Arquivo da categoria: Firenze

Dimora Palanca e o restaurante Mimesi, em Florença

Florença acaba de ganhar um novo endereço de hospedagem de luxo, o Dimora Palanca, inaugurado em meados de agosto, que abriga também o Mimesi,  um excelente restaurante gourmet.  Com um novo conceito de confort, o boutique art hotel ocupa um elegante casarão da segunda metade do século 19, próximos às muralhas medievais da cidade e que faz parte da história da capital toscana.  O local é um clássico da arquitetura fiorentina, com espaços funcionais e requintados, com móveis de design ultramodernos em ambientes elegantes e refinados.  A estrutura dispõe de 18 quartos,  que conjugam o luxo florentino ao design contemporâneo. Vivenciei recentemente uma maravilhosa experiência no local, onde me hospedei por uma noite e também pude conhecer o restaurante Mimesi, capitaneado pelo chef Giovanni Cerroni. A atmosfera no Dimora Palanca é de uma elegância atemporal de um hotel cinco estrelas propondo uma nova forma de hospitalidade, onde charme,  luxo e sofisticação encontram  com facilidade uma dimensão de vivência extremamente pessoal,  onde é muito fácil nos sentirmos em casa!

O Dimora Palanca ocupa uma linda villa em estilo Liberty, a poucos minutos da estação ferroviária de Santa Maria Novella

 

Luxo fiorentino e design contemporâneo . Baseada em uma paleta de cores neutras que valoriza os objetos de decoração , a repaginação do espaço ficou por conta do arquiteto e designer Stefano Viviani, que optou em não mexer nos elementos arquitetônicos originais

História
Construída em Via della Scala no século 19, a villa era de propriedade da família Palanca e por isso mantem o mesmo nome.  A villa ficou abandonada por cerca de 30 anos e sua reestruturação é um projeto que leva a assinatura do arquiteto Stefano Viviani, responsável por uma repaginação contemporânea e elegante, dando  nova interpretação aos ambientes, com destaque para a nova  iluminação de afrescos, estuques, colunas, mármore e ferro forjado, sem descaracterizar  os traços que dão identidade ao local. A intenção é trazer de volta a mesma atmosfera de quando a estrutura era um ponto de encontro de viajantes cosmopolitas e amantes da arte que visitavam Florença.
O Hotel 
Chegando ao hotel temos a impressão de entrar numa grande mansão,  bastante  iluminada,  elegante e acolhedora,  mas nada ali conota  ostentação e nem intimida.  O hotel dispõe de 18 quartos, divididos em dois edifícios.  Todas as acomodações são arejadas e bem iluminadas, com tetos altos e pisos de madeira natural, cada um lindamente mobiliado e decorado no mais alto nível com peças únicas de design, sendo que alguns quartos  oferecem vista para as torres e cúpulas de Florença. Alguns dos espaços comuns são a Sala da Arte e da Música, Sala de Relax, para leitura, filme e TV.

Recepção do Dimora Palanca,  um clássico da arquitetura fiorentina do século 19, com ambientes funcionais e requintados,  com peças arrojadas de arte moderna e  móveis de design

 

Elegância atemporal . Essa é a Sala de Relax e Leitura

O Dimora Palanca  tem uma decoração tradicional, moderna e luxuosa. Além da recepção,  no piso térreo funcionam também um bar, a sala de café da manhã com acesso ao jardim com mesinhas, cadeiras e confortáveis  chaises distribuídas por todo o espaço.  Quando o tempo permite,  é possível  tomar o café da manha na área externa.  No prédio anexo à estrutura principal fica a antiga serra,  uma área do hotel com 4 quartos, ideal para hospedar pessoas da mesma família ou grupo de amigos.

Todas as comodidades dos quartos da estrutura contam com Wifi, café da manha a la carte, presente de boas-vindas, frigobar com drinks e refrigerantes , roupões e chinelos, secador de cabelo, ar condicionado,   amenities  Lorenzo Villoresi e em algumas categorias,  os plaids são em cashemire, um luxo!!!

Drinque e bilhete de boas-vindas, com chocolates artesanais e muito carinho

Esse foi o quarto onde me hospedei, com banheira hidromassagem no quarto

Fiz uma site inspection para conhecer outras categorias de hospedagem

Alguns apartamentos apresentam tetos com  afrescos

Bar do hotel e o  restaurante Mimesi
O hotel conta com um sofisticado bar e dois restaurantes.  No subsolo fica o restaurante Mimesi, originalmente a cozinha da antiga villa, com pratos sofisticados.   Como toda a estrutura, o ambiente do restaurante também é muito elegante e acolhedor, com  apenas 20 lugares,  onde o chef propõe  suas criações inspiradas em suas viagens e experiências de trabalho, tendo  já passado pela Espanha, China e Japão.

O bar é outro ambiente requintado do hotel, com mesas e bancada de mármore e maravilhoso ciclo de afrescos. O bar e o restaurante são abertos ao público , não apenas aos hóspedes

 

O café da manhã do Dimora Palanca é praticamente uma experiência gastronômica! Fiquei admirada com a quantidade de opções, entre doces e salgados, de tortas, bolos, pães, geleias, omeletes, sucos frescos e detox e uma grande variedade de chás e cafés, com notável atenção a uma variedade de propostas saudáveis e deliciosas!

Na sequência abaixo mostro um pouco da minha experiência de jantar no restaurante Mimesi, que é aberto ao público, cujo menu sugere a quintessência de sabores mediterrâneos, com pratos realizados com  ingredientes locais e sazonais sabiamente combinados com sabores e técnicas desenvolvidas pelo chef.

A abordagem pessoal do chef Giovanni Cerroni redefine uma viagem à cozinha contemporânea

 

Jantar harmonizado onde é possível optar pelo menu degustação de 5, 7 ou 9 courses

Festa de inauguração 
Participei também da  festa de inauguração  do Dimora Palanca que aconteceu no belíssimo jardim da hotel. Roaring Twenties, com buffet do restaurante Mimes. O evento contou com a presença da família Ugliano, proprietária do local, que recebeu os convidados ao lado da  gerente geral  Laura Stopani. Estiveram presentes mais de 150 convidados, dentre empresários, expoentes da indústria da moda, representantes de instituições  culturais, jornalistas e socialites.

Música ao vivo, atmosfera e sabores inspirados nas glórias dos anos 20. Foi uma festa divertida, com buffet do Mimesi, com drinks deliciosos, ostras e champanhe

“Esperamos esta data com muito entusiasmo e estamos muito felizes por iniciar oficialmente a nova vida de Dimora Palanca. Florença redescobriu um pedaço da sua história e a nossa vocação é fazer com que os hóspedes do nosso hotel tenham uma experiência capaz de os fazer respirar a essência de uma cidade única como Florença “, comentou Michele Ugliano

  • Grazie mille Dimora Palanca per l’invito e l’accoglienza impeccabile.

