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Dante Alighieri, o “pai” da língua italiana

Dante Alighieri nasceu em 1265 em Firenze. Poeta, escritor,  político e também guerreiro, é considerado o “pai” da língua italiana. O “sumo poeta” é autor da Divina Comedia, uma das maiores obras de arte da literatura mundial escrita  na Idade Média. Sua trajetória como escritor foi marcada pelo amor platônico por sua musa Beatriz, símbolo de sua inspiração poética. Dante  passou os primeiros 30 anos de sua vida em Florença, foi exilado de sua cidade natal e  passou a viajar por diversas cidades, sendo que a última foi  Ravenna, onde morreu e foi sepultado, no ano de 1321. Dante  foi a primeira pessoa a escrever um poema épico em primeira pessoa. Ele é o narrador e também o personagem principal, explanando sua visão de relacionamentos pessoais, abordando fé, pecado, morte, redenção, razão, esperança, religião, ciência, amor e paixão . 

Durante Alighiero, esse era seu verdadeiro nome

 

A obra A Divina Comedia 

A obra de Dante, originalmente chamado de “Comedia”, ganhou o adjetivo de “Divina” graças  ao poeta toscano Giovanni Boccaccio (1313- 1375).  A Divina Commedia é um poema épico, escrito em dialeto toscano e  publicado no século 14 que descreve a trajetória da  alma de Dante Alighieri.  É  uma viagem imaginária com teor histórico, filosófico, político, mitológico  e religioso. A obra  é  composta de 100 cantos, com 33 cantos para cada  parte: Paraíso, Purgatório e Inferno, que tem um canto a mais,  que é o canto de  introdução. Os versos foram escritos em tercetos de decassílabos, isto é 10 sílabas,  em rimas alternadas e encadeadas.

Provavelmente no ano de 1306 começou a escrever a Divina Comedia

Dante iniciou a escrever a Commedia, uma das obras mais representativas da cultura italiana, provavelmente  em 1306 ou 1307, tendo escrito até 1321, ano de sua morte. Dante foi um dos primeiros poetas italianos a abandonar o latim. Ele começou a escrever em italiano vulgar, possibilitando  que o povo também compreendesse, pois era a língua falada pela maioria da população, não apenas na Toscana mas em toda a península. A obra teve sucesso desde o início e contribuiu significativamente para o processo de consolidação do dialeto toscano e por  este motivo Dante é considerado o pai da língua italiana.

Em sua obra, Dante começa a sua viagem no Inferno, que é local dos pecadores, passando pelo limbo do Purgatório, local dos pecadores que  aguardavam o julgamento, com visitas guiadas por Virgílio, autor de Eneida, o poeta conhece vítimas e pecadores, assiste a terríveis tormentos, escuta arrependimentos, confronta-se com a maldade dos homens e ganha outra consciência de si e das multidões que o acompanham. A terceira e última paragem é o Paraíso, local de purificação,  aonde Dante é conduzido por sua amada Beatrice.

A vida de Dante

Filho de Alighiero Di Bellincion e Bella degli Abati,  Durante Alighiero,  nasceu em Florença no bairro de San  Pier Maggiore, próximo à praça da República, no ano de 1265,  sendo que  a data precisa de seu nascimento não podemos saber pois jamais foi encontrado em nenhum documento. Era do signo de gêmeos, segundo suas próprias citações do canto XXII do Paraíso. Em 26 de março de 1266 foi batizado no Batistério de San Giovanni, como se usava, com todos os bebês do ano precedente.  Ficou órfão de mãe muito cedo e o pai era agiota, uma atividade na época permitida.  Era de família de classe média da facção guelfa que pode lhe proporcionar acesso aos estudos. Dante foi educado como um nobre, estudou arte da retórica,  literatura latina e francesa.

Ainda criança, aos 9 anos conheceu, sua musa Beatrice Portinari, que tinha quase a sua idade, e a viu novamente depois de 9 anos, quando ela já estava casada com Simone Bardi.  Apesar de nunca ter existido nenhuma relação entre eles,   Beatriz foi o grande amor da sua vida.

A musa Beatriz Portinari – Dante viu Bice, Beatrice Portinari, em  1274 quando ele havia apenas 9 anos e ela quase a sua idade, pois era alguns meses mais nova. Abro aqui uma parentese para dizer que Dante considerava 9 o número do milagre: a  santíssima Trindade, 3 vezes 3. Algumas associações que fazia era por exemplo é que a gestação de um filho dura 9 meses , 9 cenas do paraíso, número sempre presente. A segunda vez que Dante viu Beatriz ele tinha 18 anos (1 + 8 = 9) .

Quadro realizado por Raffaello Sorbi em 1863

Beatriz, , filha de um banqueiro,  casou-se com Simone de’ Barbi, um rico banqueiro.  Beatriz morre em  junho de 1290. E para elaborar o luto, Dante começou a estudar e a escrever.   Apaixonou-se pela   filosofia e começou a  imaginar a filosofia  como uma dona gentil, como uma senhora que o ajudava a se consolar da perda de Beatriz. Beatriz nasceu na via del Corso, onde hoje se ergue o Palazzo Salviati Da Cepparello (atualmente sede de um banco), em cuja fachada há uma placa com versos de Dante.

Em 1285 Dante casou-se com Gemma di Manetto Donati na igreja de Santa Margherita dei Cerchi, a mesma onde também havia se casado Beatriz. Foi um casamento que havia sido combinado desde que ele tinha 12 anos. Na Idade Média era muito comum que as famílias combinassem casamentos, por questões políticas e econômicas.  Dante não amava Gemma e não a cita em nenhuma de suas obras.  Não se sabe com certeza quantos filhos tiveram,  talvez quatro,  sendo que é possível saber os nomes de três deles: Jacopo, Pietro e Antônia.

Quando Dante viveu em Florença, a cidade era dividida em duas facções  políticas,  em guelfos e  em guibelinos. Os guelfos eram a favor do poder do Papa enquanto os guibelinos  eram à favor do poder do Imperador, mas nunca tiveram grande espaço na cidade. Os guelfos eram bastante numerosos e acabaram se dividindo: os guelfos brancos, que eram pela autonomia de Firenze e defendiam os interesses da população e os guelfos negros, que defendiam as famílias mais ricas e contavam com o apoio do Papa. Em 1289 Dante participou de algumas  operações militares, como a Batalha de Campaldino, quando os guelfos venceram definitivamente os guibelinos e os expulsaram de Florença.

O ano de 1290 é muito significativo para Dante pois é o ano da morte de Beatriz. Ela  morreu aos 24 anos. Dante amou por toda a sua vida Beatriz. Beatriz, por quem nutria um amor platônico. Após sua morte caiu em depressão e resolveu abandonar a poesia e passou  a dedicar-se  à nova “dona” , como ele mesmo dizia, referindo-se  à filosofia.  Dante buscou conforto nos estudos filosóficos.

 

Dante nutria um amor platônico por Beatriz. Dante  a  viu quando ela era criança, havia apenas 9 anos.  Depois a viu novamente quando os dois tinham acabado de fazer dezoito anos e durante aquele segundo encontro tudo em sua vida mudou. Embora ele nunca tenha falado com ela, seu amor por ela nasceu daquele olhar.  Um quadro famoso  inglês do século 19,  Henry Holiday, marca este encontro no Lungarno, perto da Ponte Santa Trinita, divulgação Wikipedia)

 

Para se aprofundar nos estudos frequentava as escolas dos dominicanos e franciscanos nas igrejas de Santa Maria Novella, Santo Spirito e Santa Croce, que na época estavam em construção. Nessa época, nas últimas décadas do século 13, a cidade era um verdadeiro canteiro de obras.  Dante tinha sede de aprender, queria entender como è feito o mundo, pois sabendo como é, seria mais fácil viver nele. Dante dedicou-se à leitura de autores clássicos, Virgilio, Ovidio, Lucano e Estacio. Foi aluno de Brunetto Latini, famoso professor em toda Europa, e aprendeu a arte da oratória.

