’ Medici, tornou-se  um espaço expositivo, onde as pessoas podiam admirar as obras de arte.

 

A Loggia dei Lanzi fica na Piazza della Signoria,  nas proximidades do pátio da Galleria degli Uffizi

Durante o século 16  a loggia perdeu sua função original e tornou-se um  museu à céu aberto.

Entre os arcos, no interior de painéis, destacam-se as esculturas das Virtudes teológicas e cardeais, criadas a partir de um desenho de Agnolo Gaddi, sobre um fundo de esmalte azul

loggia dei lanzi

É chamada de Loggia dei Lanzi  porque os Lanzichenecchi, antes de se dirigirem à Roma, acamparam sob seus arcos no ano  de 1527.   É também conhecida como Loggia  dell’Orcagna,  a quem foi erroneamente atribuída a autoria do projeto, que foi executado pelos arquitetos Benci di Cione e Simone Talenti.

Dois leões em pedra como vigias sentinela na entrada da loggia

Quase todas as obras representam um tema mitológico e fazem associações ao período vivido  na cidade de Florença. Era uma  forma de enviar mensagens ao povo de poder e triunfo.

Na loggia podemos admirar  estátuas do período romano e obras-primas do século 16

Uma das obras mais extraordinárias do espaço é Perseus com a cabeça da Medusa, realizada pelo ourives Benvenuto Cellini.  Perseus, triunfante, mostra a cabeça do monstro decapitada e segura a espada  com a outra mão. A obra  maneirista representa um manifestação política: afirmação do poder de Cosimo I’ de Medici. A escultura de bronze é rica em detalhes que a tornam única e o artista trabalhou 9 anos para poder realizá-la. Uma curiosidade: atrás da obra, no cabelo de Perseus, tem esculpido  o rosto de Cellini.

 

Cellini, um dos maiores ourives renascentistas, criou este trabalho sob encomenda de Cosimo I de ‘Medici em 1545. A escultura foi exposta apenas em 1554

 

O Rapto das Sabinas, obra-prima de Giambolonha, finalizada em 1583

 

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A estátua tem 4,10 m e foi esculpida em um único bloco de mármore, o que exigiu grande precisão técnica para o êxito de equilibrar  todo o peso da obra, que representa o conceito da  estilo de uma figura serpentina , isto é, uma figura  em forma de serpente.

O Rapto das Sabinas mostra um homem jovem  pegando à força uma mulher sob o olhar desesperado de um senhor. Esse é um dos episódios lendários ligados às origens de Roma,  que após  sua fundação precisava ser povoada e contava com poucos habitantes,  que eram em sua maioria  homens. Rômulo, o primeiro rei de Roma, organizou uma festa e convidou os sabinos, que viviam num povoado próximo.  Durante o evento, em um momento combinado,  os jovens romanos atacaram e raptaram as mulheres solteiras presentes.

 

A primeira estátua realizada em 360 graus,  isto é, que pode ser admirada de qualquer ângulo, oferecendo pontos de vista diferentes ao espectador

 

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Outra escultura do artista flamingo Giambolonha, Hércules e o Centauro. A obra  de mármore mostra o corpo do centauro dobrado pela força de Hércules

 

Em mármore :  Menelau que segura o corpo de Patroclos,  cópia  de uma obra original grega, presente do Papa Pio V à Cosimo de’ Medici

 

Hércules e o Centauro

 

O Rapto de Polissena é uma escultura em mármore realizada por  Pio Fedi. Foi esculpida entre 1855 e 1865 e é a única obra moderna entre as obras renascentistas

Depois da construção do museu degli Uffizi, que fica na parte de trás da Loggia, Bernardo Buontalenti, em 1583,  reestruturou o terraço criando um espécie de jardim suspenso, de onde era possível ver a praça e assistir às cerimônias e espetáculos.

 

Foto feita do Palazzo Vecchio

 

As tradicionais molduras de madeira de Firenze

Florença nos olhos e a arte nas mãos. Este é o slogan do nosso grupo de blogueiros Tuscany Bloggers,  com quem estive recentemente para mais uma visita à uma atividade histórica da cidade.  Dessa vez visitamos a Cornici Maselli, atividade histórica que realiza molduras em madeira desde os anos 50.

Tenho muita admiração pelos artesãos e adoro visitar as bodegas do centro de Florença, ricas de história, beleza, arte e tradição. Na Cornici Maselli verdadeiras esculturas artísticas realizadas em madeira

Essa é um antiga tradição florentina do artesanato artístico, com apreciadores do mundo inteiro, que se encantam com a habilidade dos escultores que trabalham a madeira, criando verdadeiras obras de arte.  O pequeno ateliê oferece serviços de qualidade impecável na realização de molduras feitas à mão, de todos os tipos e formatos, desde a produção de molduras artísticas personalizadas,  reproduções e restaurações. Na bodega é possível também encontrar molduras coloridas e modernas, sempre realizadas à mão, com design contemporâneo. Depois de pronta, a moldura pode ganhar o tom dourado. A técnica de douramento já era conhecida pelas civilizações antigas e a criada pelo Maselli é realizada  com os mesmos, ferramentas e  método do passado. As molduras dourada criadas na loja são inspiradas nos trabalhos  artísticos italianos e europeus desde o século 16.

Gabriele Maselli é o Presidente da Associação das Atividades de Firenze e filho do fundador Paolo Maselli, que inaugurou em 1955 sua loja de gravuras antigas e molduras artesanais

Gabriele Maselli, especializado em douramento e restauração de molduras, adquiriu do pai a paixão e iniciou nessa atividade em 1979. E essa tradição continua em família, pois Tommaso, filho de Gabriele, atua junto ao pai na bodega. Ele está estudando restauração e aprimorando a técnica.