O brasão da família Medici

Difícil não reparar no brasão constituído por esferas em diversos pontos de algumas cidades italianas, principalmente em Florença.  Podemos encontrá-lo nas fachadas de elegantes prédios, nas esquinas, afrescos, pavimentos de palácios,  museus e até mesmo nas igrejas.  A partir do século 15 os Medici passaram a  ser a família mais poderosa da cidade e  adotaram um brasão com bolas vermelhas, que são esferas dentro de um escudo. Mas o que ele representa? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, pois não há nenhum documento que comprove a sua origem. O brasão é composto por bolas  cuja quantidade  varia de acordo com o período histórico,   de 3 a 11 .

 

Em diversos pontos de Florença podemos ver os brasões heráldicos da família Medici, que governou a cidade por cerca de três séculos

 

A princípio, o número de bolas no brasão  era de onze e com o passar do tempo foi diminuindo. Giovanni di Bicci diminuiu para nove e  seu filho Cosimo Il Vecchio, no século 15,  reduziu-o a oito. Seu filho Piero “Il Gottoso”, reduziu-o a sete e foi em 1465, quando o primeiro reconhecimento heráldico chegou aos Médici, que  o rei Luís XI concedeu a Piero de ‘Medici e seus herdeiros o uso de uma bola azul  francesa, com flores de lírio douradas. Foi Lorenzo “O Magnífico” que excluiu uma bola e  passou a usar seis, sendo 5  bolas vermelhas e uma azul.  Posteriormente Cosimo I  passou a utilizar o formato oval ao qual  acrescentou a coroa ducal.

 

Teto das escadarias do Palazzo Vecchio. A origem do brasão desperta tanta curiosidade e segredos que envolvem a família Medici, famosos por terem promovido a arte e a inovação em diversos campos

Esquina do Palazzo Medici Riccardi, a primeira residência da família Medici em Florença

Lendas e histórias envolvem a origem do brasão e as versões são conflitantes e um tanto duvidosas. Apresento pra vocês algumas prováveis versões:

Uma primeira versão é uma tentativa fazer uma conexão das bolas ao sobrenome da família. Talvez as bolas  sejam na verdade pílulas medicinais, sendo uma alusão à  profissão originalmente exercida pelo fundador da família.   Na Idade Média algumas pílulas e comprimidos eram redondos e de cor vermelha.

Outra versão é que as bolas representam laranjas, visto que a família cultivava frutas cítricas. Em todos os jardins das vilas  toscanas é possível ver os grandes vasos com uma grande variedade de frutas cítricas.

Como eram banqueiros, uma das explicações sustenta  que as esferas representam moedas,  também  presentes no brasão da Arte del Cambio ( que era uma corporação),  onde os Médici fizeram sua fortuna.  Mas no caso da poderosa família, com a inversão das cores, pois o brasão desta Arte era um escudo vermelho com flores douradas.

Uma outra versão é que  as bolas  representam as pegadas deixadas por um bastão do gigante do Mugello de um homem que se chamava Averardo, ancestral dos Medici que chegou na Toscana  como comandante do exército de  Carlos Magno.

Outra hipótese muito provável é relacionada às batalhas. Na heráldica, as  figuras  de um brasão podem representar o número de inimigos mortos em batalha. Os Medici teriam então iniciado seu número de esferas graças a algum soldado que, no decorrer de uma batalha ou de uma guerra ainda mais importante como uma cruzada, teria matado onze inimigos de uma vez.

 

 

Giulio d’argento di Cosimo I de’ Medici granduca di Toscana (foto internet, reprodução sem fonte)

 

Brasão de Cosimo I de’ Medici, “Insigna Florentinorum”, 1550-1555

 

Capela dos Príncipes, mausoléo da família Medici

 

O brasão nas tombas de integrantes da família Medici nas Capelas Medicee

 

No Duomo de Pietrasanta o brasão fica no alto, no meio da igreja

 

medici-firenze

Esquinas decoradas – Nessa esquina, nas proximidades da piazza Duomo, o Brasão da poderosa família Medici, os mecenas de Firenze que governaram a cidade por mais de 3 séculos . Podemos observar em diversas construções na cidade o brasão que contém 6 bolas

 

A Tribuna, no Museu Uffizi

 

A igreja de San Martino de Florença

Nas proximidades da área onde nasceu e viveu Dante Alighieri encontra-se a pequena igreja de San Martino, conhecida também como “Buonomini” (Bons Homens), que como  o  próprio nome sugere, cuida dos necessitados em Florença há muitos séculos. A  Compagnia dei Buonomi di San Martino foi fundada em 1441 pelo frei Antonino Pierozzi, Sant’Antonino, que era priore do convento de San Marco e sucessivamente arcebispo de Florença. Ele pediu ajuda a 12 homens que pudessem colaborar com as famílias florentinas que haviam caído em desgraça econômica e por orgulho ou vergonha não pediam ajuda, eram os poveri vergognosi. E pouca gente imagina que no interior dessa pequena igreja encontramos pinturas maravilhosas, um ciclo de afrescos atribuídos à bodega de Ghirlandaio,  que foi maestro de Michelangelo.

A porta da Igreja de San Martino, que foi fundada em 1º de fevereiro de 1442, mas em Florença era ainda 1441 pois o ano novo caía em 25 de março

 

Afrescos atribuídos à escola de Ghirlandaio no interior da igreja

 

Frei Antonino escolheu como sede da Confraria a igreja de San Martino, o santo dos pobres, aquele que compartilhou seu manto com um mendigo encontrado quase completamente nu.

A congregação paroquial conhecida como Buonuomini está localizada  perto da casa de Dante Alighieri, em frente à Torre della Castagna

Um pouquinho de história – Nos séculos 14 e 15, os mercantes  representavam uma grande força  econômica para a cidade. Portanto, grandes ganhos e  obviamente também ruínas fizeram parte desse novo sistema econômico que influenciou fortemente a economia na época.  Um fator que influenciava sobre a fortuna era a política: em Florença usava-se para derrotar o partido oposto, o exílio e o confisco de bens e, com isso,  muitas famílias ricas e poderosas podiam perder todo o capital.  Imaginem que na Idade Média os comerciantes que faliam recebiam uma punição pública: eram acorrentados , ridicularizados e condenados!

O edifício foi construído no século XV e consagrado por Frei Antonino. A igreja foi renovada em estilo renascentista em 1479. Fiz essa foto do Museu Casa di Dante

A congregação  ainda segue as mesmas regras que vigoram desde meados do século 16: recolhe a contribuição de florentinos caridosos e doa anonimamente aos necessitados, protegendo a sua dignidade. A ajuda  sempre foi prestada com a máxima discrição.

O ciclo de afrescos que representam As sete obras da Misericórdia. À esquerda Madonna con Bambino, de Della Robbia

A expressão “essere ridotti al lumicino” na Toscana significa que a situação econômica está muito grave, o que em português seria algo como “ser reduzido à luzinha”. A origem dessa forma de falar surgiu aqui nesta igreja. Quando necessitavam de ajuda financeira, a Fraternidade dos Buonomini acendia uma pequena luz sobre a porta de entrada, enviando dessa forma uma mensagem aos florentinos de que a congregação estava sem recursos para ajudar os pobres e esse método de pedir ajuda funcionou dessa forma até 1949.