Entre 1292 e 1295, Dante dedicou-se à obra “La Vita Nuova”, uma coletânea de poemas dedicados a Beatrice,  com a descrição de seu amor de forma profundamente espiritual.

Para iniciar na carreira política, em 1295,   entrou para a corporação da Arte dei Medici e Speziali.  Em 1300 vira um priore (era um tipo de prefeito e eram nomeados em 6) em Firenze,  com mandato de 2 meses, entre junho e agosto.

Na época, a vida política em Florença estava dilacerada  entre guelfos negros e guelfos brancos, ambas facçoes que apoiavam o Papado, mas os brancos desejavam a autonomia enquanto os guelfos negros aceitavam o controle  do Papa na vida política.  Em 1301 Dante faz parte de uma expedição e vai até Roma como embaixador para se encontrar com o Papa era Bonifácio VIII.  Aproveitando-se do desinteresse do imperador pela situação italiana, o  papa,  odiado por Dante, enviou um legado para fazer paz entre guelfos brancos e negros. Mas o legado favorece os guelfos neros, que eram rivais de Dante,  e eles acabam tomando o poder. Todos os guelfos brancos são condenados ao exílio.  Injustamente acusado de peculato, em 27 Janeiro de 1302 foi condenado ao exílio e nunca mais voltou para Firenze.

 

Castelo di Poppi.  Dante foi recebido pelo conde Guido di Simone da Battifolle em 1310, por um ano durante seu exílio de Florença

O Castelo Poppi faz parte de uma série de castelos medievais construídos no Casentino pela família Guidi. Este é, de todos, o mais bem preservado e o castelo mais fiel ao traçado original.

Começa assim o seu exílio de Florença. Dante era um político e intelectual famoso e recebeu asilo em diversas cortes. Dentre os locais que esteve estão em Forli, Verona, Arezzo, Treviso, Poppi, Lucca e provavelmente até em Paris. Foi para Verona e em  1318 foi pra Ravenna, para onde foram também seus  3 filhos. Entre as noites de 13 e 14 de setembro Dante morre em Ravenna.

 

Museu Casa di Dante

Em Florença existe o  Museu Casa de Dante, numa área de Firenze onde ele nasceu e viveu, que conta sua trajetória. A Casa de Dante foi reconstruída na primeira década do século 20 no local onde ficavam as casas da família Alighieri,    nas proximidades da Torre della Castagna.

O guia de turismo Riccardo Starnotti organiza muitos passeios guiados vestido de Dante , passando pelos lugares que marcaram a vida do poeta em Florença. E por que o vermelho? “Na Idade Média, os que eram considerados os grandes escritores usavam vermelho, que representava uma cor importante,  era usada por escritores ou juristas. Era uma  cor que conferia status. Mas não é que Dante andasse assim sempre, é que na iconografia sucessiva o vermelho era considerado a cor dos grandes escritores, eles foram representados dessa forma”.

A casa é um museu histórico, cujo percurso se divide em diferentes áreas temáticas que ilustram a vida privada do Poeta Supremo, sua atividade política e seu exílio. Eles também fornecem informações interessantes sobre a vida em Florença durante o período em que o poeta viveu na cidade.  

O museu aborda temas da vida política e civil, com a reprodução do quarto e vestimentas da época

Dante e Florença
Dante nutria um sentimento de imenso amor pela cidade que foi forçado a abandonar e pelo ressentimento das pessoas que o obrigaram ao exílio.   Na época,  a cidade que era corrompida pela ganância de poder e dinheiro, traiu o amor que Dante sentia por ela.
Em Florença existe o quartiere dantesco, o coração da Florença medieval com suas casas-torres. Essa parte da cidade é constituída por várias ruelas  entre a Piazza della Signoria, a igreja de Orsanmichele e a Badia Fiorentina.

A Torre della Castagna nas proximidades do local onde muito provavelmente  Dante viveu

A Torre della Castagna tornou-se, a partir de 1282, sede das reuniões dos priores de Florença e, portanto, foi certamente um local frequentado por Dante,  que  teve uma  vida política muito ativa.   Algumas décadas depois  foi construído em  Florença o suntuoso Palazzo Vecchio, que passou a abrigar os representantes políticos.

Florença medieval- Dante foi batizado no batistério de Florença, única construção da Piazza Del Duomo que já existia na época em que ele viveu na cidade

Lápides – Em Florença, as 33 lápides de Dante, com citações  da Divina Comédia  espalhadas pela cidade.

Nas proximidades do Duomo fica o “Sasso di Dante”

O chamado Sasso di Dante,  fica ao lado sul da Catedral, na Piazza delle Pallottole. Esse era o lugar onde  Dante  costumava sentar para descansar, contemplar, pensar e observar as obras da construção da nova catedral da cidade, o Duomo de Santa Maria del Fiore.

Interior do Museo dell’Opera del Duomo

No Palazzo Vecchio está custodida a máscara mortuária  de Dante foi doada por Lorenzo Bartolini ao inglês Seymour Kirkup,  florentino por adoção.   Passou a ser conhecida como  a “Máscara de Kirkup”, que foi doada à cidade de Florença pela esposa do inglês  em  1911. A máscara de Dante foi provavelmente realizada em 1483  por Pietro e Tullio Lombardo.  Bartolini teria encontrado a máscara em Ravenna por volta de 1830 e seria o molde de gesso do rosto do poeta esculpido por Tullio Lombardo quando seu pai, Pietro Lombardo, restaurou em 1481 o túmulo de Dante em Ravenna.

A máscara mortuária em gesso, na ala Apartamentos de Eleonora, no Palazzo Vecchio

A Igreja de Santa Margherita de ‘Cerchi, onde foi celebrado o casamento entre Dante e Gemma Donati.  Na igreja estão os túmulos de membros das famílias Donati e Portinari,  parentes da musa de Dante Beatriz. 
A Società  Dantesca di Firenze surgiu no final do século 19, no Palazzo Vecchio. A partir de 1904  adquiriu o Palagio dell’Arte della Lana  próximo ao  edifício estatal de Orsanmichele. E neste belo edifício  desenvolvem a atividades da associação.

Sede da Sociedade Dantesca de Florença

 

Morte de Dante

Dante passou os últimos anos de sua vida em Ravenna, onde esta enterrado. Morreu  entre 13 e 14 de setembro de 1321. Seus restos mortais encontram-se num mausoléu construído em 1780. Em seu interior, uma placa e uma chama que queima continuamente, uma lâmpada a óleo, oferecido pela prefeitura de Firenze, como uma forma de pedir desculpas ao poeta.

tumulo-dante

Local onde estão os restos mortais do poeta Dante. A visitação é aberta ao público e gratuita.

Existe no interior da Basílica de Santa Croce um cenotáfio realizado pelo artista Stefano Ricci no século 19.  Ricci trabalhou por mais de 10 anos nessa obra.   Em 1520 o artista Michelangelo pediu ao Papa Leao X que trouxesse o túmulo de Dante para Florença, mas  os franciscanos esconderam por mais de 200 anos seus restos mortais.

O  túmulo de Dante que vemos na Igreja de Santa Croce é na verdade somente um monumento em sua homenagem

 

Na fachada da igreja Santa Croce, uma estátua em mármore do ilustre poeta,  realizada por Enrico Pazzi em  1865

O dia 25 de março é  uma data comemorativa dedicada  à Dante Alighieri, o Dantedí.  Esta é a data que os estudiosos reconhecem como o início da viagem ao submundo “Nel mezzo del cammin di nostra vita…”,  foi quando Dante iniciou a escrever a Divina Comedia, em 1300.

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Arte contemporânea no Oltrarno, em Florença

Florença ganha um novo espaço para a arte contemporânea, o Spazio FAF – Female  Artisans in Florence – uma iniciativa idealizada por quatro  mulheres artesãs provenientes de diversas partes do mundo. E a internacionalidade é um ponto crucial desse projeto, que é de cooperação entre culturas, com promoção de  atividades sociais e culturais, uma vitrine onde as mulheres poderão divulgar seus trabalhos e projetos, apresentar ideias e discutir assuntos ligados à vida profissional e pessoal, com workshops, laboratórios, reuniões e também realizar atividades físicas e praticas como yoga e meditação.