 

Tommaso, 19 anos, nasceu nesse ambiente e desde criança  começou a criar  suas obras trabalhando a madeira. Lindo de ver a atividade de família que prossegue com a nova geração

 

O douramento ou douração é um processo de decoração de superfícies que utiliza uma camada bem fina de ouro, a “folha de ouro”, muito utilizado nas tradicionais molduras de madeira

 

E Firenze é uma cidade rica de lugares cheios de magia, que reune mestres com muita habilidade, realizando molduras feitas à mão de todos os tipos e formatos (foto Michela Ricciarelli)

 

Gabriele com suas criações. Os Pinoquios são realizados em cipreste

Gabriele cria Pinóquios de diversos tamanhos em madeira de cipreste. Ele quis homenagear o “pai” do simpático bonequinho, Carlo Coloddi, que nasceu  bem pertinho da bodega, na Via Taddea. A Bodega D’Arte Maselli participou da restauração de obras do Duomo de Firenze e no Museu Uffizi.

 

Por que tem tanta obra de arte em Firenze?

Florença é conhecida em todo o mundo como uma cidade de arte e cultura com um rico patrimônio histórico,  artístico e arquitetônico.  Berço do   Renascimento, a cidade revelou grandes gênios e artistas e recebe anualmente milhões de pessoas que podem admirar suas maravilhosas pinturas, esculturas, tapeçarias e porcelanas. E é graças à Anna Maria Luisa de’ Medici, a Elettrice Palatina, que encontramos todas essas obras e monumentos na cidade. Percebendo que o patrimônio da família poderia ser saqueado ou disperso, já que a questão da sucessão da Toscana não estava decidida, Anna Maria Luisa solicitou um inventário com uma relação de todas as obras da família e decretou que todo os bens da família fossem conservados em Firenze. E em 31 de outubro de 1737 ela elaborou um ato legal conhecido como Pacto Familiar. Explico tudo pra vocês neste post:
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Anna Luisa Maria de’ Medici estabeleceu o Pacto Familiar para tutelar as obras de arte: com o acordo, as obras deveriam permanecer em Firenze (pintura realizada por Antonio Franchi,  exposta no Palazzo Pitti)

 

O Pacto de Família, exposto no Museu dos Medicis de Florença

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Florença é a cidade onde o movimento artístico chamado Renascimento consolidou-se no  século 15.  Por esse motivo, a cidade é considerada o berço mundial da arte e da arquitetura

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O Pacto Familiar trazia uma relação de todos os bens da família, como pinturas, estátuas,  joias e livros que passaram a pertencer à cidade de Firenze

A árvore genealógica da família Medici

A família Medici – De forma resumida, vou falar um pouco sobre os Medici, célebre família que governou Firenze entre 1413 e 1743, com alguns momentos de interrupção do poder. A família Medici,  originária do Mugello (norte de Firenze), foi mecenas das artes não apenas em Firenze mas em toda a Toscana e conseguiu construir uma dinastia mesmo não havendo origens nobres. Entre os séculos 13 e 14, alguns membros da família começaram a prosperar com a  fabricação de lã. Os Medici começaram a se revelar  protagonistas ativos da vida pública e econômica florentina: no século 14 já tinham 2 gonfalonieres da Justiça, que era o mais alto cargo da Republica Fiorentina e participavam ativamente da oligarquia que dominava a cidade. A família conquistou cargos altos na sociedade, como políticos, papas e  rainhas.  O esplendor florentino deu-se com  Lorenzo  “O Magnífico”,  em  meados do século  15. Por volta do ano de 1700 a dinastia estava se extinguindo pois os últimos herdeiros eram Ferdinando e João Gastão (Gian Gastone), que foi o último grão-duque da dinastia dos Medici, e Anna Maria Luisa, que também não deixou herdeiros.

O legado da família, que fomentou e inspirou o Renascimento, começou nos anos 1400 e durou mais de 3 séculos. Os  Medici eram comerciantes de tecidos e  banqueiros que fizeram fortuna e expandiram seu poder e influência não apenas em Firenze mas também na Itália e em outros países da Europa.

 

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Se hoje Firenze é uma das maiores capitais da arte do mundo é graças à Anna Maria Luisa de’ Medici, que salvou o patrimônio artístico de Florença

 

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Arte em Firenze – Com o testamento, Anna Maria garantiu que todo o vasto patrimônio que pertencia à família fosse mantido e preservado na cidade

A vida de Anna Maria Luisa –   Filha de  Cosimo III, grão-duque da Toscana, e da francesa Margherite Louise d’Orleans, Anna  Maria Luisa de’ Medici nasceu em 11 de agosto de 1667,  em Firenze. O casamento dos pais foi um dos piores da história da dinastia, e a mãe acabou  retornando à França depois de obter a separação e depois de concordar em se aposentar no mosteiro de São Pedro em Montmatre.  Quando a mãe retornou para a França Anna Maria tinha apenas 9 anos e nunca mais a viu. Anna Maria era uma mulher culta e inteligente e passou a ser criada pela avó paterna Vittoria della Rovere.

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Anna Maria salvaguardou todo o patrimônio artístico após a morte de seu irmão,  ao estabelecer o Pacto da Família, em 31 de outubro de 1737, deixando ao Estado todos os tesouros culturais das coleções da família Medici

Depois de tratativas mal sucedidas de matrimônio (ela não foi aceita pelos reinos da França , Portugal, Savoia e Inglaterra), aos 23 anos Anna casou-se por procuração com o alemão Giovanni Carlo Guglielmo I, príncipe Elettore del Palatinato e obteve o título de Elettrice Palatina.  O casamento oficial aconteceu em Innsbruck. Eles moravam em Dusseldorf e tiveram um casamento feliz, que durou 25 anos, até a morte do marido, que em 1716, morreu de sífilis (e a tornou estéril). Anna Maria retornou para Firenze em 1717 e encontrou uma situação dramática na cidade. Ela viveu no Palazzo Pitti e posteriormente na Villa la Quiete.