Na esquina da igreja  fica o tabernáculo com San Martino  que faz o pedido para os  pobres (século 17), de Cosimo Ulivelli.  Abaixo do tabernáculo, o local para as doações

 

E na fachada da igreja o buraco das instâncias, por onde chegam os pedidos de ajuda

Aqui vale a máxima: faça o bem sem olhar a quem!
Curiosidade:  no dia 11 de novembro celebra-se  São Martinho, um santo que é considerado o padroeiro dos anfitriões, enólogos, sommeliers, vindimadores e até dos bebados!

 

Igreja de San Martino/ Congregação dos Buonomini
Piazza San Martino
Horário de funcionamento: das 10:00 às 12:00 e das 15:00 às 17:00
Domingo e sexta-feira à tarde está fechado
Ingresso gratuito

O Museu dos Medici de Florença

O Museo de’ Medici de Florença é o primeiro e único espaço expositivo inteiramente dedicado à história dessa poderosa família que por cerca de 3 séculos governou Florença e a Toscana.  Com  elementos reais e virtuais, o museu conta principalmente a  história da família  a partir dos anos 1500 e dos Grão-duques da dinastia por meio de salas temáticas, retratos, medalhas, documentos, manuscritos e exposições temporárias, de coleções particulares e portanto, inéditos. O museu , localizado no Palazzo Sforza Almeni, foi inaugurado em junho de 2019.

 

Esse é o primeiro museu dedicado exclusivamente à história da família Medici, onde podemos conferir  coleção de pinturas, manuscritos, objetos pessoais e raridades pertencentes a alguns dos mais  ilustres membros da família

Participei de uma visita guiada organizada pela Toscana è,  associação que ajuda a divulgar as belezas do território toscano. Nossa visita foi conduzida pela competente guia Elena Petrioli, autora do blog Guarda Firenze,  e contou com a participação do diretor do museu, Samuele Lastrucci.

Com a guia Elena, Mad e Sandra e os  membros da  Toscana è Leonardo, Gloria, Marco e Erika

Palazzo Sforza Almeni  – o antigo palácio fica a poucos passos da Catedral Santa Maria Del Fiore

O museu está localizado no Palazzo Sforza Almeni, antiga residência do cavaleiro Sforza Almeni,  que foi conselheiro de Cosimo I de ‘Medici. Sforza Almeni foi  secretário de Cosimo por mais de 20 anos, de quem obteve  privilégios e recebeu muitas honras, como o título de Cavaleiro de Santo Stefano e a posse do edifício, confiscado da família Taddei, que havia se oposto ao regime dos Medici.   Almeni convocou os melhores artistas da época  para reestruturar o palácio,  como Vasari e Ammannati. O papel de secretário confidencial do duque era também muito perigoso e arriscado e aproveito para contar pra vocês uma curiosidade envolvendo o Grão-Duque:  Sforza Almeni pagou com a própria vida a revelação à Francesco I, filho de Cosimo,  de sua relação  amorosa com a jovem Leonora degli Albizi. Cosimo I não gostou nada que seu secretário revelasse ao filho sobre sua vida amorosa  e o assassinou com suas próprias mãos.

Brasão original,  do século 16  das familias Medici e Toledo,  no hall de entrada. Na esquina do prédio fica uma cópia

Família Medici
Um breve resumo sobre a poderosa família Medici, que governou Florença por  cerca de 3 séculos e foi uma das mais importantes do Renascimento italiano. Muito provavelmente a família Medici é originária do Mugello, norte de Florença, mas não existem evidências que comprovem a sua origem.  Os Medici não eram nobres, mas comerciantes de tecidos e banqueiros.
A dinastia começou com Giovanni di Bicci que se tornou o financiador do Papa João XXIII, e a partir desse momento os Medici se tornaram a maior e mais eficiente organização econômica e financeira da época. O processo de construção do domínio dos Medici sobre a cidade de Florença, entretanto, começou com Cosimo de’ Medici, conhecido como Cosimo “O Velho”, em 1434. O esplendor florentino  chegou com Lorenzo de’ Medici, conhecido como “O  Magnífico”, em meados do século XV.
O museu conta principalmente a história da família a partir do século 16,  quando Cosimo I tornou-se o primeiro Grão-Duque da Toscana, título que manteve até sua morte.
Os Medici nunca ocuparam cargos públicos, mas exerciam o poder através da criptomonarquia (“cripto” está para oculto), isso é, eles comandavam colocando no poder personalidades manipuláveis e favoráreis às suas ideias e interesses.

O Museo de’ Medici e a Fondazione Anna Maria Luisa apresentam um espaço inteiramente dedicado à família mais importante de Florença

 

 

A “Sala do Tesouro”, com a reconstrução tridimensional fiel da coroa grão-ducal, que foi perdida

No início do percurso uma sala com uma coleção de retratos, começando pelo casal Cosimo I e Eleonora di Toledo

Salas – Nas salas do museu, grande parte da história da família é contada através da exposição de obras de arte originais, documentos e relíquias, testemunhas diretas do domínio secular dos Médici em Florença.

Três grandes salas do museu são divididas por períodos e retratam os séculos 16, 17, até a primeira metade do século 18, quando faleceu a última herdeira da família.
A primeira sala  é dedicada à genealogia, com diversos retratos expostos por casais, sendo o primeiro o de Cosimo I e Eleonora di Toledo, filha do vice-rei de Nápoles.  A seguir encontramos Francesco I e Giovanna da Áustria. E aqui aproveito para contar sobre uma história de amor que marcou a Senhoria Medici: Francesco era amante de Bianca Cappello, ambos casados na época. Depois que ambos ficaram viúvos, finalmente se casaram. Mas o casal de amantes morreu em circunstâncias misteriosas até hoje não esclarecidas, numa das  vilas da família, a Villa de Poggio a Caiano, arredores de Florença. Depois disso, seu irmão Ferdinando I, que era cardeal,  casou-se com Cristina de Lorena.
Os últimos retratos da sala são os de Anna Maria Luisa de’ Medici, filha de Cosimo III. Anna Luisa foi a última herdeira dos Medici e morreu em 1743.