 

Spazio FAF,  um ateliê localizado no Oltrarno que surgiu graças à ideia de 4 artesãs: Jane, Giulia, Jacqueline e Ayako.  Espaço de compartilhamento e multidisciplinaridade

As quatro  mulheres idealizadoras do projeto desempenham uma multiplicidade  papéis,  conciliando tarefas de casa, com  os afazeres de mãe, artesã e  empreendedora.

 

O Spazio FAF  é um ateliê dedicado à arte, onde existe cooperação,  respeito, troca de ideias,  apoio e motivação entre a idealizadoras, compartilhando experiência e ampliando a rede de contatos

 

O Spazio FAF é um projeto que já nasce com um calendário repleto de eventos , que vai desde lições de canto à worshop de serigrafia. Com um fio condutor sustentável ao longo de suas obras, as artesãs compartilham valores éticos em relação à reciclagem e ao reaproveitamento de materiais.  Todas as peças são únicas, realizadas manualmente e são orgulhosamente “made in Italy”.

As idealizadoras do projeto. Ayako Nakamori, pintura em tecido com produção de bolsas e acessórios , Giulia Castagnoli, estampas gráficas aplicadas à mão em roupas e acessórios   Jacqueline Harberink, porcelana e Jane Harman, madeira e restauração

 

No momento o espaço abriga as exposições da artista contemporânea ucraina Olga Ermol e da fotógrafa Arianna Signorini, com retratos maravilhosos!

Spazio FAF

Borgo San Frediano 131, r – Firenze

“A amiga genial” em Florença

A terceira temporada de L’Amica Geniale foi rodado aqui em Florença nas primeiras semanas de fevereiro e o centro histórico da cidade voltou a respirar  a atmosfera dos anos 70!  Figurinos vintage e carros de época  invadiram a Piazza della Signoria e num dia desses, enquanto passava por ali, percebi que estavam gravando as cenas da  famosa série e obviamente parei para observar, filmar e fotografar para compartilhar com vocês nas minhas redes sociais. E olhem que coincidência, acabei filmando sem querer uma brasileira que participou das gravações, a Jessica Hollaender,  que me contatou dizendo que ela havia aparecido nos meus vídeos.  Aí pensei que seria interessante pedir para Jessica dividir com a gente essa experiência!  Neste post trago  pra vocês algumas fotos feitas em Florença dessa terceira temporada da tetralogia A Amiga Genial, de Elena Ferrante, “Storia di chi fugge e di chi resta” e uma entrevista com Jéssica, que conta sobre a sua experiência e compartilha segredos dos bastidores.

A terceira temporada, ainda sem data de estreia,  é baseada no volume 3 da tetralogia de Elena Ferrante “História de  quem Foge e de quem Fica”. A obra narra os altos e baixos de uma amizade que surge na infância e dura até a terceira idade.

Após as filmagens do segundo capítulo da saga em 2019 na cidade de Pisa,  foi a vez de Florença!  As gravações aconteceram entre os dias  1º e 20 de fevereiro. Uma segunda parte das filmagens na Toscana decorrerá em setembro,  na Versília.  A produção cinematográfica é fruto da parceria entre a HBO e a emissora italiana RAI.

Florença voltou no tempo para  redescobrir a magia dos anos 70

Graças a cenários e figurinos de época, o centro histórico de Florença voltou aos anos 70, com calças largas, camisas com motivos geométricos, trenchs, bicicletas e até carrinhos de bebê com grandes rodas.

Durante 20 dias, gravações ao aberto e em locais privados e fechados

 

Os carros voltaram a ocupar, mesmo que apenas para ficção,  praças como a da Signoria,  Repubblica, Santissima Annunziata e  Santa Croce

 

Aqui as gravações na Piazza della Signoria de Florença

 

A Amiga Genial 3 , Historia de Quem Foge  de quem Fica

Baseada na coleção de quatro livros escritos por Elena Ferrante,  a série também virou uma febre em diversos países do mundo. Os episódios da terceira temporada, extraídos do livro História de Quem Foge e de quem Fica, continuarão a acompanhar a história de Lenù e Lila, interpretada por Margherita Mazzucco e Gaia Girace, com direção de Daniele Luchetti. A terceira temporada dá adeus às versões adolescentes das protagonistas, para dar um salto de vários anos, com foco na vida de Lila e Lenù nos anos 70.  E é claro que paro por aqui, nada de spoilers!

 

Apenas um “detalhe”:  cena do casamento de Lenù no Palazzo Vecchio

 

Eu fiz essas fotos sem saber que estava fotografando a Jéssica, olhem que coincidência! Ela aparece com o carrinho de bebê

Agora vamos conferir a entrevista  de Jessica Hollaender, paulistana que  mora na região do Chianti e é idealizadora do projeto Slow Life in Tuscany:

1-  Jéssica, como ficou sabendo da seleção para figurante das filmagens?

Eu vi o chamado em um jornalzinho aqui onde moro (Gazzenttino del Chianti), procurando “comparse” (figurantes em italiano) para a 3ª  temporada da Amiga Genial. Como ADORO fazer coisas novas, eu estava de férias e tinha amado ler todos os livros da Elena Ferrante (autora da tetralogia), pensei na hora: “Por que não?”. Assim, mandei uma foto minha ao email indicado e no dia seguinte me ligaram para marcar o “provino” (prova) das roupas. Fui contatada no dia 18 de janeiro e no dia 21 já estava fazendo a prova das roupas.

Jéssica empurrando seu bebê na Piazza della Signoria

2- Você leu (ou acompanhou os outros episódios ) da tetralogia? O que achou?

Li todos os livros.  Apesar do titulo talvez remeter a uma leitura simples e ligeira, o livro é bastante denso e forte. Mostra uma realidade dura de uma época, que inicia nos anos 50, no sul da Itália. A relação de “amizade” entre a protagonista e a “amiga genial” vai tomando forma e espaço e assim nos conquistando a ler tudo até o final. Mas não é uma leitura tranquila… Eu vi alguns capítulos da 1a temporada e segue exatamente o mesmo estilo. Vale a pena!
3- Quantas vezes, em média, vocês gravam a mesma cena?  Pode revelar alguns segredos dos bastidores?
Eu era curiosa também. Aliás, eu queria mesmo era conhecer estes “bastidores”, algo novo para mim. Pois é, é bastante cansativa a “giornata di lavoro” (dia de trabalho). A mesma cena repetimos no minimo umas 5, 7 vezes. Gravam de diversos ângulos, câmeras diferentes, etc . As palavras mágicas: “Silenzio, motore, movimento, azione!!”)
Os segredos? Ahahaha! O que acontece no “casting” fica no casting, rs. Brincadeiras a parte… Fiquei impressionada com a organização para os figurinos. Um andar inteiro de um hotel foi fechado e cada sala tinha o seu conjunto de figurinos (mulheres, homens, crianças). A figurinista te olhava e “testava” os diferentes “looks”. Eu tinha 3 (vestido de verão, um casaco por cima para a primavera, e um outro mais pesado para o inverno), de acordo com qual cena se gravava. Um outro andar era somente para os cabeleireiros e a maquiagem. No final, te fotografavam para saber exatamente como deve ser no dia da gravação. E no dia da gravação  todos iam para o set de filmagem: figurinistas, cabeleireiros e maquiadores. E ficavam passando o tempo todo para “ajustar” cada um dos figurantes. Apesar do “stress” que deve ser rodar as cenas, todos da organização e da produção eram muito respeitosos e educados mesmo tendo que manter a ordem de mais de 100 figurantes, a cena, os protagonistas, os “curiosos”…
Uma outra surpresa foram as pessoas que conheci! Conheci muita gente! Fiz até amigos (uma delas eu apelidei de “minha amiga genial”!  Foi um prazer conhecer tantas pessoas, a maioria já atores, pessoas do teatro e do mundo artístico em geral. Este mundo do “casting”, todos da classe artística participam.
Se tem contrato e se ganhamos para isso? Sim, sim…fazem um contrato específico para aquele periodo. Descobri que tem vários sites e empresas especializadas que publicam estas demandas de “casting”. Eu na realidade fui para conhecer um pouquinho deste mundo e me divertir!  Missão cumprida! Ah! Último segredo: tirei uma foto abraçada com o Diretor (aliás, simpatissíssimo e super humilde). Não me aguente, ahahah!  Mas isso não posso compartilhar…regras do “contrato”!
4-  Você participou das gravações  em quais locais de Florença?
Gravei na Piazza della Signoria e na Piazza Santissima Annunziata. Lugares históricos no centro de Florença. Foi lindo poder “respirar” a Florença dos anos 70.
5- Quais as precauções adotadas em relação aos cuidados com a pandemia?
A cada dia de gravação, todos faziam o “tampone” (teste) como 1ª  coisa do dia. Usávamos as máscaras enquanto não estavamos gravando e mantinhamos 1m de distância.
  • As gravações que eram previstas para serem realizadas em 2020  atrasaram devido à pandemia. Ainda não se sabe quando será lançada a terceira temporada,  provavelmente  no início de 2022