Anna Maria chegou a engravidar provavelmente mais de uma vez, mas não conseguiu levar adiante a gravidez. Presume-se que o marido era estéril, pois ele já havia sido casado e não havia filhos

Anna Luisa teve outros  irmãos: Ferdinando, o mais velho, que morreu  aos 50 anos e  o caçula Giangastone, o último grão-duque  da dinastia Medici, que  sofria de depressão, era alcoólatra e homossexual. Em 1723 Giangastone assumiu o trono e ficou até 1737.  Sua morte despertou interesse por parte de potências estrangeiras em querer assumir o controle do território da Toscana.  Nessa época a família estava em declínio e seu pai, Cosimo III,  tentou em vão fazer com que os outros estados europeus reconhecessem  Anna Luisa como herdeira, o que não era possível por se tratar de uma mulher. Já que ela não podia assumir,  o governo  foi entregue à  família Asburgo-Lorena.

Florença possui uma herança artística surpreendente! Suas obras estão espalhadas pelos principais museus da cidade. Esse aqui é o Palazzo Pitti, onde Anna Maria viveu

Mas antes de entregar o poder Anna Luisa resolveu formular um documento, o chamado Patto di Famiglia, evitando que os quadros, esculturas, livros, móveis e jóias fossem saqueados, o que aconteceu em diversas cidades italianas. O pacto com os Lorena foi estabelecido em 1737 “para o ornamento do Estado, para o benefício do público e para atrair a curiosidade dos estrangeiros”.

 

Galleria Palatina, Palazzo Pitti

A arte florentina gera grande interesse por suas obras monumentais e espetaculares, não apenas nos museus, mas também nas ruas e praças da cidade

Anna Maria Luisa passou os últimos anos de sua vida envolvida com a finalização do mausoléu da família, as Capelas dos Medici, para manter viva a glória e a memória da família. Anna Maria morreu no dia 18 de fevereiro de 1743, data que os florentinos relembram com um cortejo histórico e com ingresso gratuito em alguns museus de Firenze.  Seu túmulo encontra-se nas Cappelle Medicee, no complexo da Basílica de San  Lorenzo.

 

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O espetáculo teatral  The Medici Dynasty é em língua inglesa e conta em 1 hora a vida dos últimos descentes da família Medici.

 

O brasão da família Medici, com 6 bolas, que decoram muitos palácios florentinos

Os museus cívicos de Firenze oferecem ingresso gratuito no dia 18 de fevereiro:

  • Palazzo Vecchio  9 – 19 (Torre di Arnolfo das 10 às  17h )
  • Museo Novecento  11-19
  • Santa Maria Novella  9-17.30
  • Cappella Brancacci  10-17.
  • Fondazione Salvatore Romano  10-17
  • Museo Stefano Bardini  11-17
  • Palazzo Medici Riccardi 9-19

Dia 18/2, No Palazzo Pitti,  na Sala del Fiorino, acontece um monólogo (Incontro com l’Elettrice Palatina) promovido pela Muse, às 15, 16 e 17  horas (o ingresso ao museu  não é gratuito) e no Palazzo Medici Riccardi, no dia 22 de fevereiro , às 10h30 e 11h30.

Anna Maria Luisa de’ Medici – promovido pela Muse, o encontro com o personagem é seguido de um debate com o público: oportunidade para entender melhor as características dessa grande personalidade e mergulhar no contexto da Florença do século 18

 

Cortejo histórico começa no Palagio di Parte Guelfa e passa pelas ruas do centro e praças de Florença

 

O cortejo histórico termina nas Capelas dos Medici, onde Anna Maria foi enterrada

E para comemorar o seu aniversário e homenagear Anna Maria Luisa,  no dia 31 de outubro a Galeria Uffizi, o Palazzo Pitti e o Jardim Boboli são abertos gratuitamente.

 

Passeios em Firenze e na Toscana

Quer vivenciar uma experiência em Firenze de uma maneira mais completa, diferente e autêntica? Desenvolvi alguns tours temáticos fora dos passeios mais tradicionais e das paradas obrigatórias para aqueles que buscam experiências mais exclusivas e uma perspectiva diferente, seja para quem já conhece e para quem visita pela primeira vez a cidade.

Os passeios temáticos foram elaborados com muito carinho para possibilitar ao visitante uma verdadeira imersão na cultura local, com respeito à tradição mas sempre em busca de atividades diferenciadas. Os passeios incluem lugares mais reservados e menos óbvios para você conhecer,  vivenciar e experimentar a cidade de forma  mais  específica, com temas como história, fotografia, gastronomia, moda, entretenimento e cultura. Alguns passeios podem ter duração de meio dia ou de dia inteiro e são realizados em número limitado, de 2 a 8 pessoas.  Apresento pra vocês os 4 tours temáticos para o ano de 2020, além de passeios e degustações na Toscana:

 

 

Durante os passeios passamos pelos pontos mais famosos e conhecidos da cidade

Artesanato

A relação de Florença com o artesanato é muito forte.  A Capital do Renascimento possui diversas pequenas bodegas seculares que conservam a tradição de produtos exclusivos feitos à mão e o artesanato é motivo de orgulho para os florentinos. Nosso passeio começa no Oltrarno,  meca de artesãos , onde passaremos por diversas  oficinas para vermos de perto como as peças são realizadas. Esse passeio é pelas ruelas de Florença, passando em seus ateliês secretos onde criatividade, habilidade e tradição se fundem. O tour inclui visitas às bodegas de bolsas,  sapatos, molduras, joias, bijuterias, roupas e acessórios.

A arte dos ourives em Firenze tem origem  no século 12.  Brunelleschi, Michelozzo, Cellini  e Donatello são apenas alguns dos artistas que treinaram como ourives em oficinas florentinas

 

A tradição florentina em trabalhar com o couro remete à tempos antigos. Firenze é um importante centro produtor de produtos em couro de alta qualidade

 

Boutique com possiblidade de presenciar produção das peças no ateliê das proprietárias

Itinerário:

San Frediano e Santo Spirito, Piazza Santo Spirito, Ponte Vecchio, San Niccolò e Santa Croce, com visita à Scuola del Cuoio.