Afrescos da escola de Giorgio Vasari na pequena capela do Palazzo Sforza Almeni

Na Sala del Cinquecento. No século 16, o poder absoluto passou a ser de Cosimo I de’ Medici, do ramo cadete da família, que assumiu quando tinha apenas 18 anos, após o assassinato do Duca Alessandro, em 1537

Cosimo I de ‘Medici, Grão-Duque da Toscana, em retrato realizado por Agnolo Bronzino (1545 aproximadamente)

 

O Diretor do Museu dos Medici, Samuele Lastrucci

 

Ao centro da Sala del Seicento , escultura do busto de Ferdinando II realizada por Giovanni Battista Foggini

 

Modelo de um galeão da frota dos Medici. Vocês sabiam que  Ferdinando I tentou fundar uma colônia do Grao-Ducado no Brasil? A expedição, liderada pelo inglês Robert Thornton, desembarcou na Guiana e posteriormente no Brasil e quando retornou para a Itália, em 1609, Ferdinando I havia falecido e seu filho não teve interesse em dar continuidade à ideia de seu pai

 

A Sala del Settecento com os retratos dos últimos membros da família

 

Algumas reproduções de cartas e documentos da família

Em outubro de 2023 o Museo de’ Medici passou a funcionar na Rotonda del Brunelleschi

 

Museo de’ Medici

Via dei Servi, 12 – Firenze

Horário :  das 10 às 18 horas, diariamente

Valores do bilhete: 9,00 euros com guia de rádio

5, 00 euros com guia habilitada

15, euros  em companhia do diretor do museu (requer agendamento)

Email: museodemedici@gmail.com

 

Se você gosta deste blog, pode ajudar  a fazê-lo crescer cada vez mais de forma concreta compartilhando posts, acompanhando as mídias sociais e indicando aos amigos:  Facebook e Instagram  @grazieateblog.   Conto com vocês! Grazie tante!

 

20 atrações grátis em Firenze

Dicas de Firenze

A Igreja de Santa Croce

Nonos da Itália 

A Basílica de Santa Maria Novella

 

Florença menos conhecida – 2

Fico admirada quando escuto  algumas pessoas comentando que em um dia é possível conhecer as principais atrações de Florença! Talvez você consiga passar na frente da maioria delas, mas essa cidade, apesar de ser pequena,  guarda  muitíssimas preciosidades – seja no interior dos majestosos palácios que em suas ruas e praças!   E para quem busca uma Florença menos óbvia,  trago neste post outras 10 atrações. Já havia publicado ano passado Florença menos conhecida indicando 10 atrações. Espero que gostem:

 

O Museu degli Innocenti, o primeiro orfanato da Europa. A obra de arquitetura renascentista é um projeto de Brunelleschi

 

1- Museu degli Innocenti –   O museu surgiu  no ano de 1419  com a designação de hospital: Spedale degli Innocenti  e há seis séculos acolhe crianças abandonadas.  Desde a sua criação a instituição presta  assistência  à crianças  órfãs e filhos ilegítimos. Na época do Renascimento  muitos bebês foram deixados no hospital As crianças eram abandonadas  de forma anônima,   não se sabia o sobrenome da mãe e nem da família. Uma curiosidade ligada ao local é que quando as crianças podiam deixar o instituto elas recebiam os sobrenomes  Innocenti, degli Innocenti, Nocenti ou Nocentini. O museu fica na Praça della Santissima Annunziata

Dentre as obras de arte que podemos admirar no museu, está Madonna col bambino, realizada por Sandro Botticelli

 

2- Capelas Medici – As Capelas dos Medici, no Complexo de San Lorenzo, é o local dflocal que abriga o mausoléu da poderosa família Medici, os mecenas de Florença e da Toscana. Eles governaram a cidade entre os séculos 15 e 18 e são responsáveis por Florença ser mundialmente conhecida como Berço do Renascimento. O conjunto das capelas é constituído pela cripta, pela maravilhosa  Capela dos Principes, onde estão os túmulos de seis grão-duques da família Médici e pela Sacristia Nuova, que é outra capela funerária onde Michelângelo Buonarroti atuou como arquiteto e escultor.

 

 

3- Museu Bargello – o maravilhoso  Museu do Bargello, localizado no antigo Palazzo del Podestà, abriga algumas das mais importantes obras da escultura do Renascimento italiano em seus majestosos salões. Em 1865 tornou-se o primeiro museu nacional italiano dedicado às artes da Idade Média e do Renascimento e é um importante museu com obras de Cellini, Donatello, Luca della Robbia e Michelangelo. Suas coleções incluem esculturas, cerâmicas, medalhas, bronzes, tapeçarias e mobiliário, que pertenceram à família Médici e a colecionadores. Dentre os doadores mais relevantes, o antiquário francês Louis Carrand.

 

 

4- Igreja e Museu de Orsanmichele – Antigo celeiro, a igreja de Orsanmichele representa uma interessante síntese entre a arquitetura religiosa e a civil.  Além de igreja, no local funciona também um museu, na parte superior. Cada corporação fez uma homenagem  ao seu santo padroeiro e sua  fachada  conta com 14 estátuas, do período Gótico até o fim do Renascimento. Fica entre a Praça da Signoria e praça do Duomo.

 

Orsanmichele apresenta  uma das arquiteturas florentinas mais importantes do século XIV

 

5 – Basílica San Lorenzo –  conhecida como “A igreja da família Medici”, a Basilica de San Lorenzo foi por 300 anos a catedral da cidade. A igreja abriga muitas obras-primas de artistas famosos da cena artística e arquitetônica de Firenze.  Foi consagrada em 393 por Santo Ambrósio e  foi por três séculos a igreja mais importante de Florença.  Foi transformada de igreja romanica à basilica renascentista pelo arquiteto Filippo Brunelleschi. Em seu interior podemos admirar obras de Michelangelo, Donatello e Filippo Lippi. Fica perto do Mercado Central de San Lorenzo.

 

 

7- Igreja San Marco- O Museu de San Marco, que fica ao lado igreja da homônima, funciona num ex-convento  fundado em 1299 pelos monges beneditinos Silvestrini e que passou  para a ordem dos Dominicanos Observantes em 1436.  No anos sucessivos, com financiamento de Cosimo dei Medici e sob a direção do arquiteto Michelozzo, foi totalmente restaurado e reformado, além de embelezado com afrescos de Beato Angelico.  A visita a San Marco inclui os esplêndidos espaços arquitetônicos do convento e das celas, o claustro de Sant’Antonino, o Cenacolo del Ghirlandaio, o refeitório e a Sala Capitular. Abriga o maior acervo do mundo de obras de Beato Angelico que também viveu e trabalhou no convento por volta de 1440 para afrescar os espaços renovados por Michelozzo.

 

 

6-  Museu Davanzati –  O Museu Davanzati é um maravilhoso museu no centro de Florença onde  possível admirar e respirar a atmosfera medieval do século XIV. É o Museo della Casa Medioevale Fiorentina,  também conhecido como Palazzo Davanzati. Esta é uma típica residência nobre florentina, que foi preservada quase intacta e representa o momento de transição entre a casa-torre medieval e um prédio renascentista.

 

Como era uma residência em epoca medieval? O palácio Davanzati, construído em meados do século XIV, apresentava aos visitantes o verdadeiro estilo de uma casa medieval florentina

8 – Igreja Santissima Annunziata – A basílica de Santissima Annunziata tem uma história antiga. A igreja é da ordem dos Servitas e foi fundada em 25 de março de 1250. A igreja foi reconstruída entre 1440 e 1481 graças a Michelozzo que construiu o primeiro claustro e algumas modificações foram executadas por Leon Battista Alberti. A igreja é um excelente exemplo de decoração barroca em Florença com maravilhoso trabalho na cúpula realizado pelo artista Volterrano. A igreja fica na praça homônima e o ingresso é gratuito.