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A Igreja de Santa Trinita de Florença

Fundada pelos monges  valombrosianos  no século 11, a  Igreja de Santa Trinita, localizada na praça homônima, na elegante Via Tornabuoni, abriga obras preciosas como belíssimos ciclos de afrescos  de Ghirlandaio e de Lorenzo Monaco. Ao longo dos séculos, as capelas da igreja foram patrocinadas por ricas famílias florentinas.  A  igreja obteve o título de abadia no século 14  e  passou por algumas reconstruções.  As formas em estilo gótico  datam da segunda metade dos anos 1300 e foram atribuídas  ao artista Neri di Fioravante. A igreja tem 20 capelas, sendo que uma das mais famosas é a Cappella Sassetti, com um precioso ciclo de afrescos de Domenico Ghirlandaio.

 

Reconstruída em estilo gótico entre os séculos 13 e 14 sobre uma anterior igreja românica, a Igreja de Santa Trinita possui uma fachada de pedra construída por Bernardo Buontalenti de formas maneiristas no final do século 16

 

Capela Bartolini Salimbeni com afrescos de Lorenzo Monaco

A Capela Bartolini Salimbeni com os maravilhosos  afrescos de Lorenzo Monaco (1370-1425). Trata-se de um dos maiores exemplos que podemos testemunhar aqui na Itália  de afrescos em estilo gótico internacional.

Adoração dos Pastores   é  o ciclo de afrescos feito  por Domenico Ghirlandaio, mestre de Michelangelo

 

A esplêndida Capela Sassetti é uma verdadeira obra-prima do Renascimento. Ela contém um ciclo de afrescos de Ghirlandaio realizados na metade do século 15

A esplêndida Capela Sassetti, com afrescos de Domenico Ghirlandaio  realizados entre 1482 e 1485  contam  histórias da vida de São Francisco, em cujas cenas estão pintados vários retratos de personagens importantes daquele período histórico, incluindo Lorenzo, o Magnífico, e de integrantes da própria família que patrocinou os trabalhos.  Os túmulos dos  patrocinadores dos afresco, realizados por Luca Della Robbia,  também encontram-se na capela.

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Igreja de Santa Trinita

Praça Santa Trinita – Firenze

Entrada gratuita

Curiosidades sobre o Davi de Michelangelo

A  monumental obra de mármore  realizada pelo artista  Michelangelo, o Davi,  é um dos  maiores símbolos do Renascimento. Com cerca de 4 metros de altura e pesando mais de 5 toneladas,  o herói bíblico  foi representado pelo gênio renascentista de uma forma diferente das retratadas precedentemente: Michelangelo realizada a escultura de Davi antes de enfrentar seu inimigo.

Accademia

A obra impressiona pela perfeição!  A escultura apresenta Davi nu, contemplativo e concentrado,  com seu olhar desafiador que fixa o inimigo, com seus músculos que exalam tensão, segurando na mão direita uma pedra e do lado esquerdo  uma funda pendurada. Até as veias de seus braços e costelas são evidentes.  Foi realizada entre os anos de 1501 e 1504, e encontra-se na Galleria dell’Accademia de Florença.

 

image

Quem era  Davi – Davi é um personagem bíblico que nasceu em Belém,  na Judeia, provavelmente em 1040  AC. Foi um guerreiro e Rei do povo de Israel,  que reinou durante 40 anos, entre 1006 e 966 a. C. O Davi cortou a cabeça do Golias e liberou Israel dos filisteus

O Davi representado por  Michelangelo é um homem seguro,  contemplativo e  determinado, que segura uma pedra enquanto encara  Golias.  Representa a força intelectual, o personagem usa a mente, a estratégia, para enfrentar um inimigo muito maior e ameaçador.   Apesar de ser bem menor que Golias,  Davi era hábil  e usou uma funda  para derrotá-lo, acertando a cabeça do gigante.

Michelângelo tinha 25 anos quando começou a esculpir a estátua e o trabalho durou cerca de 3 anos.  O Davi é também era chamado de O Gigante

 

 

Medidas:

  • peso: 5,6 toneladas
  • Altura: 4,07 metri (a base mede 1,07 m)

O Davi foi realizado em apenas um bloco de  mármore branco de Carrara,  de cerca  5 metros e a escultura mede 4,10m.  Outros dois artistas já haviam falhado pois tiveram dificuldades técnicas para esculpir o bloco antes de Michelangelo, portanto, havia grande expectativa para ver o trabalho terminado. O mármore usado não era de qualidade, era poroso, com veios.

Davi

O lado direito do Davi é todo ação: é possível ver as veias de seu braço e de sua mão segurando a pedra. Davi nesse momento , antes do ataque, é pura adrenalina, com suas pupilas dilatadas

 

Michelangelo

Colocação da estátua

A obra foi encomendada ao artista em 1501 pela Opera del Duomo de Florença e da Arte della Lana. A encomenda a Michelangelo fazia parte de um programa que incluía 12 esculturas  para serem colocadas nos contrafortes da catedral.

 

A escultura  deveria ficar originalmente em um  dos contrafortes externos do Duomo,  do lado direito

A escultura  deveria ficar em um  dos contrafortes do Duomo, mas foi adquirida pela República de Florença e colocada na Piazza della Signora, em frente ao Palazzo Vecchio, onde permaneceu por mais de 350 anos.  No final do século 19 foi novamente transferida para a Galleria dell’Accademia, que foi construída para abrigar a famosa obra. Quando Michelangelo estava terminando de esculpir o “gigante”, a prefeitura pediu  à Opera de Santa Maria del Fiore que convocasse um encontro com os maiores artistas e intelectuais florentinos da época para avaliar uma nova colocação. A comissão decidiu que a escultura deveria ser colocada na entrada do Palazzo Vecchio, como um emblema da força e independência dos florentinos.

Transporte do Davi do Duomo até a Piazza della Signoria (internet site Muse Firenze)

O trajeto do Duomo até a Piazza della Signoria é de mais de 600 metros e foi feito em 4 dias. Durante o percurso, pela via Calzaiuoli, algumas pessoas que não eram apoiadores da República chegaram a apedrejar a obra. Sobre a forma de transportar o Davi , colocado em uma estrutura de madeira, Vasari descreveu que fizeram um “castelo de madeira fortíssimo”.  As rodas do carro eram toras de madeira; esse foi um trabalho minucioso e delicado.

 

O documento conservado no arquivo da Opera de Santa Maria Del Fiore (foto divulgação site Nove.Firenze internet)

 

No dia 25 de janeiro de 1504 uma comissão decidiu onde colocar o Davi e  dentre os participantes estavam Leonardo da Vinci, Filippino Lippi, Perugino, Botticelli e Andrea della Robbia. A obra foi apresentada ao público oficialmente em 8 de setembro de 1504 e ficou na praça da Signoria até o ano de 1873.  Alguns anos depois, em 1910, foi colocada uma cópia do Davi.