Duração: 3 horas (início do tour às 10 horas)

  • Durante o tour  é oferecido um mini-shooting onde cada participante vai receber  10 fotos tratadas  (enviadas através de link on-line, prontas para serem impressas)

Fashion

Firenze tem uma relação estreita com a moda e é uma das mais importantes cidades italianas do setor, com grande tradição e referência no cenário internacional.  Diversas maisons mundialmente famosas como Gucci, Ermanno Scervino,  Enrico Coveri, Emilio Pucci, Roberto Cavalli e Patrizia Pepe escolheram Firenze para produzir suas peças.  O tour Fashion  começa na esplêndida Piazza della Signoria, com visita ao  Gucci Garden, no interior do histórico Palazzo della Mercanzia. Em meio às inúmeras obras de arte que encontramos   pelas ruas e praças da cidade,  faremos um passeio nos endereços de shopping mais elegantes de Florença. Coffee break no atelier de uma estilista brasileira radicada em Firenze. Para quem optar pelo tour de 6 horas, à tarde tem visita guiada ao Palazzo Pitti, o museu mais importante da Itália dedicado à História da Moda, com uma rica coleção de mais de 6000 peças com trajes antigos do século 17 até os dias de hoje.

brecho

Itinerário:

Piazza della Signoria, Palazzo della Mercanzia, Ponte Vecchio e Ponte Santa Trinità, Oltrarno, workshop num atelier de moda,  Palazzo Pitti com Museo del Costume com guia credenciada (para quem optar pelo tour de 6 horas).

Duração:  3 ou 6 horas (início do tour às 10 horas)

 

  • Durante o tour de 6 horas é oferecido um mini-shooting onde cada participante vai receber  10 fotos tratadas    (enviadas através de link on-line, prontas para serem impressas)
  •  Parada de 1 hora para almoço (despesas da refeição não incluídas no valor do tour)

 

Enogastronômico

Admirar monumentos, praças e construções da capital do Renascimento com paradas para degustar as delícias que você pode encontrar na cidade! Durante o percurso enogastronômico, vou te levar para saborear os  produtos típicos da região. Como a própria palavra diz, esse tour é um passeio pelo centro histórico, com foco na comida e no vinho. O tour de 7  horas inclui cooking show no Oltrarno

Duração: 3, 4 ou 7 horas (início do tour às 10 horas)

  • Durante o tour de 7 horas é oferecido um mini-shooting onde cada participante vai receber  10 fotos tratadas    (enviadas através de link on-line, prontas para serem impressas)

 

Fotográfico 

Florença é uma das cidades mais fotogênicas da Itália e tem um luz incrível!  Monumentos, paisagens, praças e ruelas inspiradoras são cenários.  Que tal registrar a sua passagem por aqui num tour fotográfico? Esse tour inclui um passeio a pé pelas principais atrações da cidade com shooting fotográfico.

Duração: 2 ou 3 horas

 

 

 

Passeios na Toscana

1 – Degustação de vinhos, piquenique e passeio em cidades da Toscana (a escolher)

Piquenique com degustaçao de vinhos e visita à San Gimignano , Siena ou cidades do Vale da Orcia, como Montalcino, Montepulciano e Pienza.

 

Um dos programas mais interessantes é o programa que inclui degustação de vinhos e visita a alguns burgos da Toscana

 

2- Visita à agriturismo na Toscana com almoço e visita à Vinci

Visita à um agriturismo com cooking show. Vamos cozinhar numa linda cozinha onde um italiano vai  prear

Tarde visita ao vilarejo de Vinci, com guia credenciado , para passeio na cidade do gênio Leonardo.

 

 

 

Escreva para grazieateblog@gmail.com para mais informações.

Vendas: Natur Viagens

 

A Igreja de Ognissanti de Firenze

Uma das minhas igrejas prediletas de Firenze é a de San Salvatore in Ognissanti, localizada na praça homônima, no centro histórico da cidade e a poucos minutos da piazza de Santa Maria Novella. A Igreja de Ognissanti, isto é, de Todos os Santos, é pouco conhecida  mas reúne verdadeiros tesouros artísticos. Seu interior é ricamente decorado, com obras de  Giotto, Taddeo Gaddi, Botticelli e Ghirlandaio.  A igreja franciscana tem sua história ligada à família de Américo Vespucio, que a patrocinou.  Veio daí o nome de Baía de todos os Santos (Bahia), por onde Vespúcio passou em 1501.

A igreja franciscana foi edificada em 1251 e fazia parte do complexo do convento dos “Umiliati”. No ano de 1571 os Umiliati foram substituídos pelos franciscanos, que expandiram o complexo com dois claustros, novos altares e reconstruíram a fachada

 

Na fachada,  terracota vitrificada,  atribuída a Benedetto Buglioni

A igreja fazia parte do complexo do convento fundado em 1251 pelos Humilhados, ordem que se dedicava à pobreza e ao trabalho. Vindos da Lombardia, chegaram em Firenze no ano de 1239 e se estabeleceram  incialmente fora da cidade e depois estenderam as propriedades ao burgo, onde construíram a igreja e o convento. O complexo foi terminado em 1260.

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A igreja inicialmente fazia parte dos “Umiliati”, congregação religiosa que se dedicou ao trabalho com a lã, entre os séculos 13 e 15, que foi a principal atividade comercial de Firenze

 

O interior da igreja. A ordem dos Humilhados,  dedicava-se  não apenas à prática religiosa mas também ao comércio e negócios

A região era apropriada ao trabalho com a lã devido à proximidade do Rio Arno e  a formação do canal, que garantia energia hidráulica para os moinhos. Foram os freis que impulsionaram o setor com sua experiência no manuseio e tingimento da lã e contribuíram para o crescimento urbano na região, que começou a girar em torno das atividades da igreja, especialmente no que diz respeito aos artesãos. Devido ao prestígio que alcançaram , os Humilhados foram convidados para ocupar importantes cargos públicos. A igreja passou a receber obras importantes, graças sobretudo à contribuição das famílias de prestígio do bairro.