 

9 – Igreja de Santi Apostoli – Conhecida como o “Vecchio Duomo” de Florença, a  igreja de Santi Apostoli é uma das igrejas mais antigas da cidade e está localizada na Piazza del Limbo. Algumas curiosidades sobre a igreja. A  praça que abriga a igreja é chamada Limbo porque foi construída na área de um antigo cemitério de crianças que morreram antes de serem batizadas.  Segundo indica uma placa junto à porta,  teria sido fundada por Carlos Magno no ano 800 DC,   mas historiadores acreditam que sua fundação tenha acontecido alguns séculos depois. A igreja apresenta ainda traços estilísticos do início da Idade Média, tendo preservado a planta típica das primeiras igrejas cristãs . A fachada da igreja é simples e em estilo românico e foi realizada  no século 11. A igreja é ligada a uma das mais importantes tradições florentinas,  o Scoppio del Carro, ou “Explosão da Carruagem”, celebração com fogos de artifício que acontece no Domingo de Páscoa em frente ao Duomo de Florença.  Na  igreja estão custodiadas as pedras que,  segundo a tradição, foram trazidas por Pazzino de ‘Pazzi da Terra Santa depois da primeira cruzada, em 1101,  e que  simbolicamente são utilizadas até hoje para dar início à queima de fogos. Dentre as obras da igreja ,o tabernáculo em terracota vitrificada, realizado por Andrea della Robbia por volta de 1512.

 

Está localizada nas proximidades do local onde ficavam as antigas termas romanas em Borgo Santi Apostoli

 

10- Forte Belvedere –  Outro ponto panorâmico da cidade de Florença é o Forte de San Giorgio, no Oltrarno,  mais conhecido como Forte di Belvedere. Esta é uma das fortalezas de Florença e foi construído no topo dos Jardins Boboli para proteger a residência dos Medici do Palazzo Pitti.  Maravilhoso exemplo de arquiteta militar  do século 16, foi realizado por vontade  do Grão-Duque Ferdinando I entre 1590 e 1600.

Agora me conte, você já esteve nesses locais ou ja havia falar sobre eles?

Florença romana

Quando a gente caminha e admira toda a beleza de Florença costuma associar tudo o que vê principalmente ao Renascimento.  Embora poucos saibam, Florença nasceu bem antes da Idade Média e do Renascimento, períodos pelos quais é mundialmente famosa.   Apesar de testemunhos muito antigos, ainda de época etrusca, Florença foi fundada no século I antes de Cristo.  A data exata é uma dúvida, alguns historiadores atribuem à Julio Cesar no ano de 59 AC e outros à Augusto, o primeiro Imperador Romano, que a teria fundado entre os anos 30 e 15 AC.  A cidade foi chamada de Florentia, em homenagem à deusa Flora e ao período de sua fundação, em plena primavera, mês das flores.

Florentia foi fundada na margem direita do Rio Arno e havia uma ponte que ficava próxima ao local onde hoje encontramos a Ponte Vecchio

A cidade de Florentia tinha um traçado urbano típico romano, baseado no acampamento militar, chamado castrum. No acampamento fortificado  havia o fórum,  bem  ao centro da cidade,  o Capitólio, uma   fullonica, as termas e um anfiteatro,  que era sempre construído mais afastado, fora do centro.  Infelizmente  não ficou quase nada de época romana na cidade, é preciso saber exatamente onde ir para poder testemunhar o passado romano em Florença.  Muito acabou sendo  destruído  durante as obras de “Florença-Capital”, no século 19.

O traçado da colônia  seguia o  modelo clássico de urbanismo romano, desenvolvendo-se numa área retangular, orientada pelos pontos cardeais e rodeada por muralhas defensivas (imagem internet por Rachel Valle)

 

A delimitação das muralhas  na parte norte da cidade romana ficava na correspondência onde hoje encontramos o Duomo e o Batistério.  Existem dúvidas sobre a estrutura do Batistério e sua fundação, segundo uma tradição florentina,  em época romana, aqui ficava um Templo dedicado à Marte

Teatro romano
Parte do Palazzo della Signoria, ou Palazzo Vecchio, foi construído sobre o grandioso teatro de época romana.  O teatro romano era muito grande, provavelmente com capacidade para abrigar cerca de 15 mil pessoas e abrangia a  área que fica à esquerda de onde hoje fica o Palazzo Vecchio, parte da área do  Palazzo Gondi  até a praça San Firenze. O antigo teatro foi realizado aproveitando a inclinação  natural do terreno. Um dos poucos pontos da cidade onde podemos testemunhar os restos do teatro é no subsolo do Palazzo Vecchio. As escavações arqueológicas permitiram trazer à luz os restos de algumas partes do teatro romano, conservados  aqui no subterrâneo. Numerosas evidências arqueológicas emergiram das escavações realizada nos anos 80 para repavimentação da praça.

Um dos poucos locais onde podemos testemunhar os restos do teatro romano é no subsolo do Palazzo Vecchio. O teatro tinha capacidade para até 10.000 pessoas

Na área que atualmente corresponde à Praça da Signoria haviam um spa e uma fullonica, para lavagem e tingimento de tecidos

O antigo fórum romano

Em época romana, na praça da República existia o fórum, com o Templo dedicado à Tríade Capitolina. O fórum era  a praça mais importante de todas, era o centro político, administrativo, religioso e comercial das cidades romanas.  Exatamente onde fica a Coluna da Abundância delimitava o centro exato da cidade,  o ponto de união das duas estradas principais, o Cardo e o Decumano.

No local onde encontramos a Coluna da Abundância  marcava o ponto central da cidade. A coluna marca o cruzamento dos 2 eixos,  o ponto de união das duas estradas principais, o Cardo e o Decumano

 

Termas

Os romanos adoravam frequentar os  banhos públicos ou as termas. Esses edifícios eram locais que proporcionavam todo  tipo de entretenimento, com jardins adornados com estátuas onde se podia caminhar,  fazer ginástica, massagem e praticar esporte.   Alguns locais aqui em Florença, além dos banhos termais Capitolinos (perto do Campidoglio, na praça da Republica), haviam os banhos termais onde atualmente encontramos a Torre della Pagliazza, na Praça Santa Elisabetta,  e nas proximidades da piazza del Limbo, nas ruas delle Terme e Borgo Santi Apostoli.

Paralela à essa rua, temos a via delle Terme, que lembra os antigos banhos romanos, que aqui se localizavam. O edifício restaurado lembra com suas escritas o passado de época romana

 

Outro local onde ficavam os banhos termais é onde encontramos atualmente a Torre della Pagliazza , na piazza Santa Elisabetta

 

Anfiteatro

Outra área  muito interessante da Florença romana é, sem dúvida, a de Santa Croce, em particular a modo a  pequena Piazza dei Peruzzi, que tem a particularidade de ter palácios assentados sobre as ruínas do anfiteatro romano, o que lhes confere um traçado típico elíptico. E a poucos passos da praça Peruzzi fica a  Via Torta, que marca o perímetro do antigo anfiteatro.  Como acontecia nas cidades romanas, o anfiteatro fora construído mais afastado do centro, fora das muralhas e tinha capacidade para ate 20 mil pessoas.  As estruturas medievais  dessa área da cidade, que inclui a Piazza Peruzzi, via Bentaccordi e via Torta, seguem perfeitamente a curvatura elíptica do antigo anfiteatro.