 

A Tribuna de Davi na Galleria dell’Accademia

A Tribuna  de Davi–  O Davi ganhou posição privilegiada na Galleria dell’Accademia na segunda metade do século 19. O arquiteto Emilio De Fabris foi contratado para construir uma tribuna, posicionada no final de um corredor.  Em 1873 o Davi foi transportado da praça da Signoria até o museu, numa operação que  durou  5 dias. A  obra foi colocada dentro de um enorme engradado e atrelada em uma carroça de madeira construída de forma complexa, que seguia pelas ruas do centro sobre trilhos até o museu.  O Davi, no entanto, ficou 9 anos embalado à espera da conclusão das obras do museu.  O Davi é a mais requisitada obra-prima da Galleria dell’Accademia e abriga o maior número de esculturas realizadas por Michelangelo.

 

Algumas  curiosidades:

    • Proporção –   quem já teve oportunidade de ver de perto certamente reparou uma ligeira desproporção. Na verdade, as mãos e a cabeça são maiores do que as outras partes do corpo.  É que essa escultura foi realizada  para ocupar um dos contrafortes da catedral Santa Maria del Fiore, decorando a área externa do Duomo de Florença, o que significa que o espectador deveria observá-la  de baixo para cima
    • Posição da obra –  O Davi foi colocado na Piazza della Signoria , na entrada do Palazzo Vecchio, até 1873, e quando foi transferido para a Galleria dell’Accademia, construída especialmente para receber a obra. O trajeto da praça até o museu durou 4 dias.
    • A representação –  O Davi de Michelangelo não está com a cabeça de Golias a seus pés. Michelangelo escolheu representá-lo antes do ataque.  A obra  representa a força intelectual: apesar de ser bem menor que Golias,   o  Davi  usa a mente,  concentra a sua energia de forma  estratégica para enfrentar um inimigo muito maior do que ele.
    • Material – Michelangelo aceitou  usar um mármore defeituoso que havia sido recusado por outros 2 artistas, Agostino di Duccio e Antonio Rossellino. Ele encontrou dificuldade técnica porque o mármore  apresentava veios.
    • Blefe – Michelangelo não permitia visitas enquanto trabalhava em sua obra. Quando a obra estava sendo finalizada, ele recebeu visita de  personalidades importantes , dentro os quais os Soderini, o gonfaloniere , ou prefeito de Florença  na época. Soderini comentou que o nariz estava muito grande. Imaginem um comentário desses com Michelangelo, que era melindroso e orgulhoso e  tinha um caráter forte  e nada fácil!  Mas ele não podia responder mal e pra não estragar as relações com o governo florentino. Michelangelo teve uma ideia: sem ser notado,  recolheu fragmentos e um pouco  pó de mármore do chão e voltou para os andaimes – imaginem que a obra tem pouco mais de 4 metros. Ele lá de cima soprou o pó de mármore e fingiu que estava acertando. Quando ele terminou Soderini disse:  Agora está perfeito! E ele respondeu: “pois eu não mexi em nada”!
    • Danos e ataques –  Além de ataques no percurso do transporte até a praça da Signoria o Davi sofreu outros ataques. Em 1527 a escultura sofreu sua primeira agressão violenta quando em um protesto político e perdeu o braço esquerdo.  Giorgio Vasari o recuperou e o braço foi restaurado, mas é possível ver as fraturas por onde partiu. O dedo médio da mão do Davi foi perdido, não se sabe em qual ocasião, e foi restaurado em 1813. Em 1991 um artista italiano de nome Piero Cannata conseguiu entrar com um pequeno martelo e esmagou o segundo dedo do pé esquerdo da escultura.

A Conspiração dos Pazzi

A família Medici enfrentou muita ira, inveja e revolta e foi alvo de algumas conspirações.  Dentre todas, a mais famosa é a Conspiração dos Pazzi,  que resultou na morte de Giuliano, irmão de Lorenzo “O Magnífico”, e aconteceu dentro da Catedral Santa Maria del Fiore no dia 26 de abril de 1478,  no Domingo de Páscoa.  Houveram anteriores tentativas falidas contra a família, como envenenamento,  plano que foi substituído pela Conspiração dos Pazzi,   trágico episódio que marcou a história de Florença e da Itália.

 

A Conspiração foi organizada pelos Pazzi e outras personalidades de destaque. Lorenzo milagrosamente conseguiu escapar da emboscada refugiando-se na Sacristia das Missas

 

Os conspiradores  tentaram eliminar os dois irmãos com espadas e punhais durante a missa pascal, no Duomo de Florença, no coração da cidade

Lorenzo havia 20 anos quando seu pai Piero Il Gotoso morreu, no ano de 1469. Ele passou a ser a figura mais importante nesse período, em pleno Renascimento, e apesar de não ocupar oficialmente nenhum cargo público,   passou a comandar a cidade. Lorenzo, apelidado de “O Magnífico”,  sempre foi precoce, culto e bem educado. Apesar da pouca idade,  demonstrava segurança e determinação.

Lorenzo, O Magnifico, por Giorgio Vasari (Galleria degli Uffizi), fonte internet

 

Interior da Catedral de Santa Maria del Fiore

 

Conspiração  dos Pazzi

No domingo de Páscoa do dia 26 de abril de 1478, os dois irmãos saíram da residência, o Palazzo atualmente conhecido como Palazzo Medici Riccardi e dirigiram-se à catedral. Durante a missa eles não se sentaram  lado a lado, mas a alguns bancos de distância. No momento da Eucaristia, quando os fiéis estavam ajoelhados,  um grupo de conspiradores atacou com  espadas e punhais os irmãos Lorenzo e Giuliano.  A intenção era matá-los contemporaneamente. Giuliano foi atingido  com golpes de espada  e morreu, tendo sido a única vítima do ataque. A  intenção dos conspiradores era que a história tivesse um desfecho muito diferente, mas Lorenzo conseguiu se salvar graças a Francesco Nori, que acabou morrendo para defender o amigo. Depois de ferido, ele se abrigou na sacristia da catedral.

Giuliano de’ Medici (1478 aproximadamente), realizado por Sandro Botticelli, Accademia Carrara de Bergamo. Morreu os 25 anos  (fonte: internet)

 

A conspiração não teve o êxito esperado porque Lorenzo sobreviveu. O encarregado de golpeá-lo era  Giovanni Battista  da Montesecco, porém, desistiu na última hora, pois era um homem ligado à igreja e não pretendia derramar sangue em lugar sagrado. Foram então contratados para a tarefa os padres Stefano Bagnone e Antonio Maffei  para tirar a vida de Lorenzo, mas não tinham maestria com espada.  Mesmo ferido,  Lorenzo saiu da sacristia e foi em direção ao Palazzo della Signoria, hoje Palazzo Vecchio,  com a população à seu lado. Em sinal de apoio à Lorenzo, os florentinos gritavam “Palle, Palle, Palle’” em referência ao brasão dos Medici com as esferas, desencadeando uma verdadeira perseguição aos autores e envolvidos. Após a conspiração, Lorenzo ganhou maior apoio da população e passou a  governar com mais poder e influência política, embora nunca ter ocupado cargos oficiais.

 

Obra de Stefano Ussi, La congiura dei Pazzi (século 19)

 

O final para os conspiradores foi trágico:  foram condenados à morte, alguns enforcados,  esquartejados vivos e queimados em praça pública. Alguns envolvidos foram torturados, enforcados e pendurados nas  janelas do Palazzo della Signoria.  Praticamente todos os membros da família Pazzi foram presos ou exilados,  tiveram seus bens confiscados e o nome proibido de figurar nos documentos oficiais e todos os brasões das famílias foram cancelados da cidade.