 

Logo depois da chegada à Firenze, os freis adquiriram um terreno próximo ao Rio Arno, favorável ao processo de fabricação. A igreja fica próxima ao Lungarno

Durante o século sucessivo os Humilhados  reduziram de número e começaram a perder prestígio, tanto que em 1571, por vontade de Cosimo I de’ Medici, cederam o mosteiro aos franciscanos. O complexo foi restaurado, foram construídos dois claustros e a igreja foi consagrada em 1582 recebendo o nome de San Salvatore ad Ognissanti . 

igreja-ognissanti

A igreja é pequena e lindamente decorada, com obras de Giotto, Ghirlandaio, Taddeu Gaddi e Sandro Botticelli

 

San Girolamo, realizado por Domenico Ghirlandaio  provavelmente em 1480

 

Madonna della Misericordia (1474-1477), de Ghirlandaio

 

Botticelli

Obra de Sandro Botticelli, Sant’Agostino nello studio, realizada por volta de 1480

 

No século 15, Sandro Botticelli (que está enterrado na igreja) e Domenico Ghirlandaio, nomes de grande expressão do Renascimento italiano,  trabalharam em Ognissanti. Ghirlandaio havia sido contratado pela família Vespucci, que eram aliados dos Médici e da qual fazia parte o famoso Américo,  navegador que deu seu nome à América. Sob encomenda da família,  Ghirlandaio afrescou uma Pietà e uma Madonna della Misericordi, San Girolamo  e também a Última Ceia,  no refeitório do convento.

 

 

Na igreja está a capela da família Vespucci, localizada ao longo da parede direita da nave da igreja e que contém  afrescos realizados por Ghirlandaio  (1448-1494) por volta do ano 1470 e a obra  La Pietà e la Madonna della Misericordia,  que acolhe sob o seu manto os membros da família Vespucci, como Simonetta Vespucci, a musa de Sandro Botticelli (1445- 1510) e diva do Renascimento. Foi casada com o banqueiro Marco Vespucci, primo de Américo, cuja família era ligada aos Medici, poderosa família de mecenas.

 

Túmulo Simone Vespucci, filho de Piero, morto em 1400 e fundador do Hospital de Santa Maria da Humildade, chamado depois de San Giovanni di Dio (conhecido como Torregalli)

 

Capela do Santissimo Sacramento, com obras de artistas como Giuseppe Pinzani, Matteo Rosselli e Ranieri Del Pace

 

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Dessa porta à direita temos acesso ao claustro, com visitas apenas às segundas e sábados pela manhã

Uma das obras mais importantes da igreja é o Crucifixo realizado por Giotto di Bondone por volta de 1315. Até poucos anos atrás, o Crucifixo foi considerado um trabalho realizado por algum parente de Giotto. Depois de uma cuidadosa restauração foi possível atribuir ao artista a autoria do trabalho, colocado em destaque, do lado esquerdo do altar.

 

Perto do altar, o crucifixo de Giotto

O túmulo do artista florentino Sandro Botticelli (1445-1510) fica na capela di San Pietro de Alcantara, nas capelas posicionadas do lado direito do altar. Botticelli é autor das obras Primavera e O Nascimento de Venus, expostas no Museu Uffizi.

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Local onde fica o túmulo de Sandro Botticelli

 

Convento

A construção do convento, assim como da igreja, iniciaram em 1250 pelos Humilhados, que  obtiveram obras de altíssima qualidade. Do claustro do convento, repleto de  afrescos de Jacopo Ligozzi e outros pintores que contam a histórias da vida de São Francisco, é  possível ter acesso ao refeitório, que abriga a obra-prima o Cenacolo, realizado por  Ghirlandaio em 1480.  A obra  não é mais de propriedade dos freis e da igreja, mas sim do Ministério dos Bens Culturais.

A obra Madonna col Bambino, Nanni di Bartolo, realizada entre 1420 e 1423

 

A Última Ceia, obra de Ghirlandaio realizada em 1480, visitável apenas às segundas e sábados pela manhã.

O convento foi eliminado em 1866 e 2m 1923 passa a sediar o quartel  dos Carabinieri. Em 1885 os franciscanos retomaram parte da antiga sede.

É possível visitar o claustro e a obra de Ghirlandaio às segundas e aos sábados, das 9 às 13 horas.

 

Igreja de Ognissanti

Piazza Ognissanti, 42 – Firenze

Entrada gratuita

Horários

Manhã: 9:30 às 12:30 (fechada às quartas pela manhã)

Tarde: 16 às 19:30

 

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Museo do Bargello, em Firenze

O Museu do Bargello, localizado no antigo Palazzo del Podestà de Florença, abriga algumas das mais importantes obras da escultura do Renascimento italiano em seus majestosos salões, distribuídos em 3 andares. O museu foi construído em época medieval, no ano de 1255.  É um dos mais importantes museus de Florença, com obras de Cellini, Donatello, Luca della Robbia e Michelangelo. Suas coleções incluem esculturas, cerâmicas, medalhas, bronzes, tapeçarias, baixos-relevos medievais e mobiliário, que pertenceram à família Médici e a colecionadores. Dentre os doadores mais relevantes, o antiquário francês Louis Carrand, com sua coleção de mais de 3 mil obras, incluindo artes decorativas e pinturas. Com o decreto de 1865 tornou-se o primeiro museu nacional italiano dedicado às artes da Idade Média e do Renascimento.