O anfiteatro romano – A escolha do local foi nos limites da área urbana,  nas proximidades da atual Praça de Santa Croce

 

Quando foi feita a reestruturação  em Florença no século 19, algumas ruas foram nomeadas  conforme o que foi encontrado na época da renovação da cidade, como via Del Campidoglio, via delle Terme e Via del Capaccio, onde terminava o aqueduto que abastecia a cidade,  através de um sofisticado sistema de água que começava no Monte Morello

O aqueduto
O aqueduto romano de  Florentia partia das nascentes do Monte Morello e terminava o percurso na Via di Capaccio,  nas proximidades do atual Mercato del Porcellino.
Cemitério

As áreas do cemitério de Florentia eram ao longo das estradas principais. Uma das maiores necrópoles localizava-se ao longo do trecho da Via Cassia e os vestígios  vieram à tona no século 16 , durante as escavações da construção da Fortezza da Basso, nas proximidades da estação ferroviaria de Santa Maria Novella, e alguns séculos depois  com a construção da ponte ferroviária al Romito.

 

 

Florença no tempo das casas-torres

Havia uma grande quantidade de casas-torres no cenário da Florença do século 13. A torre era não apenas a habitação, mas também símbolo da força das famílias nobres e indicador da posição econômica. Na Idade Média a vida política era conturbada e existiam muitos conflitos violentos, onde famílias nobres e suas facções se desafiavam pelo poder, como os guelfos e ghibelinos, e a casa-torre garantia  segurança para as famílias, que podiam se refugiar durante os ataques dos inimigos. Eram as casas de nobres ou mercantes  ricos, já que esse tipo de construção era muito cara e acessível apenas à uma parte  da população.

Na Idade Média  haviam cerca de 150 casas-torres em Florença.  Era a habitação principalmente de ricos mercadores florentinos, uma espécie de forte defensivo

Algumas torres, sobretudo aquelas pertencentes à mesma família ou à famílias aliadas,  estavam ligadas por uma passagens de madeira, uma espécie de ponte,  oferecendo dessa forma uma melhor comunicação em caso de confronto.

Em época medieval o cenário era bem diferente do que encontramos hoje em dia

Em Florença existiam cerca de 150 casas-torres, com altura entre 50 e 70 metros, e atualmente poucas ainda estão de pé.  Algumas dessas torres foram destruídas ao longo dos anos durante as guerras internas.  No século 19, quando  foi criado o novo plano urbanístico da cidade, muitas foram demolidas ou incorporadas em construções de um período posterior.

Atualmente restam cerca de 50 torres, que estão camufladas no tecido urbano moderno

No centro de Florença encontramos ainda inúmeras torres que sobreviveram a guerras civis, demolições e renovações, sendo que algumas foram incorporadas em palácios e em edifícios, e nem todas são reconhecíveis imediatamente. Quando começaram a surgir os municípios, no século 13,  as torres foram cortadas, como forma de mostrar que o poder das famílias nobres havia acabado e o palácio começou a  simbolizar o poder de uma família, e não mais a torre.

Come eram as casas-torres?
As casas-torres serviam como abrigo e ao mesmo tempo eram instrumento de controle e  vigilância territorial.  As torres apresentavam uma estrutura  compacta e eram geralmente   desprovidas de aberturas, com exceção de algumas lacunas, que em italiano é chamada de “feritoia”,  que significa uma pequena abertura feita na  estrutura fortificada.

A Torre de Manelli, na Ponte Vecchio

As aberturas para o exterior eram limitadas não apenas  por uma questão de defesa contra ataques inimigos mas também devido ao clima,  já que  naquela época, o único tipo de aquecimento era o fogo e evitava-se ao máximo  contato com o exterior para não diminuir a temperatura interna. Por esse motivo as casas eram muito  escuras.  E por segurança, as entradas localizavam-se não no nível da estrada, mas no topo, no primeiro ou no segundo andar, acessíveis por escadas móveis de madeira ou por meio de passagens acessíveis  pelo interior dos outros edifícios.  Para maior segurança,  haviam as escadas de madeira nessas min-fortalezas que eram removidas à noite.

A Torre dei Belfredelli, no Oltrarno. As casas-torres levavam o nome das famílias as quais pertenciam

As construções eram adequadas para a defesa em um período anterior ao desenvolvimento da artilharia, quando a defesa era realizada principalmente com arremessos

Em caso de ataque, eram colocadas tábuas nos pisos superiores que ligavam as casas-torres mais próximas entre si para facilitar a fuga dos habitantes em caso de necessidade

As construções eram adequadas para a defesa em um período anterior ao desenvolvimento da artilharia, quando a defesa era realizada principalmente com arremesso, portanto, a ação de cima era necessária. Eram construídas em tijolo ou em pedra e  apresentavam janelas estreitas. Dependendo da atividade do proprietário, o porão da torre podia servir de depósito de materiais utilizados para o trabalho e no térreo eles desenvolviam suas atividades. No andar superior, chamado nobre, ficavam os dormitórios e, devido ao risco de incêndio, a cozinha ficava no andar mais alto.

Uma curiosidade, a cozinha ficava sempre  na parte mais alta da casa devido ao cheiro e ao risco de incêndio

 

No Davanzati tinha até banheiro, algo muito raro. Sim, é verdade que em época medieval as “necessidades” eram despejadas nas ruas

Museu Davanzati

E para quem quiser saber como é uma casa-torre,  pode visitar o Museo della Casa Medioevale Fiorentina, conhecido também como Palazzo Davanzati,  uma típica residência nobre florentina de época medieval, preservada quase intacta. Adoro esse museu e o recomendo, principalmente para quem viaja com crianças.

Um poço numa antiga casa-torre, no Palazzo Davanzati

 

Casa-torre

O edifício que abriga o Museu Casa de Dante não é uma construção de época medieval, mas uma reprodução do início do século 20

Gostou de saber sobre as casas-torres de Florença? Nao deixe de conferir o post sobre San Gimignano,  a Manhattan da Idade Média.

Já reservou seu hotel em Florença? Clique aqui para fazer a sua pesquisa.

 

Arte contemporânea no Oltrarno, em Florença

Florença ganha um novo espaço para a arte contemporânea, o Spazio FAF – Female  Artisans in Florence – uma iniciativa idealizada por quatro  mulheres artesãs provenientes de diversas partes do mundo. E a internacionalidade é um ponto crucial desse projeto, que é de cooperação entre culturas, com promoção de  atividades sociais e culturais, uma vitrine onde as mulheres poderão divulgar seus trabalhos e projetos, apresentar ideias e discutir assuntos ligados à vida profissional e pessoal, com workshops, laboratórios, reuniões e também realizar atividades físicas e praticas como yoga e meditação.