Giuliano foi assassinado por Francesco de’ Pazzi e Bernardo Bandini, que fugiu da cidade e conseguiu se refugiar em Constantinopla, mas acabou sendo encontrado.  Ele foi executado em 1479 em Florença e seu corpo pendurado na forca foi retratado por Leonardo da Vinci (fonte internet)

Quem eram os conspiradores?

Rivais políticos da Senhoria Medicea,  a família Pazzi tramou o  atentado  contra  os irmãos  a fim de acabar com a hegemonia da família Medici em Florença.  O ataque aos dois irmãos Medici  foi uma conspiração  internacional que contou inclusive com o apoio do Papa Francisco della Rovere, chamado de Sisto IV, e  de  seu sobrinho Girolamo Riario , Senhor de Ímola.  O Papa havia concordado de participar da conspiração mas  não era favorável ao assassinato. Foi seu próprio sobrinho que o desobedeceu.  Lorenzo e o Papa Sisto haviam tido alguns desentendimentos e o pontífice havia tirado dos Médici a administração de suas finanças, passando-a aos Pazzi. Participaram também da conspiração a família Salviati (Francesco Salviati era arcebispo de Pisa) e o rei de Nápoles Fernando de Aragão.  Recentes estudos comprovam também o envolvimento do duque de Urbino Federico da Montefeltro, que era gonfaloniere da Igreja. Todos os conspiradores nutriam forte ressentimento contra os Medici e além da inimizade, caso a conspiração tivesse bom êxito, eles poderiam obter vantagens políticas.

Sacristia delle Messe

No interior da catedral, perto do altar, fica a Sacristia das Missas, onde se refugiou Lorenzo o Magnifico.  É um ambiente ricamente decorado com obras realizadas por grandes artistas do Renascimento, como Giuliano da Maiano, Antonio del Pollaiolo e Alessio Baldovinetti. A Sacristia das Missas é geralmente fechada ao público mas mostro pra vocês fotos exclusivas que realizei.

Lorenzo se salvou graças à prontidão de seu amigo Agnolo Poliziano, que levou Lorenzo para a sacristia barricando a porta e resistindo com alguns amigos até que os conspiradores escapassem

Entre 1436 e 1468 o ambiente foi decorado e ganhou painéis de madeira com incrustações com figuras de santos e cenas do Evangelho,  realizados com novos princípios de perspectiva. 

Na sacristia estão os primeiros exemplos desta técnica na madeira na Itália

A pia de mármore, obra de Andrea Cavalcanti, conhecido como Buggiano

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Florença menos conhecida

A Florença que vemos sempre nos cartões-postais e rota obrigatória de turistas em visita à cidade,  já sabemos de cor e  salteado:  Catedral Santa Maria Del Fiore, Basílica Santa Maria Novella,  Basílica de Santa Croce, Museu Uffizi, Palazzo Vecchio, Piazzale Michelangelo, Palazzo e Pitti e Galleria dell’Accademia. Basicamente são essas as atrações que fazem parte da lista dos turistas que visitam Florença. Mas essa extraordinária cidade guarda verdadeiros tesouros não muito conhecidos,  geralmente visitados por quem já esteve na cidade. Aqui uma  relação com 10 atrações que selecionei pra vocês de uma Florença menos conhecida:

 

Florença menos conhecida: atrações lindas e interessantes que irão te surpreender!

 

1- Basílica de San Miniato al Monte – A igreja fica a poucos passos do Piazzale Michelangelo e é uma das obras-primas do estilo românico na cidade. Foi construída entre os séculos 11 e 13 .  Geralmente, para ter uma visão panorâmica da cidade os visitantes escolhem  o Piazzale Michelangelo, mas sugiro também visitar a basílica, que fica a 5 minutos a pé.  Entrada gratuita.

 

Igreja de San Miniato al Monte. Como o nome sugere, esta igreja é dedicada a San Miniato, o primeiro mártir da cidade de Florença

 

A vista das escadarias da igreja de San Miniato, que fica nos arredores do piazzale Michelangelo, em um dos pontos mais altos de Firenze e que nos proporciona um esplêndido panorama

 

2- Giardino delle Rose– Com cerca de 350 espécies de rosas, o  Giardino delle Rose é um dos jardins panorâmicos mais lindos de Firenze. Localizado sobre as colinas de San Miniato e pouco abaixo do Piazzale Michelangelo, foi realizado em 1865 pelo arquiteto Giuseppe Poggi.  O jardim fecha em alguns meses do ano,  sempre aberto na primavera e no verão. Entrada gratuita.

 

giardino-delle-rose

 

3- Cappella Brancacci  Continuando com os locais de Florença menos conhecida, sugiro uma visita à Cappella  Brancacci,  fundada no século 14. A capela fica dentro da igreja de Santa Maria del Carmine e guarda preciosidades da pintura do Renascimento italiano. A pequena capela reúne obras de Filippino Lippi,  Masolino e  Masaccio, um dos primeiros artistas a utilizar a perspectiva em suas pinturas. A Cappella Brancaci fica na piazza Del Carmine, no Oltrarno.

Cappella-Brancacci

A carreira de Masaccio foi breve mas marcante. Ele pintou muitos dos afrescos da Capela Brancacci

 

4- Villa Bardini  Conhecida também como Villa Manadora, a Villa Bardini é um importante espaço verde  na cidade dedicado a exposições temporárias, graças aos seus dois museus internos, o Museu Capucci e o Museu Annigoni.  A vista dos jardins da Villa é um espetáculo e o local  pode ser visitado com o mesmo ingresso que os Jardins de Boboli.

 

 

5- Palazzo Medici Riccardi -Riqueza do patrimônio arquitetônico, histórico e artístico de Firenze, o Palazzo Medici Riccardi foi a primeira residência da poderosa família Medici em Florença.  Concluído em 1460, é um dos mais notáveis modelos de arquitetura Renascentista em Firenze.  Foi projetado por Michelozzo em 1444, sob encomenda de Cosimo Il Vecchio. No ano de 1517  passou pelas primeiras alterações estruturais. Atualmente, além de ser sede da Città Metropolitana,  abriga exposições de arte temporárias e funciona como museu, que oferece aos visitantes a oportunidade de um retorno ao passado de ao menos quatro séculos. No complexo onde fica o prédio você também pode visitar o lindo jardim do palácio. Fica na via Cavour, 1.

medici-ricordi

A Cappella dei Magi fica no primeiro andar do palácio. Era a pequena capela particular da família.  A capela é o único ambiente realizado na época em  que os Médici habitavam no Palácio

 

6- Museu  Arqueológico de Firenze – O MAF briga verdadeiros tesouros únicos, pouco conhecido em comparação com outros museus do circuito da cidade, também inclui uma seção de bronzes da antiguidade e renascentistas e seção egípcia que é segunda mais importante da Itália, depois a de Turim. O museu abriga a importante obra Quimera de Arezzo, em bronze,  um dos maiores exemplares de arte etrusca antiga, provavelmente do do século IV A.C..  Foi encontrada em Arezzo em 1553.  Você vai poder ver múmias do período egípcio, sarcófagos etruscos e esculturas romanas em um dos museus mais antigos da Italia.   O museu fica na  Praça della Santissima Annunziata, 9,r

Arte etrusca. A obra em bronze, Quimera de Arezzo, que na mitologia grega representa um animal monstruoso com corpo de leão, cabeça de cabra e cauda de serpente

 

7- Museu Opera del Duomo– Aqui encontramos a maior concentração de esculturas monumentais florentinas do mundo: estátuas medievais e renascentistas e relevos em mármore, bronze e prata pelos maiores artistas da época. Obras-primas que, na maioria dos casos, foram feitas para o exterior e o interior das estruturas eclesiásticas que encontramos em frente ao museu: a Catedral de Santa Maria del Fiore, o Batistério de San Giovanni e o Campanário de Giotto.  O museu apresenta  obras feitas para esses edifícios, que juntos constituem o que hoje é chamado de “Museo Opera Del Duomo”.