 

O Museu do Bargello é o mais importante museu do mundo de escultura renascentista, com sede em um dos mais importantes palácios  medievais de Florença.

 

bargello

O  prédio que abriga o museu é um magnífico exemplo de arquitetura medieval.  A construção, que parece um castelo, é  um dos edifícios mais antigos de Firenze.  Já foi sede de algumas instituições importantes e palco de importantes acontecimentos históricos.

 

O museu é localizado no antigo Palazzo del Podestà, que serviu como prisão até 1857

O sino chamado de Montalina ou Montanina, toca em raríssimas ocasiões, como por exemplo, na virada do milênio, como ocorrido em 2000. A última vez que tocou foi em 22 de junho de 2015, para comemorar os 150 anos do Bargello, o primeiro Museu Nacional da Itália.  Outras ocasiões em que o sino tocou  foram em  1918 para anunciar o fim da Primeira Guerra, em 1921 para anunciar as celebrações de Dante, em 11 de agosto de 1944 para anunciar a liberação da cidade e em 1945 , ao final do último conflito mundial.

Bargello

O pátio do museu é repleto de lindíssimas obras. Joia da história e da arquitetura, o Museu de Bargello abriga 16 salas

História do museu

A história do museu começou com o nascimento da figura do Capitano Del Popolo, momento em que a classe média começou a emergir e sentir a necessidade de uma personalidade que a representasse. Portanto, a partir de 1255 inicia-se a construção do palácio para hospedar o capitano del popolo, que era também chamado de bargello.  O palácio foi a sede do Bargello por 3 séculos.  A torre Volognana do palácio, que tem quase 60 metros, por séculos abrigou uma prisão. E seu nome deriva de um dos primeiros prisioneiros da torre, Geri da Volognano.

Com o estabelecimento da hegemonia Medici na segunda metade do século 15, o palácio tornou-se a sede do Conselho de Justiça e dos Juízes de Ruota.  E, a partir de 1574, sob o duque Cosimo I de ‘Medici, sede do Bargello, ou o chefe das Guardas, que tinham autoridade para prender, julgar e cumprir sentenças de morte. Depois que a sede da prisão foi transferida para Le Murate as obras de restauração no palácio começaram.  Esta prisão possuía  equipamento sofisticado e eficaz para torturar os condenados. Do lado de fora do prédio, até o final do século  17, eram expostas as cabeças dos executados, a título de advertência pública. Em 30 de novembro de 1786, com decreto de Pietro Leopoldo di Lorena, Florença foi o primeiro estado do mundo a abolir a tortura e a pena de morte.

Bargello

Niccolò Machiavelli foi preso e torturado no Bargello em 1513 com a acusação de ter participado de uma conspiração anti-medicea

 

Bargello

O antigo cárcere da cidade e local onde as pessoas condenadas à morte aguardavam a execução. Com  Pietro Leopoldo, o Grão-ducado da Toscana foi o primeiro na Europa a abolir a pena de morte, em 30 de novembro de 1786

 

Quando Firenze foi eleita capital da Itália, em 1865, o palácio passou a abrigar o primeiro museu nacional após a unificação.

 

Térreo 

 

O poço octogonal ao centro do pátio do museu

Quando adentramos o museu chegamos ao belíssimo pátio com um poço ao centro e circundado de pórticos.  A estrutura medieval acolhe maravilhosas obras renascentistas que deixam os visitantes encantados. Dentre as obras, a esplêndida  Fontana di Sala Grande (1556- 1561), em mármore.  As estátuas  foram encomendadas em 1555 à Ammannati por Cosimo I de Medici para o Salão dos 500 do  Palazzo Vecchio mas nunca foram instaladas no local. Depois de pronta a obra esteve nos Jardins de Pratolini e Boboli.

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Niccolò Ammannati, Fontana del Granduca

O pátio do palácio traz os brasões  dos Podestá, da época em que o edifício tinha função administrativa.

Bargello

A obra Oceano, de Giambologna

No térreo temos acesso ao Salão de Michelangelo,  sem dúvidas o espaço mais disputado do museu. Ali encontramos  esculturas de Buonarroti, Giambologna e Ammannati.

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Bacco (o Deus romano do vinho), de 1497, esculpido por Michelangelo quando o artista havia apenas 22 anos

 

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Mercurio Volante, em bronze, a obra mais célebre de Giambologna, realizada provavelmente em 1580

museu-bargello

 

Primeiro andar

Quando subimos as escadas para começar a explorar o primeiro andar do prédio nos deparamos com uma magnífica loggia, repleta de estátuas. No primeiro andar fica a Sala de Donatello com as obras mais famosas do artista fiorentino, as esculturas de Luca Della Robbia, as coleções de arte islâmica, as doações de Louis Carrand e a Capela com a efígie mais antiga da  Dante Alighieri, a Sala degli Avori e a Sala del Trecento. Outras peças que merecem atenção são os paineis de portas realizados por Filippo Brunelleschi e Lorenzo Ghiberti, chamados de Sacrifício de Isaac, fundidos em bronze. Ambos foram realizados no ano de 1401, quando participaram  da competição  para a decoração das portas do Batistério de São João em Firenze.

Bargello

A Loggia que fica no primeiro andar do museu

 

sala-donatello

Esta é a espetacular Sala de Donatello e das escultura dos anos 1400

 

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A família Della Robbia foi uma das mais importantes no cenário fiorentino dos séculos 15 e 16, especializados na técnica da terracota vitrificada. Ao centro, algumas das obras Luca Della Robbia

 

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Lucca della Robbia, Madonna con Bambino, 1441 – 1445, em terracota vetrificada

 

Donato di Niccolò di Betto Bardi, Donatello, nasceu em Firenze em 1386, considerado um dos pais do Renascimento, bem como um dos escultores mais célebres de todos os tempos.