 

Spazio FAF,  um ateliê localizado no Oltrarno que surgiu graças à ideia de 4 artesãs: Jane, Giulia, Jacqueline e Ayako.  Espaço de compartilhamento e multidisciplinaridade

As quatro  mulheres idealizadoras do projeto desempenham uma multiplicidade  papéis,  conciliando tarefas de casa, com  os afazeres de mãe, artesã e  empreendedora.

 

O Spazio FAF  é um ateliê dedicado à arte, onde existe cooperação,  respeito, troca de ideias,  apoio e motivação entre a idealizadoras, compartilhando experiência e ampliando a rede de contatos

 

O Spazio FAF é um projeto que já nasce com um calendário repleto de eventos , que vai desde lições de canto à worshop de serigrafia. Com um fio condutor sustentável ao longo de suas obras, as artesãs compartilham valores éticos em relação à reciclagem e ao reaproveitamento de materiais.  Todas as peças são únicas, realizadas manualmente e são orgulhosamente “made in Italy”.

As idealizadoras do projeto. Ayako Nakamori, pintura em tecido com produção de bolsas e acessórios , Giulia Castagnoli, estampas gráficas aplicadas à mão em roupas e acessórios   Jacqueline Harberink, porcelana e Jane Harman, madeira e restauração

 

No momento o espaço abriga as exposições da artista contemporânea ucraina Olga Ermol e da fotógrafa Arianna Signorini, com retratos maravilhosos!

Spazio FAF

Borgo San Frediano 131, r – Firenze

Curiosidades sobre o Davi de Michelangelo

A  monumental obra de mármore  realizada pelo artista  Michelangelo, o Davi,  é um dos  maiores símbolos do Renascimento. Com cerca de 4 metros de altura e pesando mais de 5 toneladas,  o herói bíblico  foi representado pelo gênio renascentista de uma forma diferente das retratadas precedentemente: Michelangelo realizada a escultura de Davi antes de enfrentar seu inimigo.

Accademia

A obra impressiona pela perfeição!  A escultura apresenta Davi nu, contemplativo e concentrado,  com seu olhar desafiador que fixa o inimigo, com seus músculos que exalam tensão, segurando na mão direita uma pedra e do lado esquerdo  uma funda pendurada. Até as veias de seus braços e costelas são evidentes.  Foi realizada entre os anos de 1501 e 1504, e encontra-se na Galleria dell’Accademia de Florença.

 

image

Quem era  Davi – Davi é um personagem bíblico que nasceu em Belém,  na Judeia, provavelmente em 1040  AC. Foi um guerreiro e Rei do povo de Israel,  que reinou durante 40 anos, entre 1006 e 966 a. C. O Davi cortou a cabeça do Golias e liberou Israel dos filisteus

O Davi representado por  Michelangelo é um homem seguro,  contemplativo e  determinado, que segura uma pedra enquanto encara  Golias.  Representa a força intelectual, o personagem usa a mente, a estratégia, para enfrentar um inimigo muito maior e ameaçador.   Apesar de ser bem menor que Golias,  Davi era hábil  e usou uma funda  para derrotá-lo, acertando a cabeça do gigante.

Michelângelo tinha 25 anos quando começou a esculpir a estátua e o trabalho durou cerca de 3 anos.  O Davi é também era chamado de O Gigante

 

 

Medidas:

  • peso: 5,6 toneladas
  • Altura: 4,07 metri (a base mede 1,07 m)

O Davi foi realizado em apenas um bloco de  mármore branco de Carrara,  de cerca  5 metros e a escultura mede 4,10m.  Outros dois artistas já haviam falhado pois tiveram dificuldades técnicas para esculpir o bloco antes de Michelangelo, portanto, havia grande expectativa para ver o trabalho terminado. O mármore usado não era de qualidade, era poroso, com veios.

Davi

O lado direito do Davi é todo ação: é possível ver as veias de seu braço e de sua mão segurando a pedra. Davi nesse momento , antes do ataque, é pura adrenalina, com suas pupilas dilatadas

 

Michelangelo

Colocação da estátua

A obra foi encomendada ao artista em 1501 pela Opera del Duomo de Florença e da Arte della Lana. A encomenda a Michelangelo fazia parte de um programa que incluía 12 esculturas  para serem colocadas nos contrafortes da catedral.

 

A escultura  deveria ficar originalmente em um  dos contrafortes externos do Duomo,  do lado direito

A escultura  deveria ficar em um  dos contrafortes do Duomo, mas foi adquirida pela República de Florença e colocada na Piazza della Signora, em frente ao Palazzo Vecchio, onde permaneceu por mais de 350 anos.  No final do século 19 foi novamente transferida para a Galleria dell’Accademia, que foi construída para abrigar a famosa obra. Quando Michelangelo estava terminando de esculpir o “gigante”, a prefeitura pediu  à Opera de Santa Maria del Fiore que convocasse um encontro com os maiores artistas e intelectuais florentinos da época para avaliar uma nova colocação. A comissão decidiu que a escultura deveria ser colocada na entrada do Palazzo Vecchio, como um emblema da força e independência dos florentinos.

Transporte do Davi do Duomo até a Piazza della Signoria (internet site Muse Firenze)

O trajeto do Duomo até a Piazza della Signoria é de mais de 600 metros e foi feito em 4 dias. Durante o percurso, pela via Calzaiuoli, algumas pessoas que não eram apoiadores da República chegaram a apedrejar a obra. Sobre a forma de transportar o Davi , colocado em uma estrutura de madeira, Vasari descreveu que fizeram um “castelo de madeira fortíssimo”.  As rodas do carro eram toras de madeira; esse foi um trabalho minucioso e delicado.

 

O documento conservado no arquivo da Opera de Santa Maria Del Fiore (foto divulgação site Nove.Firenze internet)

 

No dia 25 de janeiro de 1504 uma comissão decidiu onde colocar o Davi e  dentre os participantes estavam Leonardo da Vinci, Filippino Lippi, Perugino, Botticelli e Andrea della Robbia. A obra foi apresentada ao público oficialmente em 8 de setembro de 1504 e ficou na praça da Signoria até o ano de 1873.  Alguns anos depois, em 1910, foi colocada uma cópia do Davi.

 

A Tribuna de Davi na Galleria dell’Accademia

A Tribuna  de Davi–  O Davi ganhou posição privilegiada na Galleria dell’Accademia na segunda metade do século 19. O arquiteto Emilio De Fabris foi contratado para construir uma tribuna, posicionada no final de um corredor.  Em 1873 o Davi foi transportado da praça da Signoria até o museu, numa operação que  durou  5 dias. A  obra foi colocada dentro de um enorme engradado e atrelada em uma carroça de madeira construída de forma complexa, que seguia pelas ruas do centro sobre trilhos até o museu.  O Davi, no entanto, ficou 9 anos embalado à espera da conclusão das obras do museu.  O Davi é a mais requisitada obra-prima da Galleria dell’Accademia e abriga o maior número de esculturas realizadas por Michelangelo.