 

 

 

8- Igreja de Santa Trinita  – A igreja de Santa Trinità fica na praça homônima, na elegante Via Tornabuoni. Foi fundada pelos monges  valombrosianos  no século 11. Obteve o título de abadia no século 14  e  passou por algumas reconstruções. Ao longo dos séculos, as capelas da igreja foram colocadas sob o patrocínio de ricas famílias florentinas.  As formas em estilo gótico  datam da segunda metade dos anos 1300 e foram atribuídas  ao artista Neri di Fioravante A igreja tem 20 capelas, sendo que uma das mas preciosas é a Cappella Sassetti, preciosa obra de Domenico Ghirlandaio, realizados entre 1482 e 1485.  Entrada gratuita

 

A igreja de Santa Trinita

 

Afrescos de Domenico Ghirlandaio no interior da igreja, entre as obras-primas do século XV , na Cappella Sassetti

 

9 -Le Rampe del Poggi  – As rampas do Poggi foram construídas pelo arquiteto Giuseppe  Poggi entre 1872 e 1876. Durante cerca de cem anos ficaram desligadas e desde 2019 voltaram a embelezar a região do Oltrarno, próximo à Torre de San Niccolò. A obra tem uma superfície de 6700 metros quadrados e apresenta um moderno sistema hídrico, composto por grutas, cascatas e planta e Liga o lungarno ao Piazzale Michelangelo.

 

As obras de restauro e valorização devolveram o esplendor original às fontes. A reinauguração foi em maior de 2019

 

 

10- Igreja de Ognissanti –  A igreja de Todos os Santo guarda preciosos tesouros artísticos em seu interior, que  é ricamente decorado, com obras de arte realizadas por  Giotto, Taddeo Gaddi, Botticelli e Ghirlandaio.  A igreja franciscana tem sua origem ligada à família do navegador Américo Vespúcio, que a patrocinou.  Em seu interior os túmulos de nomes prestigiosos como  Américo Vespúcio e Simonetta Vespúcio, a musa de Sandro Botticelli, que também foi enterrado no local.

 

A igreja franciscana, dificada em 1251 , fica na luminosa praça homônima

 

O que acharam das opções deste post Florença menos conhecida? Alguma outra atração que não faz parte das mais visitadas que gostaria de dividir com a gente? Em breve vou publicar mais 10 atrações “Florença menos conhecida”.

Escola do Couro de Firenze

Firenze orgulha-se de suas tradições que é também mantida através do artesanato. E um endereços mais importantes  ligados à artesanalidade na cidade é   Escola do Couro de Firenze , que funciona no complexo da Basílica de Santa Croce, num antigo dormitório projetado por Michelozzo.  Firenze  carrega um considerável  legado na arte do couro graças também à   Scuola del Cuoio, com 70 anos de história dedicados à criação de artigos de couro. A escola foi fundada após a Segunda Guerra Mundial através dos esforços colaborativos dos frades franciscanos do Mosteiro da Santa Croce, que desejavam ensinar uma profissão aos órfão, e das famílias Gori e Casini, mestres artesãos de couro florentino desde os anos 1930.

 

Para quem está em busca de artigos de couro Made in Italy

 

Aqui  você pode encontrar o que busca sem se preocupar com  autenticidade do produto,  que é realizado por artesãos que também se formam no local

Marcello Gori deu vida à Escola do Couro, que abriu suas portas ao público na década de 1950 e ainda é administrada por suas filhas e seu sobrinho.  A escola surgiu numa posição estratégica, ao longo das margens do rio Arno nas proximidades de Santa Croce.  É que a água era essencial para o funcionamento das oficinas artesanais, por esse motivo  diversas empresas se estabeleciam  nas proximidades  de locais que concentravam grande quantidade  de água.

 

A qualidade de seus produtos e o compromisso com a tradição tornaram famosa a Escola de Couro

O acesso à escola dá-se pelo pátio que fica atrás da Catedral de Santa Croce

 

Desde 1950, a Escola do Couro produz peças artesanais de couro de alta qualidade, como bolsas, mochilas, carteiras, malas, cintos, pastas, álbuns e caixas. Cerca de 20 artesãos trabalham dentro da escola,  produzindo a artigos de diversos estilos, dos  clássico ao  contemporâneo. Além disso, a escola oferece a oportunidade de aprender técnicas e conceitos de trabalho em design, por meio de cursos de 3 ou 6 meses e de vários workshops.

 

São cerca de 20 artesãos que trabalham na escola. E  durante a visita à escola podemos assistir aos estudantes em ação

A escola tem como objetivo transmitir o valor da arte manufatureira florentina, ajudando a preservar  a tradição de produtos feitos sob medida com competência e criatividade, remando contra e resistindo à enorme globalização de produção da nossa era.

Dedicação, concentração e  tempo, fundamentais  para o processo criativo e produtivo do artesanato, pois aprimora os detalhes, confere personalidade, singularidade e exclusividade a um objeto precioso

 

Os estudantes da Escola de Couro vêm de todo o mundo.  Alguns decidem se estabelecer em Florença e outros retornam ao seu país de origem levando na bagagem uma grande riqueza: a habilidade  e o know-how da arte manufatureira florentina.

 

Cerca de 80% dos artigos produzidos são exportados

 

 

 

Scuola del Cuoio 

Via San Giuseppe, 5 r – Firenze

Santa Croce

Horário de funcionamento:

Outono / Inverno –  de segunda a sexta, das 10h (sábado das 10:30) às 18h
Primavera / Verão – diariamente das 10h às 18h

Os campos de lavanda da Toscana

Quem nunca sonhou em passear pelos campos de lavanda para apreciar de perto toda a beleza da natureza que se colore de lilás e poder sentir  o  suave  perfume das flores? A característica imagem que nos remete à Provença pode ser também apreciada em diversas localidades da Itália nos meses de verão. Recentemente eu pude matar a minha vontade de visitar um campo de lavandas nos arredores de Firenze.

Conhecida por seu perfume delicado, a lavanda é sinônimo de bem estar, saúde e beleza. É utilizada na indústria de perfumaria, alimentos e medicamentos

Estive junto com Laura Di Benedetto, autora do Life Blogger  visitando um campo de lavandas inserido num panorama lindíssimo a poucos minutos do centro de Firenze. Borghetto 39 é um charmoso B&B gerenciado por Carlotta e sua mãe Daniela Zavattoni, que nos ciceroneou numa tarde ensolarada de verão.  Daniela nos contou sobre a decisão de dedicar-se à terra e ao agroturismo. Na verdade foi uma escolha guiada pelas circunstâncias da vida.  Ano passado seu ex-marido, pai de Carlotta e proprietário da estrutura, sofreu um acidente com o trator e com sua morte a filha refletiu e aceitou os conselhos de mãe. Depois de 8 anos vivendo em Londres, Carlotta deixou a capital inglesa e voltou para Firenze, sua terra natal, para recomeçar essa nova atividade e dedicar-se ao setor agrícola.

 

Em visita aos campos de lavanda com Laura e Daniela

 

 

O Borghetto 39 conta com dois apartamentos independentes, com cozinha moderna e equipada, acolhedora e confortável sala de estar, com os quartos distribuídos no andar superior e enorme varanda, de onde  podemos apreciar a linda vista das colinas de Fiesole.  Daniela tem veia artística  – inclusive pintou algumas telas expostas no local – e foi ela mesma quem decorou todos os ambientes, com muito bom gosto e criatividade, utilizando alguns móveis restaurados e garimpados em mercadinhos.

 

A lavandula é um gênero de plantas pertencente à família Lamiaceae.  Compreende cerca de 40 espécies, entre elas a que chamamos de lavanda e cujo nome deriva do latim “lavare”, que significa lavar

 

A lavanda se adapta a vários tipos de solo, não precisa de muita  água, mas de luz solar.  Aqui na Itália podemos  admirar os campos floridos entre junho e agosto, que assim como os girassóis, florescerem no verão.

 

No agroturismo existem 3 campos de lavanda,  bem próximos um do outro, circundados por oliveiras. Daniela está desenvolvendo uma novidade que ainda não pode ser divulgada, mas que já experimentamos em primeira mão. Em breve espero poder contar pra vocês!