 

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Davi em mármore, realizada por Donatello entre 1408 e 1410

 

sala-donatello

O Davi de Donatello em mármore é a primeira obra do artista

 

O Davi em bronze do artista Donatello, realizado  entre 1440/44

 

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Ao centro da sala a obra San Giorgio, a primeira obra-prima de Donatello, um maravilhoso exemplo de sua habilidade como escultor. A estátua havia sido colocada em um dos nichos da igreja de Orsanmichele, onde atualmente existe uma cópia

 

San Giorgio, de Donatello, considerada uma das obras-primas das esculturas do Renascimento dos anos 1400

Os outros espaços do primeiro andar são a Capella del Podestà, Sala degli Avori, Sala del Trecento e Sala delle Maioliche, Sala de Arte islâmica, com as doações de Louis Carrand,  um antiquário de Lyon, que em 1888 presenteou o Bargello com sua coleção de cerca 3 mil peças da Idade Média e do Renascimento, incluindo artes decorativas, joias, armas,  cerâmicas, tecidos e pinturas.

 

bargello- Capella-della-maddalena

Cappella del Podestà ou  Capela de Santa Maria Madalena,  com afrescos da oficina de Giotto, realizados provavelmente entre 1330 e 1337. A capela foi construída em 1280. Era local de oração para o  podestà (ou prefeito) e  posteriormente  a capela passou a ser usada como quarto onde os condenados à morte passaram sua última noite.

A Cappella del Podestà ou  Capela de Santa Maria Madalena. A  capela hospedava os condenados à morte que esperavam o suplício na época em que  o prédio transformou-se em prisão, em 1574.

Dante e Giotto  –  Na Capela do Podestà  está o mais antigo  retrato de Dante Alighieri, realizado por Giotto. Dentro do afresco do “Julgamento Final”,  o artista  e seus colaboradores realizaram os afrescos retratando  Dante Alighieri entre os abençoados.

 

Bargello

 

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Bargello

 

Segundo andar

No segundo andar estão as principais coleções de obras-primas de Andrea, Luca e Giovanni della Robbia, com a famosa majorai envidraçada, as Sala dei Bronzetti, Sala di Verrocchio,  com esculturas de Verrocchio, Mino da Fiesole, Rossellino, Da Maiano  e Sala das Armas com peças do arsenal bélico com armas de origem medieval.

 

Da bodega de Giovanni della Robbia, terracota vitrificada (1515-1520)

 

Sala de Andrea Della Robbia, com 4 vãos, é dedicada às peças de terracota verificada realizada por Andrea Della Robbia. A família Della Robbia é muito conhecida pela arte da terracota esmaltada

 

A Sala das Armas. Esta seção do museu possui cerca de 2 mil peças, em sua maioria proveniente de arsenais dos Grãos-Duques Médici

 

A Sala dos Bronzes

Museo del Bargello

Via del Proconsolo, 4. – Firenze

Horários:

Diariamente , das 8h15 às 14 h (aos sábados abertura prolongada com fechamento às 18 ou 20 horas, dependendo do mês)

Dias de fechamento:

2º e 4º domingo de cada mês e  1ª, 3ª e 5ª segunda-feria de cada mês

Valor do bilhete:

Inteiro: 8 euros

Reduzido: 4 euros para jovens entre 18 e 25 anos com cidadania de um país da União Européia

Gratuidade:  para menores de 18 e maiores de 65 anos que tiverem cidadania de um país da União Européia

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O Museu degli Innocenti de Florença

Bem perto da Catedral Santa Maria del Fiore de Firenze, na praça renascentista de Santissima Annunziata, está o Museo degli Innocenti, que surgiu em 1419  com a designação de hospital: Spedale degli Innocenti.  Foi o primeiro orfanato europeu e a primeira obra arquitetônica do Renascimento, realizada por Brunelleschi.

Eugenio Giani, Presidente do Conselho da Toscana e  Maria Grazia Giuffrida, Presidente da Instituição. A obra Madonna degli Innocenti, de Domenico di Michelino, metade do século 16

Visitei o local  junto à Eugenio Giani, Presidente do Conselho Regional da Toscana e  Maria Grazia Giuffrida, Presidente da instituição.

O Ospedale degli Innocenti foi construído por Brunelleschi no século XV e está localizado na Piazza della Santissima Annunziata com a Loggia del Brunelleschi (1419), repleta de pórticos, arcos e colunas. A construção é considerada a obra mais antiga da arquitetura renascentista

 

História do Ospedale degli Innocenti 

A criação do instituto deu-se graças à doação de 1000 fiorinos por parte de Francesco Datini,  um rico comerciante que havia ficado órfão quando criança que patrocinou a construção de um grande hospital para abrigar crianças órfãs e abandonadas. Uma das corporações mais potentes da época, a Arte da Seda, ajudou a concretizar e gerenciar a construção da instituição confiando o projeto a Filippo Brunelleschi, o melhor arquiteto da época, autor da cúpula da  Catedral Santa Maria del Fiore. O Hospital foi projetado e construído entre 1419 e 1444, permanecendo sob a direção de Brunelleschi até 1427.

 

O Museo degli Innocenti está localizado no complexo monumental que inclui o prédio projetado por Filippo Brunelleschi, o primeiro exemplo da arquitetura renascentista

Desde sua criação a instituição presta  assistência  à crianças  órfãs e filhos ilegítimos. Na época do Renascimento  muitos bebês foram abandonados e deixados no hospital.  Os registros da instituição guardam informações sobre a primeira criança acolhida: Agata Esmeralda,  a primeira criança “inocente”, que foi deixada no local, no dia 5 de fevereiro de 1445. Foi chamada assim porque dia 5 de fevereiro é dia de Santa Agata.