 

Algumas  curiosidades:

    • Proporção –   quem já teve oportunidade de ver de perto certamente reparou uma ligeira desproporção. Na verdade, as mãos e a cabeça são maiores do que as outras partes do corpo.  É que essa escultura foi realizada  para ocupar um dos contrafortes da catedral Santa Maria del Fiore, decorando a área externa do Duomo de Florença, o que significa que o espectador deveria observá-la  de baixo para cima
    • Posição da obra –  O Davi foi colocado na Piazza della Signoria , na entrada do Palazzo Vecchio, até 1873, e quando foi transferido para a Galleria dell’Accademia, construída especialmente para receber a obra. O trajeto da praça até o museu durou 4 dias.
    • A representação –  O Davi de Michelangelo não está com a cabeça de Golias a seus pés. Michelangelo escolheu representá-lo antes do ataque.  A obra  representa a força intelectual: apesar de ser bem menor que Golias,   o  Davi  usa a mente,  concentra a sua energia de forma  estratégica para enfrentar um inimigo muito maior do que ele.
    • Material – Michelangelo aceitou  usar um mármore defeituoso que havia sido recusado por outros 2 artistas, Agostino di Duccio e Antonio Rossellino. Ele encontrou dificuldade técnica porque o mármore  apresentava veios.
    • Blefe – Michelangelo não permitia visitas enquanto trabalhava em sua obra. Quando a obra estava sendo finalizada, ele recebeu visita de  personalidades importantes , dentro os quais os Soderini, o gonfaloniere , ou prefeito de Florença  na época. Soderini comentou que o nariz estava muito grande. Imaginem um comentário desses com Michelangelo, que era melindroso e orgulhoso e  tinha um caráter forte  e nada fácil!  Mas ele não podia responder mal e pra não estragar as relações com o governo florentino. Michelangelo teve uma ideia: sem ser notado,  recolheu fragmentos e um pouco  pó de mármore do chão e voltou para os andaimes – imaginem que a obra tem pouco mais de 4 metros. Ele lá de cima soprou o pó de mármore e fingiu que estava acertando. Quando ele terminou Soderini disse:  Agora está perfeito! E ele respondeu: “pois eu não mexi em nada”!
    • Danos e ataques –  Além de ataques no percurso do transporte até a praça da Signoria o Davi sofreu outros ataques. Em 1527 a escultura sofreu sua primeira agressão violenta quando em um protesto político e perdeu o braço esquerdo.  Giorgio Vasari o recuperou e o braço foi restaurado, mas é possível ver as fraturas por onde partiu. O dedo médio da mão do Davi foi perdido, não se sabe em qual ocasião, e foi restaurado em 1813. Em 1991 um artista italiano de nome Piero Cannata conseguiu entrar com um pequeno martelo e esmagou o segundo dedo do pé esquerdo da escultura.

A Praça da República de Florença

A Praça da República, a Piazza della Repubblica, é uma das principais praças do centro de Florença  desde a época romana. É um ponto de encontro animado, colorido e cheio de vida! A “Praça do carrossel” já abrigou o gueto hebraico  e o Mercado Velho, que funcionaram no local até o século 19. A praça, considerada o miolinho de Florença e circundada por elegantes cafeterias, foi construída sobre as ruínas do fórum romano.

O Arco do Triunfo desenhado pelo aquiteto  Vincenzo Micheli e realizado em 1895. O arco traz a seguinte frase: “L’antico centro della città da secolare squallore a vita nuova restituito”

 

A praça da República foi construída entre 1885 e 1895, após a demolição da antiga Piazza del Mercato Vecchio

 

Considerada o centro da cidade há séculos, a Praça da República passou a sediar o mercado na Idade Média.A praça desde aquela época era ponto de encontro e de comercio e seu aspecto era bem diferente do que vemos hoje, pois existiam as casas-torres, os arranha-céus medievais.  

Na praça existe uma maquete para deficientes visuais

 

Antigo gueto – Construído por vontade de Cosimo I de ‘Medici em 1571, o gueto hebraico passou a ocupar essa área central da cidade, englobando a Piazza della Repubblica , na época o Mercato Vecchio, via Roma, via del Campidoglio e via Brunelleschi.  Era uma espécie de cidade murada, acessível por duas portas, e que continha duas sinagogas. Os judeus permaneceram  no local até meados do século 18, época em que receberam autorização para se mudar para outras áreas da cidade. O gueto foi demolido entre 1885 e 1895.

A praça hoje é animada por artistas de rua e shows improvisados

O aspecto atual de formato retangular com grandes edifícios do século 19 é o resultado da modernização urbana e das intervenções realizadas quando Florença foi proclamada capital da Itália, em 1865.  E nessa mesma época as antigas muralhas  que cercavam a cidade foram  demolidas para dar lugar para as avenidas, pois a cidade devia ter uma aparência mais imponente e majestosa.  Foram demolidas as construções, as torres, igrejas e bodegas.

No século 19 quando Florença foi eleita a capital da Itália aconteceu uma importante reestruturação  na praça (Foto da internet, sem autoria)

A inauguração da praça contou com a presença de Vittorio Emanuele II, que deu então o nome à praça.   Ao centro da praça  havia estátua do rei a cavalo, que foi transferida em 1932 para a Piazza Vittorio Veneto,  onde se encontra.

Cafés – Cafés históricos circundam a praça. Aqui encontramos o  elegante  Paszkowski, inaugurado em 1846, que fica ao lado de outra refinada cafeteira, o  Caffe  Gilli , fundado em 1897.  Do lado oposto encontramos o   Giubbe Rosse, fundado em 1897, que no início do século 20 tornou-se um ponto de encontro de escritores e artistas italianos e estrangeiros.

 

Impossível não associar a praça ao carrossel  retrô, que  pertence à família Picci. Está  presente na praça desde o início do século 20. E não só as  crianças se divertem, os adultos também são admitidos

 

A Colonna della Dovizia ou dell’Abbondanza

A última intervenção da praça é a Coluna da Abundância representa de fato, o centro exato da cidade,  ponto onde se cruzavam  as duas estradas  das principais ruas da antiga cidade romana,  Cardo e  Decumanus. No século 15  havia uma estátua de Donatello representando a Dovizia,  mas a obra foi destruída no século 18. Para substituir a obra de Donatello,  foi colocada a obra de Giovan Battista Foggini em 1721, a Coluna da Abundância.  Antigamente haviam na coluna duas correntes de ferro presas, uma mais no alto com um sino, que tocava na abertura e no fechamento do mercado, e outra para maias baixa , para o pelourinho, onde eram expostos os comerciantes desonestos, golpistas e devedores.

 

20 atrações grátis em Firenze

A arte dos vitrais italianos

Dicas de Firenze

A Igreja de Santa Croce

A Basílica de Santa Maria Novella

Refeições ao ar livre em Firenze

Mercado Central de Firenze

Vida na Itália 

Casamento na Itália