 

O óleo essencial de lavanda  é versátil e promove o equilíbrio do corpo e da mente. É ótimo para a saúde da pele e do cabelo.  Tem propriedades terapêuticas que ajudam a combater a insônia e a ansiedade

 

Benefícios da lavanda – A lavanda, originária da Europa Mediterrânea, Oriente Médio e África, tem propriedades antissépticas, cicatrizantes, antioxidantes, analgésicas, antidepressivas, adstringentes, relaxantes e desodorantes.  O óleo de  lavanda é um dos poucos óleos que podem ser aplicados diretamente na pele. Podem ser utilizados  como integradores, como ingredientes ativos, como cosméticos, em produtos de higiene pessoal,  para o ambiente e também para a preparação de doces e bebidas.

 

O santuário de Montesenario, na Toscana

Situado no topo de uma montanha, o santuário de Montesenario está entre os mais importantes da Toscana. É um dos nossos refúgios principalmente no verão, quando os termômetros acusam temperaturas elevadíssimas em Firenze, que nos refugimos nesse cantinho verde nas colinas do Mugello, a 817 m de altitude, com bosque cobertos de pinheiros.  No local também fica um igreja e um convento. O monumental complexo arquitetônico de Montesenario, em Vaglia, a apenas 18 Km de Firenze, domina todo o vale de Mugello.  Segundo a tradição, o santuário foi fundado em meados do século 13 por  sete frades florentinos que deixaram suas vidas confortáveis para se tornarem eremitas, instituindo assim a Ordem dos Servos de Maria, ou Servitas.  Frequento Montesenario desde que cheguei na Itália pois meu marido é muito aficionado ao local, pois quando criança ia com os avós assistir as missas aos domingos de manhã.  Em uma de nossas idas ao local conhecemos o frei Bruno Wilson, brasileiro de Rio Branco, Acre, que vive no convento  desde 2005.  Ele foi meu guia recentemente em visita ao convento e à igreja.

 

A Virgem Maria era a grande inspiradora do novo grupo religioso que nascia. Por isso, assumiram o nome de “Servos de Santa Maria” ou Servitas

 

Montesenario é meta para peregrinos, motociclistas, ciclistas e famílias que buscam um local mais fresco quando as temperaturas estão altas em Firenze. Muitos sobem para fazer meditação ou simplesmente  apreciar a beleza do local. O convento organiza reuniões, retiros, exposições de arte e também um curso de iconografia que acontece duas vezes por ano.

Entre os santuários da Toscana, Montesenario é um dos mais célebres por sua posição privilegiada. Dista apenas 18 Km de Firenze e está 817 m acima do nível do mar

Em meados do século 13, sete nobres florentinos se retiraram para este lugar para a vida eremita, dedicando-se à penitência e à oração: eles rezavam,   ajudavam os pobres,  doentes e carcerários, ou seja, os mais necessitados.

Nos bosques de Vaglia, perto de Bivigliano

 

Frei Bruno atua principalmente no restaurante do complexo

Há 120 anos, os frades produzem licores seguindo as receitas da antiga farmácia do convento de Montesenario e aqui você pode comprá-los no local. A energia elétrica foi implantada no local  em 1919.

Licores à venda no bar do convento. Dentres os mais famosos, o  Gemmo d’Abeto, exclusivo e excelente produto

 

História

Os sete primeiros padres que iniciaram o convento de Montesenario por volta de 1245 são os mesmos que nos séculos foram chamados de os “Sete Santos Fundadores” da Ordem dos Servos de Maria: Bonfiglio dei Monaldi, Buonagiunta Manetti, Manetto dell’Antella, Amideo degli Amadei, Uguccio degli Uguccioni, Sostegno dei Sostegni e Alessio dei Falconieri.

Os 7 homens abdicaram da riqueza com a intenção de dedicar a vida a Deus e de viver como irmãos depois de terem recebido um chamado em  dia 15 de agosto do ano 1233, quando estavam reunidos em oração. Depois desse encontro com Maria,  os jovens decidiram abandonar tudo o que tinham, bem como suas famílias,  para se dedicarem  à vida de oração e à caridade para com os pobres.  Deixaram a cidade para se estabelecer fora dos muros de Firenze, inicialmente em Cafaggio, onde há o Santuario della Santissma Annunziata.

Subiram até o Montesenario,  local que era de propriedade da cúria florentina e do  bispo Ardingo , que  havia dado autorização para a estadia no local.  Ali  construíram, com o material que encontram , como pedras e madeira, um oratório e uma pequena casa para levar uma vida simples e contemplativa.  A partir de  1247 começaram a permitir que outras pessoas se integrassem ao grupo. Dessa forma surgiu a Ordem dos Servos de Maria.

A Ordem dos Servitas cresceu e se espalhou por vários países chegando à França, Alemanha e Polônia, e muitos séculos mais tarde,  também  no Brasil, onde eles fundaram casas em São Paulo, Santa Catarina e Acre, onde ainda existe uma missão servita em Rio Branco.

 

 

O Convento de Montesenario

O convento de Montesenario não  é apenas um local de arte e história, mas  uma espécie de torre panorâmica sobre todo o vale verdejante. Vivem no local 9 freis e constantemente hospedam também religiosos de outras cidades. Visitei o local em companhia do frei Bruno. Iniciamos nossa visita no refeitório. Frei Bruno explicou que diariamente uma senhora vem pela manhã preparar o almoço e que à noite os freis esquentam para jantar.

 

No refeitório afresco A Ultima Ceia, realizado por Matteo Rosselli  no ano de 1634

 

O complexo de Montesenario foi ampliado e enriquecido pela família Medici em meados do século 16, quando   ganhou um terraço panorâmico.

Vista do terraço realizado pela familia Medici

 

Uma das mais importantes capelas do convento é a  Capela da Aparição, provavelmente realizada pelos 7 Santos  a partir de 1241 . O altar è revestido de mármore  (obra de Ubaldo Farsetti), servo de Maria.

A Capela da Aparição, provavelmente realizada pelos 7 Santos após 1241 . O altar è revestido de marmore e obra Ubaldo Farsetti, servo de Maria.

No vão do altar, a bela Pietà em terracota, obra de Lottini, de 1629

No primeiro andar ficam as acomodações, escritórios e ateliês dos freis e a biblioteca.

O corredor do dormitório

 

No ateliê de frei Bruno. Todas as obras feitas com folhas de ouro, gema de ovo e vinho branco

 

O frei Bruno durante curso de iconografia (foto divulgação)

 

 

A Igreja 

A Igreja de Montesenario passou por várias reestruturações. Em 1621 foi inteiramente reconstruída e dedicada à Virgem Assunta.  Em abril de 1717, após outra alteração,  foi consagrada por Monsenhor Francesco Poggi.

No altar o crucifixo de Fernando Tacca (1619-1686)

 

Afresco na parte central da igreja realizado por Antonio Domenico Gabbiani, no século 18

 

Após a morte do último santo, os corpos dos sete fundadores foram colocados num mesmo túmulo e venerados em conjunto pelo povo. Os sete fundadores da Ordem dos Servitas foram canonizados pelo Papa Leão XIII em 1888. A Capela dos Sete Santos foi construída em 1933.

A Capela dos Sete Santos, que abriga os restos mortais dos sete Fundadores

 

A capela e o cemitério dos frades no bosque

 

Monte Senario no inverno, coberto de neve

 

O convento pode ser visitado uma vez por mês, apenas com agendamento.

Convento e Igreja de Montesenario

Via Montesenario, 3474/ A

Vaglia (Firenze)

Telefono: 055-40.64.41 / 055-40.64.42

Horários:

Missa :  às 7 h e 17h30 (durante o verão) e aos domingos e feriados 8, 10, 11h30 e 17h30
Monastério: 07.30 – 19.30

Bar: 9:00 – 12:00 / 15:00 – 18:30 (domingos e feriados não fecha após o almoço)
(fechado às sextas)

  • por gentileza contatar o local para se certificar dos horários de funcionamento