O instituto  surgiu há 6 séculos para acolher crianças abandonadas. Fica na piazza Santissima Annunziata, uma das primeiras praças renascentistas do mundo

Sob os pórticos da fachada da instituição havia um local por onde chegavam os alimentos e onde os bebês eram colocados. Era através dessa espécie de  “janela de ferro”, que as mães  apoiavam seus filhos antes de tocar a campainha para informar a chegada da criança. Em 1660 foi introduzida a  porta giratória.

Local onde os bebês eram  deixados

Ainda é possível ver o local onde ficava a  porta giratória, sob os pórticos do instituto. Ali a mãe colocava o bebê, que era recuperado na parte interna, sem que a mãe fosse identificada. Essa era considerada uma maneira eficaz de garantir o anonimato às mães que deixavam ali seus filhos.

As crianças abandonadas eram cuidadas por enfermeiras e depois confiadas às famílias do interior da Toscana que eram remuneradas para criá-las até a  idade de 5 ou 6 anos.  Depois elas voltavam ao  instituto para serem educadas e orientadas para uma profissão. Entre 1600 e 1700 foi dada a possibilidade de amamentar dentro do instituto.  Desde o início de sua criação o instituto não apenas cuidava e alimentar, mas também educava e preparava as crianças para integrá-las à sociedade. Passaram pela instituição cerca de 500 mil crianças. As últimas crianças que foram deixadas no instituto em 29 de junho de 1875, ano em que terminou o abandono anônimo.  As últimas crianças que chegaram receberam os nomes de Laudata Chiusuri e Ultimo Lasciati.

Essas esculturas representam Maria e José e falta o  Menino Jesus. Toda criança que chegava ao orfanato era colocada entre os dois. Era uma forma de representar que eram acolhidas e que dali em diante poderiam ter uma família

Muitas das crianças que chegavam  registradas como filhos ilegítimos possuíam uma família, mas foram confiadas à assistência pública devido às dificuldades econômicas.

As crianças eram abandonadas anonimamente e não era informado o sobrenome, eram identificadas apenas com o primeiro nome. Um fato curioso é que quando as crianças adquiriam a maioridade e deixavam o instituto recebiam os sobrenomes  Innocenti, degli Innocenti, Nocenti ou Nocentini. O sobrenome Innocenti é o segundo mais difuso na Toscana.

Desde que foi instituído, 500 mil crianças já passaram pelo local. Atualmente  abriga dois núcleos: 2 creches para crianças de 0 a 6 anos e outra ala, constituída de apartamentos que funcionam como casas familiares, que no momento acolhem  14 mães e filhos carentes em dificuldade, além de escritórios da Unicef para Estudos Internacionais relacionados à infância.

 

O pátio do complexo. Obra de Andrea della Robbia sobre a porta no pátio que conduz à igreja

Museu degli Innocenti 

É possível conhecer a história do local e das crianças que já passaram por aqui através do Museu degli Innocenti, um patrimônio artístico, monumental e histórico inaugurado em 2016.  O museu conta a história do hospital e das atividades assistenciais e médicas realizadas ao longo de 6 séculos, através da exibição de obras de arte, documentos fotográficos,  vídeos e objetos.

 

Seção histórica – Existem mais de 38 mil objetos como medalhas, colares e pedaços de tecido. Algumas pessoas deixavam uma sacolinha com sal, pois isso significava que a criança já havia sido batizada

Acredito que o momento mais emocionante do percurso é quando chegamos ao arquivo histórico. Existe uma sala que contém um móvel com 140 gavetas com objetos que eram deixados pelas mães das crianças que eram entregues ao instituto. Os visitantes podem abrir as gavetas, onde consta o nome da criança e a data de nascimento. Todos os objetos foram divididos, como moedas, medalhas, tecidos e cordões: uma parte ficava com a mãe e a outra metade era deixada junto com a criança, muito provavelmente na esperança de poder reencontrá-la.

Uma medalha incompleta. A parte qu falta ficava com a mãe da criança abandonada. Esses objetos eram o único meio de comunicação entre a família e a criança, que era  deixada de forma anônima

 

O museu  preserva milhares de pequenos objetos: medalhas, moedas, clipes de papel, cartões sagrados, botões, pedaços de pano, e alguns deles são exibidos na exposição com o nome do recém-nascido a quem eles pertenciam

No segundo andar fica a seção com obras valiosas do museu de autores como Sandro Botticelli, Domenico Ghirlandaio, Neri di Bicci e Andrea e Luca della Robbia.

Os querubins enfaixados de Andrea della Robbia  (1487), em terracota envidraçada

 

Este representa uma menina. Obra de Andrea della Robbia  (1487)

 

A obra Adoração dos  Magos, de Ghirlandaio

 

Obra de Botticelli, Madonna col bambino

Um dos lindos ambientes do museu é o  Cortile degli Uomini  (Pátio dos Homens), um pátio renascentista

 

Caffè del Verone 

Um espaço maravilhoso do complexo é o Caffè Verone, localizado numa grande varanda com vista para cidade e para as colinas que a circundam. A cafeteria  funciona onde, no século 15, era utilizado para secar as roupas. O  café proporciona aos visitantes uma vista exclusiva de Firenze, com a cúpula de Brunelleschi e a Sinagoga.

 

Grazie Sandra Panerai pela foto!

Grupo de Tuscany bloggers, Gloria, Sandra, Barbara, Erika, Gilli, Ksenia, Yulia, Leonardo e Raoul, com Eugenio Giani e Maria Grazia Giuffrida ( Foto Ksenia)

 

O Caffè Del Verone  é aberto diariamente (exceto às terças) das 10 às 20 horas. É também acessível para quem não possui ingresso para o museu.
Instituto degli Innocenti
Piazza della Santissima Annunziata – Firenze
Horários:
Diariamente (exceto às terças): das 10 às 19 horas – de 1º abril à 31 outubro
Diariamente (exceto às terças): das 11 às 18 horas – de 1º  novembro à 31 de março
Valores:
9 euros – adulto
10 euros- bilhete familia (para 2 adultos e 2 crianças de até 11 anos)